quinta-feira, 29 de novembro de 2012

De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1985)


É responsabilidade demais falar sobre esse, que é um dos meus filmes preferidos, provavelmente o que assisti mais vezes na vida, e que foi mais importante na minha formação como criança/adolescente nerd do que a série Star Wars. Deve ser por isso que demorei tanto para falar dele. Mas, tudo alguma hora chega, então vamos lá.

Esse filme saiu quando eu tinha 8 anos, e como os outros todos que estão em sua frente no meu ranking são filmes que vi depois, durante um tempo foi meu filme favorito (só desbancado em 1989 - adivinhem - por De Volta para o Futuro Parte 2). Para mim, era (é?) o filme perfeito: comédia, ação, viagem no tempo, tiradas interessantes, momentos emocionantes, suspense.... tudo sem exagero, equilibrado, e conspirando para um filme empolgante.



Mas o que exatamente o faz tão interessante? Para mim, a história. Um garoto adolescente normal, como tantos outros (e com quem tantos podem se identificar, portanto), que tem uma namorada, uma banda (que não parece que vai fazer sucesso), e é amigo do cientista maluco local, em uma cidadezinha chamada Hill Valley. Um dia, no entanto, esse cientista o chama para ajudar a testar a invenção do século: uma máquina do tempo instalada em um carro. Algumas coisas saem errado e, quando vê, Marty está no ano de 1955, conhece seus pais quando adolescentes e acaba interferindo no início do namoro dos dois. Agora tem que desfazer o que fez para não ameaçar sua própria existência.

E é aqui que está a grande diferença do filme: a viagem no tempo (que eu adoro) é um meio e não um fim. O principal se passa em 1955, onde o choque cultural entre Marty e a geração anterior, aliado à sua incredulidade em aceitar que seus pais, tão conservadores, tinham sido adolescentes como ele (a cena em que ele, assustado, vê sua mãe com decote, bebendo e ainda é beijado por ela é fantástica - mas foi o que fez a Disney recusar o filme, pois uma mãe beijando seu filho seria algo inimaginável em seus filmes) traz situações muito interessantes, e uma vontade real de saber o que vai acontecer (como ele resolve o problema dos pais, e se consegue voltar para seu próprio tempo). Como qualquer filme que envolve viagem no tempo, tem alguns (poucos) furos de roteiro e paradoxos, mas nada que comprometa a qualidade geral.


As piadinhas e paralelos entre as duas épocas no filme também são sensacionais. O jeito que o valentão da cidade trata o pai de Marty no passado e no presente, o tio presidiário  que "adora ficar no cercadinho" no passado, e, claro, ele se empolgando ao tocar Johnny B. Goode na década de 50, e o guitarrista da banda ao telefone: "Chuck, aqui é seu primo Marvin Berry. Lembra aquele som que você estava procurando? que tal isso?". Absolutamente genial.


Aliás, a trilha sonora também merece destaque. Além da já citada Johnny B. Goode, o tema do filme (que, se toca no carro, me faz acelerar automaticamente para chegar a 88 milhas por hora), e as demais músicas de Huey Lewis compõem uma ótima trilha. Os atores também estão ótimos, Michael J. Fox praticamente "virou" Marty McFly por boa parte de sua carreira (e, por estar filmando a série Caras e Caretas na época, só podia fazer suas cenas à noite), e Christopher Lloyd também é um Doc Brown memorável.

Provavelmente não consegui transparecer aqui toda a minha empolgação com esse filme. Mas, como acredito que quase todo mundo já viu, acho que não preciso convencer ninguém a assisti-lo. É outro daqueles filmes que você pode até não gostar, mas nesse caso eu é que vou gostar um pouco menos de você :-)

Nota: 9,3 (9o. colocado na minha lista de filmes favoritos)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Queda (Der Untergang, 2004)


Como eu já disse antes, o nazismo e a II Guerra Mundial estão entre os assuntos mais retratados pelo cinema. Não à toa, já que foi uma das épocas que definiram o século XX. Um pouco mais raro é o cinema alemão (e os alemães em geral) abordar o assunto, já que, apesar dos quase 70 anos que se passaram, o assunto ainda é de certo modo tabu na sociedade alemã. Muitos ainda se perguntam como foi possível que a sociedade inteira de seus antepassados pudesse fazer parte (ou pelo menos compactuar) de um dos maiores genocídios da história.

Só por isso esse A Queda já seria algo a se destacar. Com uma visão crua e direta focada nos últimos dias de vida de Hitler, já cercado em seu bunker de Berlim, e aceitando a realidade de uma guerra perdida, o filme traz justamente essas questões: "O que fez com que as pessoas acreditassem tão cegamente nesse homem e nessa causa? Até que ponto tinham ou não opção de se opor?"

Mas o filme, claro, tem outras qualidades. Baseado em um livro escrito por Traudl Junge, sua secretária particular, o filme se passa em menos de uma semana, entre o aniversário de 56 anos do "Führer" e o final da guerra na Alemanha, com seu suicídio e a rendição do país. E a caracterização desse período é assustadora de tão boa. O clima claustrofóbico, a tensão da derrota e da invasão dos russos, o dilema entre o medo de morrer e a devoção a Hitler, tudo contribui muito para um filme extremamente realista e muito bom. Mas talvez o principal fator de sucesso do filme seja a atuação de Bruno Ganz como Hitler. É assustador o quanto ele incorpora o papel, tendo estudado discursos e conversas privadas do líder alemão, além de comportamento de pacientes de Parkinson, e juntado isso tudo de maneira extremamente competente. A principal cena do filme, mostrando a reação dele ao descobrir que não tem como evitar a tomada de Berlim, colocando a culpa em seus generais, ficou tão famosa que já foi "legendada" com todos os assuntos possíveis, de mudança de time de jogador de futebol americano a discussões sobre Harry Potter. Um primor:


Mas um ponto que me agrada demais no filme é a "humanização" da figura de Hitler. A mente das pessoas trabalha melhor com conceitos extremos: uma pessoa é bonita ou feia, honesta ou corrupta, boa ou má (e até por isso, por exemplo, novelas são tão calcadas nessa dicotomia). Para nós, é de certo modo reconfortante achar que podemos identificar o mal absoluto, ou seja, que alguém capaz de fazer as maldades que Hitler fez  não seja considerado humano, assim como nós. Enxergá-lo como uma pessoa "comum", com amores, temores, emoções, virtudes (por que não?) e falhas quebra esse "conforto", mostrando que heróis e vilões também são como nós, são feitos do mesmo material, e mostram que nós também temos nossas virtudes e defeitos. E isso é fascinante.

Nota: 8,2 (48o. na minha lista de filmes favoritos)



PS: Fazia tempo que eu queria falar desse filme, por ser um filmaço. No entanto, os acontecimentos de ontem acabaram me incentivando a antecipar essa resenha. Fica aqui a "homenagem" ao time do Palmeiras, não apenas pelo nome do filme (A Queda), como também na cena seguinte (o pessoal é rápido...)


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Juno (2007)


Recentemente, é difícil um ano em que um filme considerado "independente" não faça um sucesso considerável. Filmes como Pequena Miss Sunshine, Juno, Guerra ao Terror e O Artista foram bem sucedidos comercialmente, e mostram que nem sempre a estrutura dos estúdios é totalmente necessária para que um filme fique conhecido (embora mesmo filmes independentes acabem contando com estruturas de divulgação dos estúdios), gerando filmes diferentes, com histórias que não ficam amarradas à aprovação de produtores profissionais, garantindo em tese uma maior liberdade de temas e abordagens.

Juno foi um dos primeiros a marcar essa tendência, contando a história de uma adolescente que fica grávida do melhor amigo de maneira inesperada, e tenta seguir sua vida, muitas vezes sendo a mais madura entre todos que a cercam. É um filme simpático, com uma personagem principal cativante (a ótima Ellen Page, que descobriu uma reserva de mercado de papeis de adolescente precoce em filmes onde a atriz precisa ser maior de idade), e muito pontuado justamente por esse estilo "indie", no tema, na abordagem, e até na trilha sonora.

Mas, na minha opinião, não é um filme tão bom. A impressão que dá é que diretor/roteirista se preocuparam tanto em serem descolados em cada cena, cada diálogo, cada música, que perderam a mão na dose. Não é dizer que filme de gravidez na adolescência precisa necessariamente ser um dramalhão, onde a garota sente que perdeu sua vida e é castigada pela imprudência, coisas do tipo. Mas também fica irreal se ela não está nem aí (ainda mais porque a personagem não é construída como alguém que "não está nem aí"), e está mais preocupada em novas bandas independentes ou em dar respostas espertinhas o suficiente para parecer uma personagem de Gilmore Girls.


O filme parece se passar em uma versão fofinha, otimista e descolada do universo real. Mesmo as cenas de conflitos, problemas e dificuldades parecem passar sem grandes traumas, como se aquilo de fato não tivesse acontecido, ou como se não fizessem diferença na história que o filme quer contar. Primeiro ela não quer ter o filho, depois quer, aí acha um casal adotivo, gosta deles, se envolve com o futuro pai adotivo sem nem perceber, indiretamente causa a separação do casal, entra em crise porque quer uma família para o filho, depois sai da crise, fica feliz, conversa com a amiga no ultra-hypado telefone de hamburger, dispensa o amigo, gosta do amigo, canta com o amigo... e nada disso parece fazer muito efeito na história nem na personagem, que meio que termina o filme como começou. Ah, mas as 18 citações ultra-indies por minuto estão lá, e é isso que importa. Para que se preocupar com o futuro se podemos falar de bandas semi-desconhecidas?



Outra coisa que não ajuda é a atuação de Michael Cera, que faz o papel do amigo de Juno. Com ele, a nova geração de atores que só fazem o papel de si mesmos continua bem representada (para orgulho dos patronos Nicholas Cage e Jack Nicholson). Apesar de ter melhorado um pouco em Scott Pilgrim Contra o Mundo (pelo menos a ponto de não estragar o filme), e sabendo que o papel exigia um pouco isso dele, o ator está muito apático, muito abaixo da interpretação de Ellen Page, ela sim uma ótima atriz, não apenas aqui como em filmes como MeninaMá.com e A Origem. Mas não apenas Michael Cera como todo o elenco de apoio parecem estar meio no automático, sem muita paixão nos papeis. E isso, para mim, tirou qualquer envolvimento que eu pudesse ter com a história.

Mas que profundidade dramática tem esse rapaz!

A iniciativa de filmes independentes para fugir das restrições dos grandes investidores para mim é ótima. Mas nem todo filme "mainstream" é necessariamente ruim, e nem todo "indie" é necessariamente ótimo. E nem todo mundo que fala de filmes é necessariamente coerente e inteligente :-)

Ainda bem. E viva a diversidade.

Nota: 6,0

sábado, 10 de novembro de 2012

A Onda (Die Welle, 2008)



Os alemães têm, como era de se esperar, uma relação conturbada com seu passado. Já falei sobre isso, inclusive, no texto sobre Adeus Lênin. Ao mesmo tempo em que têm certo medo do que eventuais manifestações de nacionalismo podem vir a causar, não gostam de se sentir responsáveis por algo que seus antepassados fizeram há mais de 70 anos. O início desse filme retrata bem isso: em uma semana de "projetos especiais" em uma escola alemã de ensino médio, Rainer, um professor novato e meio revolucionário (um dos clichês de filmes mais repetidos, por sinal), apesar de querer dar aula sobre anarquia, acaba sendo designado como professor de autocracia/ditadura. Por gostarem do professor, vários alunos se inscrevem no curso, mas logo se vê o desânimo quando um aluno diz algo como "vamos falar de nazismo de novo? não acredito que ainda achem que, depois de tudo o que aconteceu e de tanto que nos falam isso, essa geração ainda tem alguma chance de repetir a história", e todos meio que concordam.

A partir do ponto de vista dos alunos, Rainer propõe então algo diferente: que ele e seus alunos formem uma sociedade fechada, que define suas próprias regras, que todos devem seguir, e iniciando-se como uma democracia, já que os próprios alunos elegem seu líder no primeiro momento (o próprio Rainer). Aos poucos, o sentimento de unidade vai se formando entre eles, que decidem utilizar uniformes, ter um nome especial (A Onda), e criam logos, saudações e todo tipo de ferramenta de unidade (que, obviamente, acabam virando ferramentas de segregação). Inicialmente, alguns alunos que sempre se sentiram excluídos ficam mais felizes por finalmente se sentir parte de algo, embora poucos outros comecem a perceber os perigos dessa união. Claro, não é preciso ser adivinho para saber que o experimento dá errado.


Alguns pontos estranhos no roteiro acabam tornando o filme algo mais alegórico do que documental. Não fica muito claro qual era a verdadeira intenção de Rainer ao propor o experimento (eu não consigo ver um desfecho "pacífico" para ele), nem porque ele demora tanto para encerrá-lo com as evidências de que algo está errado. Parece que algumas coisas acontecem só para que a história chegue onde precisa chegar. Não chega a ser um defeito que incomode, já que o principal é a mensagem por trás: as pessoas são naturalmente atraídas por fazerem parte de um grupo, e tendem a hostilizar e, se possível, controlar os que não são parte dele. Não importa o quanto saibam que não deveriam, ou as consequências disso.

A alegoria acaba sendo o ponto forte do filme. Por mais que algumas situações soem forçadas, dá pra acreditar sinceramente que, em situações similares, pessoas (e até você mesmo, por que não?) teriam essas reações. Já disse em algum momento que gosto muito de filmes que examinam as pessoas e suas reações, como se fossem estudos antropológicos. Neste filme, por mais construídas que sejam as situações, esse aspecto de estudo da mente coletiva é muito interessante, especialmente quando se chega a extremos. E, claro, o filme mostra que, por mais que tenham estudado a vida toda os efeitos de um regime autoritário, os alunos "caem na armadilha" sem pensar muito.

Concorde ou não com a mensagem, sempre é interessante ver filmes que fazem pensar, especialmente quando analisam e propõem discussões de como somos enquanto pessoas. Mesmo que a conclusão não seja a melhor possível...

Nota: 7,5

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Artista (The Artist, 2012)


Quem lê esse blog com alguma frequência já deve ter me visto falar o quanto gosto de soluções inovadoras no cinema, jeitos diferentes de contar uma história, seja no roteiro, edição, fotografia, formato... sabe também o quanto eu aprecio o cinema clássico bem feito, no sentido de capturar através do filme o pensamento, cultura e costumes de uma época diferente, contados diretamente por quem os estava vivendo.

Com isso em mente, e com todo o "hype" atingido por O Artista desde a época da indicação para o Oscar, finalmente consegui parar e assisti-lo essa semana. Não sei se todos sabem, mas o diretor Michel Hazanavicius utiliza o filme mudo justamente para contar a história de George Valentin, um ator famoso e consagrado da época silenciosa que sofre com o advento do cinema falado e cai em desgraça, enquanto Peppy Miller, uma dançarina que começou sua carreira em um dos filmes de Valentim, desponta como a nova estrela do novo cinema.

A ideia é muito boa, um tipo de "metalinguagem", em que o mundo silencioso do protagonista em certos momentos vai sendo invadido pelos sons, aos quais ele resiste, insistindo em achar que fechar-se em sua realidade muda será o suficiente para manter seu sucesso. Foi uma ideia muito ousada e corajosa do diretor criar um filme mudo como maneira de contar essa história, recriando um gênero que estava morto de uma maneira, digamos, "modernizada".





Mas, para mim, faltou um detalhe crítico: uma boa história. É até covardia tentar comparar O Artista com outros filmes que tratam do mesmo tema (a transição do cinema mudo para o falado), como os clássicos Cantando na Chuva ou Crepúsculo dos Deuses (embora a própria abordagem do filme, se "vestindo" de filme clássico, tenda a forçar essa comparação), mas mesmo em relação a filmes contemporâneos, percebe-se que toda a ousadia utilizada na escolha do formato não aparece na história em si, que nada mais é do que uma sucessão de situações previsíveis, mostrando o sucesso, a derrocada, o desespero e a redenção do ator principal, ajudado pela bondosa mocinha da história. Sinceramente, nada de novo aí, a não ser a "capa" retrô. Muito pouco, na minha opinião.

A atuação de Jean Dujardin (premiada com o Oscar de Melhor Ator) também não ajuda muito. Enquanto assistia ao filme, inicialmente me pareceu que ele forçava a barra para se parecer com os atores do cinema mudo da década de 20 (canastrões ao extremo, quase por necessidade, já que a expressão corporal era vital). Mas ao longo do filme, para mim ficou claro que ele se tornou "escravo" das emoções fáceis, sem profundidade. É mais difícil se expressar sem falar? Sem dúvida, mas existem excelentes filmes mudos, e, afinal, ninguém obrigou diretor e atores a fazer o projeto dessa maneira. Lembrei-me então das aparições do ator no Oscar, e para mim ficou claro: estamos diante do Roberto Benigni do século XXI, que parece pitoresco a uma primeira vista, mas torna-se cansativo logo depois. Não acho que ele vá se destacar no futuro.





No mais, todos os clichês de Hollywood (e até alguns de novela da Globo) estão lá: a mocinha de origem humilde que sobe na vida mas continua com bom coração; o empresário inescrupuloso que vira as costas para o mocinho quando ele mais precisa; o ator orgulhoso que prefere desperdiçar sua vida a recomeçar de baixo; e até (como eu odeio!) o animal engraçadinho que rouba a cena e salva seu dono na hora mais importante. Ninguém merece...

Claro que é esperar demais coerência histórica e relevância cultural do Oscar, mas acho sinceramente que aqui ganhou a forma e não o conteúdo. Assisti poucos dos filmes que concorriam ao prêmio desse ano, mas claramente tinha coisa muito melhor. É uma pena, pois sou um entusiasta de experiências e novas maneiras de se contar histórias, e, queira ou não, esse filme levou muita gente a fazer algo inimaginável: ir ao cinema para ver um filme mudo em preto e branco. Só espero que a experiência não tenha afugentado esses espectadores....

Nota: 5,0

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Lista de Schindler (Schindler´s List, 1993)


A II Guerra Mundial, especialmente o nazismo, está provavelmente entre os assuntos mais retratados no cinema, de todas as maneiras imagináveis. Desde um foco histórico, retratando os grandes atores do conflito (como em A Queda), seja com foco nos conflitos (A Ponte do Rio Kwai, ou as minisséries The Pacific e Band of Brothers), ou até com um tanto de realismo fantástico (Bastardos Inglórios). Esse filme, que marcou a consagração e o reconhecimento definitivos de Steven Spielberg (pelo menos em termos de Oscars), conta uma história sob o ponto de vista dos judeus, e de um industrial alemão que, com o desenrolar da guerra, percebe o mal que está sendo impetrado e tenta fazer algo para minimizá-lo.

A história é essa mesmo: ao se mudar para a Polônia durante a guerra para aproveitar a mão de obra barata dos judeus para montar uma fábrica de armamentos, o empresário Oskar Schindler (junto com seu contador judeu), começa timidamente a salvar alguns judeus sem condições de trabalho, alegando que fazem parte de sua força de trabalho e evitando que sejam mandados para campos de concentração. No momento em que o gueto onde sua fábrica está é fechado, e todos os judeus serão enviados para Auschwitz, ele utiliza sua fortuna e influência para garantir salvar o máximo possível de pessoas.


Spielberg intensifica ainda mais nesse filme a carga dramática que é sua característica, em um projeto extremamente importante sob o ponto de vista pessoal, uma vez que é descendente de judeus. Isso de certa forma é esperado, até. Um ponto mais surpreendente são as atuações. Não porque os atores sejam ruins ou venham de más atuações, mas porque entregam performances muito intensas, e ótimas, contribuindo demais para a carga dramática do filme. Ben Kingsley é um excelente ator e aqui prova isso mais uma vez. Liam Neeson (na época, praticamente um desconhecido, tendo como único papel de destaque até então o filme Darkman - Vingança sem Rosto) tem a atuação de sua vida como Oskar Schindler, sendo responsável por  boa parte do sucesso do filme (e começa a pavimentar o caminho para seu sucesso no papel de mentor - como descrito com bastante humor aqui - afinal ensinar Obi-Wan Kenobi, Darth Vader e Batman não é para qualquer um). Mas a alma do filme, no papel do diretor nazista do gueto judaico Amon Goeth, é Ralph Fiennes (também desconhecido na época). Sua imersão no personagem é impressionante, e ele encarna fielmente um personagem psicopata, que faz as maiores atrocidades sem demonstrar emoções, e ao mesmo tempo mostrando desequilíbrio em alguns momentos. Só quem nunca viu esse filme acha que Voldemort, de Harry Potter, é seu vilão mais assustador.



No mais, a tradicional competência de Spielberg, em termos de roteiro, fotografia (o preto e branco com alguns toques de cor chega a ser comovente), trilha sonora, compondo um filme tecnicamente próximo da perfeição. As cenas do holocausto são muito bem feitas, realistas e passam uma emoção enorme, dando rostos aos números infames de que ouvimos falar quando se diz sobre a guerra. Mas não é isso o que me fez ter vontade de escrever sobre esse filme agora.


Assisti esse filme pela primeira vez no cinema, no lançamento (ah, a época de escola), algo como 18 anos atrás. Adorei, me impressionei demais, mas nunca mais havia visto novamente. Conforme até comentei no Facebook outro dia, peguei o filme quase por acaso começando no Telecine Cult. Resolvi assistir, e logo percebi que, em certos casos como esse, quem você é faz uma diferença enorme na visão e no entendimento que tem do filme. Não que eu fosse um completo idiota aos 17 anos, mas ter vivido um monte de coisas a mais, ser pai, e até ter opiniões mais firmes sobre o mundo e sobre relações e injustiças fazem uma enorme diferença na mensagem que você captura do filme. Inclusive, nesse caso, abri uma exceção: apesar de meu ranking de filmes considerar sempre a nota da primeira vez que assisti, fui na planilha e aumentei a nota que havia dado originalmente. Mereceu, e muito. Para mim foi quase outro filme.

É um filme sublime, e entendo que não é nada que falo aqui que fará alguém mudar sua opinião ou gostar mais do filme. O que eu posso dizer aqui é: às vezes existem momentos ou fases mais certas para apreciarmos certos filmes. Percebi isso da melhor maneira possível.

Nota: 8,6 (29o. colocado na minha lista de filmes favoritos)

domingo, 14 de outubro de 2012

O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back, 1980)


A piada seria melhor se fosse O Retorno de Jedi, mas resolvi continuar a série Star Wars com O Império Contra-Ataca depois de bastante tempo sem postar aqui no blog de filmes. E como eu adoro a série, e especialmente esse filme, não será difícil retomar a produção aqui.

Sequências de filmes, e trilogias, são um fenômeno relativamente recente na história do cinema. Segundo pesquisei, a primeira sequência registrada foi Fall of a Nation, de 1916, sequência direta do controverso Birth of a Nation, de 1915. Após isso, são poucos registros até 1974, quando O Poderoso Chefão 2 se tornou a primeira continuação a vencer o Oscar de Melhor Filme. Trilogias são ainda mais raras nos primeiros anos do cinema: há registro de 3 livros da série Frankenstein, que contavam um mesmo arco de história, sendo adaptados para o cinema na década de 30. No entanto, a primeira trilogia de sucesso foi mesmo Star Wars. Outra inovação de George Lucas no cinema, goste ou não.

Assim, trilogias passam a ser cada vez mais importantes no cinema atual, às vezes até de maneira exagerada.  Com isso, podemos analisar um pouco como elas se estruturam: em geral, o primeiro filme é feito quando ainda não se sabe que vai haver uma trilogia. Portanto, tem início, meio e fim definidos. O último filme encerra a história, então também é tranquilo. O problema em geral é o segundo filme. Não tem que apresentar os personagens, e em geral também não tem um fim propriamente dito. Isso faz com que os "filmes do meio" acabem perdendo atratividade.

Mas esse não é o caso de O Império Contra-Ataca. George Lucas, naquela época, sabia que seu forte não era a direção, e portanto chamou um diretor mais experiente, Irvin Kershner, para o segundo filme da saga. Também ainda não tinha a pretensão de fazer um filme infantil, portanto (apesar de Yoda, um personagem mais "muppetizado") não aliviou a história, colocando por exemplo Ewoks ou um (argh) Jar Jar Binks da vida.

Com isso, o filme pega a história de Star Wars e a leva para outro patamar, muito mais profundo e sombrio. Darth Vader aqui não é mais apenas um vilão de capacete engraçado, toda a estrutura de poder do Império (e a dos rebeldes também) é caracterizada, e a ameaça torna-se muito mais concreta. O "contra-ataque" do Império é coordenado e eficaz, culminando com algumas das passagens mais emblemáticas de toda a série: o congelamento de Han Solo em carbonite ("Eu te amo" / "Eu sei"), e, claro, a cena mais icônica de todas: a esperada luta entre Darth Vader e Luke Skywalker.

I am your father! Join me, and we´ll rule the galaxy as father and son.

E essa cena é exatamente a razão pela qual, um dia, quando eu for mostrar os filmes para minha filha, vou mostrá-los como devem ser vistos, fora da ordem cronológica, com a trilogia clássica primeiro (e se der tempo, depois a trilogia mais nova). Que graça tem ver essa cena sabendo que Darth Vader já foi um menino cabeçudo, já foi um ator ruim, já teve midichlorians, já namorou a Natalie Portman e já foi burro de matar o Samuel L. Jackson? (sim, com spoilers. quem não viu esse filme ainda, gente?)

E é assim, da maneira mais sombria possível, com Han Solo preso, Luke Skywalker sem mão, e com toda a esperança perdida, que o filme acaba. Melhor impossível, certo? Não, pode ser ainda melhor: basta incluir o tema de vilão mais épico da história do cinema, a Marcha Imperial.



How cool is that? Não tem como você ser um vilão melhor que Darth Vader. E não tem como uma continuação ser melhor que O Império Contra Ataca. Pena que depois disso, George Lucas meio que desaprendeu....

Nota: 9,7 (3o na minha lista de filmes favoritos)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Highlander (1986)


Um grupo de imortais, que foram nascendo ao longo dos séculos, destinados a um confronto final em uma terra distante. Um escocês nascido na Idade Média, que percebe que é um deles, e ao mesmo tempo prepara-se para este confronto e vive sua vida, sabendo que, enquanto todos à sua volta nascem, envelhecem e morrem, ele passará os séculos inalterado.

Esse é outro dos clássicos da Globo dos anos 80. Não fez grande sucesso quando lançado, mas foi virando cult ao longo dos anos (e das reprises), e é mais um daqueles filmes que acabou ficando na memória coletiva dessa geração. Conta a história de Connor MacLeod (Christopher Lambert), que descobre ser um imortal, quando é atacado por um ferimento mortal e... bem, não morre.  Banido de sua vila, ele para de envelhecer e percebe que não é uma pessoa normal. Aos poucos ele vai descobrindo que, como ele, há alguns outros imortais, que só podem ser mortos tendo suas cabeças cortadas por um outro imortal, e que, em um ponto no futuro, os poucos que sobrarem se encontrarão para duelarem até que sobre apenas um, que receberá um grande prêmio e a imortalidade definitiva ("There can be only one!!!).

(um dado importante: ao contrário do que pensam algumas mães de jogadores de futebol, Highlander não apenas não é o nome dele - e sim uma referência às Highlands, região montanhosa da Escócia de onde ele se origina -, mas também não se escreve "Railander"... hehehe)

Além da premissa, a maneira de contar a história também é bem interessante, alternando épocas antigas (como a Idade Média), onde aos poucos vai entendendo o que se passa, e aprende a lutar com um mentor também imortal (Sean Connery), com os dias atuais, onde aguarda o confronto final enquanto relembra sua longa vida, na qual vive o conflito de não envelhecer junto aos que ama, enquanto assume de vez em quando uma nova identidade para não ser descoberto.

Claro que há pontos ruins no filme também. Tirando o mito Sean Connery, os atores não são grande coisa (Christoper Lambert surgia como uma promessa nessa época, que nunca se concretizou propriamente - era apenas seu segundo filme em inglês, língua que havia aprendido há pouco tempo), os efeitos especiais também não são fantásticos. Nada que tire a graça e o interesse sobre o filme.

Mas ainda falta falar do que, na minha opinião, é a principal razão do filme ser o que é:





Sua trilha sonora. Um dos poucos casos que conheço de que a trilha inteira do filme é feita pela mesma banda (excluindo, claro, compositores de "scores" instrumentais como Ennio Morricone ou Alan Silvestri), e ainda com o detalhe de que eles compuseram a trilha com o filme já quase pronto, e portanto puderam se inspirar na história e nas imagens para a composição. Diz-se que eles tinham sido contratados apenas para uma música, mas quando viram o filme, cada um deles passou a trabalhar inspirados nas cenas que mais gostaram. Brian May compôs "Who Wants to Live Forever" no táxi voltando para o hotel, e Roger Taylor usou a frase "It´s a Kind of Magic" como base para a tão famosa música, que toca nos créditos finais. E tudo isso com a genialidade de Freedie Mercury nas interpretações. Não tinha como dar errado. Assim como já falei sobre Mamma Mia, com essa trilha o filme nem precisava ser muito bom para ser memorável. E ele é muito bom.

Nota: 7,0

PS: Apenas não esqueça de uma coisa: nunca, mas NUNCA, sequer considere as continuações. Assista apenas ao primeiro. Sério.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de tus Ojos, 2009)


Já que parte da culpa de eu ter sumido por tanto tempo do blog foi o fato de ter viajado para a Argentina, achei justo que o texto de retorno fosse sobre um filme argentino, até porque nunca falei sobre nenhum aqui. Não vi muitos; assim, escolhi o mais recente (e, na minha opinião, o melhor) dentre os que vi: O Segredo dos Seus Olhos (era esse ou Evita...).

Ricardo Darín (o Wagner Moura deles, porém mais onipresente, se é que isso é possível) faz o papel de um investigador veterano, aposentado, que resolve escrever um livro sobre um dos primeiros casos em que se envolveu, e que permanece não resolvido. Ao revisitar as pessoas envolvidas na investigação da época, pode acabar encontrando novos fatos relativos ao caso, e ter que enfrentar fantasmas de seu próprio passado que haviam sido deixados de lado.

O filme é excelente, algo passional (afinal, é um filme latino), mas sem os exageros do cinema espanhol. Mistura bem os dias de hoje com as passagens em flashback, e a investigação do caso com a própria vida pessoal do protagonista, que ao mesmo tempo que investiga o assassinato, envolve-se com sua chefe casada (Soledad Villamil). Mas o que impressiona mais é a maturidade do roteiro, além do balanço perfeito entre uma história um tanto universal com aspectos da vida na Argentina.



Aqui cabe uma comparação: por serem vizinhos, e por terem passado um pouco pelas mesmas situações ao longo de sua história (e até pela rivalidade, por que não?), Brasil e Argentina tendem a ser comparados em quase tudo, incluindo futebol, política, desenvolvimento... pois bem, quando confrontados em termos de produção cinematográfica, ao menos nos últimos anos, não é novidade para ninguém que estamos muito atrás. Ultimamente, no Brasil, existem basicamente 3 tipos de filmes: aqueles estilo "Globo" (Se Eu Fosse Você, Muita Calma Nessa Hora), que são basicamente versões mais longas de programas ruins; os ultra-mega-alternativos-cabeça (Paraísos Artificiais, Apenas o Fim), cheios de maneirismos de escola de cinema e com pouca "substância"; e os clássicos favela-movies, que até vieram de bons exemplares (Central do Brasil, Cidade de Deus) mas que hoje mais parecem uma competição de quem mostra mais pobreza, como se o cinema tivesse uma dívida a pagar com o povo brasileiro, mostrando seus sofrimentos.

Voltando ao assunto, essa para mim é a grande vantagem do cinema argentino frente ao brasileiro. Seus filmes, como eu disse antes, são mais universais (só brasileiros - e nem todos - entendem as piadas de Cilada.com, por exemplo), mas sem esquecer o toque local. Além disso, tratam de temas mais variados, como Nove Rainhas (comédia sobre uma quadrilha de ladrões), O Filho da Noiva (drama sobre o envelhecimento), e tantos outros. Ou seja, foge do "veja os problemas de nosso país, precisamos fazer alguma coisa" que tanto vemos por aqui.

Faltou dizer que o filme é ótimo, bem desenvolvido, com uma história que prende a atenção (e um "plot-twist" no final daqueles de deixar a boca aberta), e que dosa bem o crime investigado, os dramas pessoais, e a situação no país durante a ditadura, sem se tornar monotemático ou desinteressante. As atuações são ótimas, assim como o roteiro e a fotografia. Um de vários filmes argentinos que vale a pena ver.


Nota: 8,4 (39o na minha lista de filmes favoritos)

domingo, 2 de setembro de 2012

Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune, 1902)


O post de hoje é mais uma homenagem que uma crítica. Li na internet que hoje faz "apenas" 110 anos que esse filme foi lançado. É considerada a primeira ficção científica da história do cinema, criada pelo escritor visionário francês Georges Meliès.

É impressionante que um filme desse tenha sido criado apenas 7 anos depois da data considerada como a invenção do cinema. Em 1895, aconteceu o que foi considerada a primeira sessão de cinema do mundo, com a apresentação do filme Chegada do Trem à Estação no "cinematógrafo" dos irmãos Lumière. Até então, as únicas tentativas bem-sucedidas de apresentação de imagens em movimento eram praticamente individuais, e apenas com o cinematógrafo foi possível mostrar um filme a uma audiência maior (cerca de 30 pessoas na primeira sessão).

Os primeiros filmes eram essencialmente "documentários", ou seja, filmagens de cenas cotidianas. Meliès foi um dos primeiros a de fato criar roteiros, utilizando recursos como trucagem, sobreposição de imagens e efeitos visuais. Viagem à Lua é um de seus primeiros filmes. Com apenas 15 minutos (o conceito de "longa-metragem" ainda não era o mesmo de hoje - inclusive, por se tratar de um filme mudo, a duração pode variar de acordo com a velocidade de projeção), o filme mostra um grupo de "cientistas" (que parecem mais bruxos) viajando para a Lua em um foguete disparado por um canhão. Chegando lá (na cena mais conhecida do filme, onde o foguete aterrissa no "olho" da Lua), os cientistas encontram uma civilização que lá vive (os selenitas), são aprisionados, fogem e voltam à Terra, onde são recebidos com festa.


A mistura de ficção e fantasia é fascinante. Ainda "descobrindo" a nova arte, Meliès se livra das amarras da realidade, mostrando os corpos celestes humanizados, habitantes da Lua, além das cenas do lançamento serem muito inventivas. É curioso imaginar como os pioneiros do cinema imaginavam e criavam, sem os "padrões" estarem estabelecidos. Muitos anos antes do cinema colorido ter sido inventado, esse filme foi mostrado colorido, sendo que cada um dos mais de 13 mil fotogramas foi pintado à mão (por sinal, essa versão colorida foi dada como perdida até 1993, quando uma cópia em estado quase de decomposição foi achada na Espanha. Foi restaurada e mostrada no Festival de Cannes de 2011).



O filme completo pode ser visto abaixo. É um documento de uma época, do nascimento de uma arte, e merece muito ser visto:


Como eu disse, essa não é uma crítica e sim uma homenagem. Portanto, não faz sentido falar em minha nota para esse filme, já que ele nem pode ser comparado aos filmes que normalmente avalio aqui. O que vale mesmo é esse registro, e acho muito notável o quão rápida é a evolução do cinema, que pode nos dar uma jóia dessas em apenas 7 anos, e ter chegado onde chegou em apenas 110. E esse blog (especialmente esse post) é um reconhecimento a essa grandeza.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Perfume de Mulher (Scent of a Woman, 1992)


Voltando aos anos 90, um dos filmes aos quais ouço mais elogios. É a história de um garoto (Chris O´Donnell), que apesar de estudar em um colégio abastado (com bolsa), passa por dificuldades financeiras e é contratado para cuidar de um militar cego e aposentado (Al Pacino), tentando ganhar algum dinheiro, enquanto é pressionado pela direção da escola a entregar alguns colegas que aplicaram um trote. Considerado uma pessoa difícil até pela família, que viaja para o feriado de Thanksgiving e o deixa aos cuidados de alguém, o Ten-Cel. Slade se recusa a ficar em casa conforme previsto, e faz com que Charlie (o garoto) o leve para Manhattan. No processo, o que iniciou como um relacionamento forçado e distante vai se tornando uma amizade, com Slade atuando como um improvável mentor junto a Charlie.

Eu gosto do filme. Mas provavelmente não tanto quanto a média. Não há como negar a estupenda atuação de Al Pacino (uma das suas últimas realmente boas, antes de bombas como S1m0ne), pela qual inclusive recebeu o Oscar de Melhor Ator. Sua interpretação do militar cego é impressionante e soa extremamente realista. Dá para ver o quanto ele se entrega ao papel. No entanto, em uma análise fria, o filme vai muito pouco além disso. Claro que já falei aqui sobre filmes que se apóiam em uma única cena (Letra e Música) ou mesmo em uma grande atuação (Piaf), mas para mim há uma diferença. Me permitam tentar explicá-la usando uma metáfora futebolística (se o ex-presidente pode, eu também posso).

Até o Al Pacino gosta de futebol.

Imagine um time com um grande craque e 10 jogadores medianos, comuns. Esse time possivelmente vai ganhar alguns (ou muitos) jogos. Mas, em geral, duas coisas podem acontecer: o craque carrega o time nas costas sozinho, ou então seu jogo faz com que os demais jogadores acabem se superando e jogando mais do que sabiam. Acho que já está claro onde quero chegar... Só para ficar em Al Pacino, em O Advogado do Diabo, outra fantástica atuação sua, ele puxa a qualidade geral do filme para cima. E olha que estamos falando de Keanu Reeves e toda a sua expressividade. A história, as atuações, o clima do filme se beneficiam de sua presença.

Para mim, não é o que acontece em Perfume de Mulher. Continuando um pouco mais com o futebol, é como se o time todo jogasse em função só do craque. Soa como se o filme fosse apenas uma ferramenta para mostrar a genialidade de Pacino. E, não me levem a mal, funciona muito bem, e o resultado geral é bom. Em muitos momentos seu brilho torna fantástico o que estamos assistindo. Mas, para que fosse um filme ótimo, acho que falta um pouco mais de unidade entre suas partes (convenhamos, Chris O´Donnell tem como "destaque" em sua carreira, além desse filme, 2 participações como Robin em filmes do Joel Schumacher. É bem pouco). E, embora o time de um só craque ganhe jogos e tenha seus brilhos, pode sentir dificuldade quando comparado a um que tenha como força o conjunto, sem nenhum destaque individual (tá aí a semifinal da Libertadores entre Santos x Corinthians que não me deixa mentir).

Tá bom, tá bom, chega de futebol.

Com tudo isso, como eu disse, eu gosto do filme, embora o ache meio Sociedade dos Poetas Mortos demais, se apoiando sobre uma grande atuação e um senso meio pretensioso de profundidade filosófica para parecer mais do que é. No entanto, se assistido como um grande monólogo de um grande ator, é uma experiência pra lá de prazerosa.


Nota: 7,0

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (Lord of the Rings: Fellowship of the Ring, 2001)


Fiquei na dúvida se falava sobre O Senhor dos Anéis como uma coisa só, ou dividia, com um post sobre cada um dos filmes. Acabei decidindo pela segunda opção, por achar que tenho assunto suficiente para 3 posts, e além disso ganho tempo para rever todos (tarefa não trivial, já que, nas versões estendidas, que quero assistir, a soma dos 3 filmes é de mais de 12 horas...). Claro que por conta disso, os 3 posts obviamente não serão consecutivos (nem sei se minha escassa audiência aguenta 3 posts seguidos sobre a mesma série de filmes....).

Durante muitos anos, O Senhor dos Anéis foi considerada uma série de livros impossível de ser adaptada para o cinema, por sua complexidade, grandiosidade de cenários, número de personagens, e principalmente, pela já conhecida dificuldade de se transportar histórias entre mídias diferentes, no caso dos livros para o cinema. O Senhor dos Anéis, o livro, envolvia raças diferentes, com línguas diferentes, e uma história que remonta a diversas eras, com um nível de detalhes trazido por Tolkien que o tornava virtualmente "inadaptável".

A Sociedade do Anel, o primeiro filme da série, começa a mostrar, se não o melhor, mas um dos melhores caminhos para conseguir transportar uma história de tal dificuldade para o cinema. A calma para desenvolver a história é impressionante. Um dos principais problemas de se adaptar um livro é a como montar o roteiro de maneira a condensar a história porém a mantendo compreensível, evitando filmes que só são entendidos por quem leu o livro, fenômeno tão comum. Uma introdução bem feita, apresentação de personagens competente e a evolução da história em um ritmo compreensível ajudam muito. E daí que o filme fica com mais de 3 horas? O público de filmes de fantasia, em geral, quer ver o máximo possível de suas histórias favoritas, e essa noção mais recente de que a audiência não tem paciência para filmes longos é risível (e deu origem a aberrações como a divisão de filmes visando mais lucro, como em Harry Potter, Crepúsculo e, infelizmente, O Hobbit).



Destaquei essa calma em desenvolver a história como um dos pontos principais que tornam A Sociedade do Anel um ótimo filme, e uma ótima adaptação, porque não vejo muita gente falando sobre isso, mas obviamente não é só isso que garante o sucesso do filme. As atuações são muito seguras (apenas acho Christopher Lee como Saruman um pouco caricato demais, mas Ian McKellen, por exemplo, é espetacular), a fotografia é absolutamente fantástica (especialmente em HD), e os efeitos visuais são absolutamente orgânicos, contribuindo com a história e não soando forçados. Ainda não há aqui as cenas grandiosas de batalha que veremos nos 2 filmes seguintes, mas algumas cenas (como a de Gandalf lutando contra o Balrog) são extremamente bem feitas. Da história não há nem o que falar, se baseando em um livro fantástico e sendo muito bem adaptada, como disse acima.

É um filme para todos? Obviamente não (minha mulher, que saiu no meio do cinema, que o diga), até porque é um gênero que atinge um público bem específico, mas tem alguns méritos inegáveis: trouxe o livro para todo um novo público (eu mesmo, que ouvi meu irmão falar dele por toda minha adolescência, só parei para lê-lo às vésperas do lançamento do primeiro filme), estabeleceu um padrão de qualidade difícil de ser batido para adaptações, e ainda criou uma saga belíssima, que deve figurar durante décadas com destaque nas listas de filmes mais importantes do cinema. Mais sobre a saga, nos futuros (e ainda sem data) posts sobre As Duas Torres e O Retorno do Rei.

Nota: 8,0

PS: Não podia deixar de citar aqui algo extremamente improvável, mas divertidíssimo. Não sou fã de funk, embora ache criativo, mas o vídeo abaixo é impagável. Afinal, não é todo dia que se vê um funk baseado em um filme como O Senhor dos Anéis. A letra é muito inteligente e pode ser lida aqui. Vale gastar uns 3 minutos e ver:




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Grande Dragão Branco (Bloodsport, 1988)


Existiu uma época muito distante na qual toda uma geração de crianças tinha uma gama de opções infinitamente menor do que hoje para se distrair em casa. Não havia internet, poucos tinham videogame ou videocassete, e especialmente aqueles que moravam em apartamento e não eram muito de sair para brincar na rua (como eu) contavam com exatos 7 canais de TV para escolher quando sentavam à tarde, após a aula, na frente de seu televisor. Dentre essas opções, programas voltados à senhora dona de casa, Chaves (sim, já existia), outros programas em geral desinteressantes (desenho animado, só de manhã), e, por fim, aquela que era responsável por dar alguma variedade a essa rotina das tardes após a lição de casa: a Sessão da Tarde.

Lendas dizem que ela ainda existe, mas claro que sem um pingo da relevância que já teve. Para essa geração de crianças, a Sessão da Tarde era o principal contato com a gama de filmes que o cinema nos apresentava a cada ano (em geral, uns 3 ou 4 anos depois, mas isso não vem ao caso). Verdadeiros clássicos da sétima arte dublada, como Curtindo a Vida Adoidado, Bingo - Esperto pra Cachorro, Remo - Desarmado e Perigoso, Loucademia de Polícia e tantos outros viraram verdadeiros ícones dessa geração sendo repetidos exaustivamente nas tardes da TV, logo após o Vale a Pena Ver de Novo (sim, algumas coisas nunca mudam).

O Grande Dragão Branco (que tradução, hein?) era outro desses ícones da TV do final dos anos 80. Com um Jean-Claude Van Damme recém alçado ao "estrelato" por Retroceder Nunca, Render-se Jamais (que por sua vez, passava nas noites da Bandeirantes), o filme conta a história "baseada em fatos reais" de Frank Dux, militar americano treinado em artes marciais desde sua infância (por um daqueles velhinhos japoneses mais clichês impossível), que resolve disputar (e vencer) o "Kumite", campeonato ilegal de artes marciais variadas disputado no oriente (não existia ainda o MMA), conhecido por não ter regras e por sua violência exagerada, tendo causado inclusive algumas mortes em sua história.

(aqui cabe um parêntese para falar sobre duas das maiores instituições dos filmes na TV dos anos 80. A primeira era o "baseado em fatos reais", o que no caso desse filme significa provavelmente que existiu um Frank Dux, que era um militar americano e..., bem, tinha dois olhos e uma boca. Esse era um expediente muito utilizado naqueles dramalhões do Supercine, por exemplo, para dar alguma "credibilidade" à choradeira que você via em cena. A segunda, o "pela primeira vez na televisão", utilizado especialmente pelo SBT para aqueles filmes que você já tinha cansado de ver. Silvão Santos chegou ao cúmulo de mudar o nome de um filme só para poder continuar dizendo que era inédito)



Era o "auge" dos filmes de artes marciais. Depois da morte de Bruce Lee nos anos 70, os filmes de luta acabaram migrando para o modelo do "super-soldado" que acaba sozinho com todo um exército inimigo (filmes do Stallone, Schwarzennegger, Chuck Norris e outros). Com o relativo esgotamento desse modelo, e com o surgimento de um tipo diferente de "atores", como Van Damme, e mais tarde Steven Seagal, o foco dos filmes voltou a ser a luta corporal (chegando ao extremo com Karate Kid...), e filmes de "torneios de artes marciais" surgiram às toneladas (seguido de jogos, como Street Fighter e Mortal Kombat, que por sua vez acabaram também virando filmes...).

Não vou ousar dizer que o filme é ótimo. Não, não é. Mas é divertido, especialmente se você entra no clima. Van Damme está canastrão ao extremo. As situações são bizarras. Mesmo as cenas de luta são inverossímeis. O vilão é extramente caricato (mas muito divertido, suas expressões são ótimas). Aliás, uma das cenas mais emblemáticas do filme é quando, para provar que é mesmo discípulo de seu mestre, Frank Dux desfere um (impossível) golpe que quebra (ou melhor, explode) apenas o tijolo de baixo de uma pilha de uns cinco. Todos ficam impressionados, menos o vilão (claro), que solta a frase que virou clássico: "Tudo bem, mas...

...TIJOLO NÃO REVIDA!!!!"

E depois, a tradicional quase morte do grande amigo do herói nas mãos do vilão, seguida de ameaças, trapaças e da também obrigatória vitória redentora do herói ao final. Tudo regado a várias repetições do movimento registrado de Van Damme: a abertura de pernas (espacate), até na cozinha pra não encostar no chão, que está eletrificado (ou pode ser que isso seja em outro filme e eu me confundi. São todos iguais...)

Nada como um alongamento leve a 300m de altura

Não sei se tenho muito mais o que dizer. Se você tem mais de 30 anos, provavelmente assistiu. Se não tem, talvez nem se interesse agora. Mas o fato é que era muito divertido, especialmente inserido na cultura da época. Por vezes fico pensando o que será dessa geração que tem centenas de canais, além de TV on demand, youtube, etc.... Precisamos também das coisas ruins para formar nosso caráter, oras!

Nota: 5,0

PS: Se você ficou curioso de ver ou rever o filme, mas não tem mais tempo de assistir Sessão da Tarde, seus problemas acabaram! O filme está disponível na íntegra no youtube, e (YEAH!) com a dublagem tosca original. Pegue sua pipoca, sente em frente ao seu computador e aproveite:




terça-feira, 14 de agosto de 2012

Lua de Fel (Bitter Moon, 1992)


Há atores que se transformam quase em "gêneros cinematográficos". São aqueles cuja presença em um filme em geral já diz tudo o que você precisava saber sobre o filme: o tipo, gênero, história, tom, e algumas vezes até o final da história podem muitas vezes ser inferidos apenas olhando quem participa dele. Hugh Grant é um exemplo (até já falei sobre isso aqui), Meg Ryan é outro (e por isso achei Em Carne Viva tão surpreendente), além, é claro, de brucutus como Stallone e Schwarzenegger (tirando desvios como Um Tira no Jardim de Infância).

Mas não é Hugh Grant o caso em discussão aqui (ele está nesse filme, mas apesar de seu papel ser meio que o de sempre, a história é bem diferente das quais estamos acostumados a vê-lo). Lua de Fel se encaixa em um tipo de filme geralmente tenso, abusado, chocante, com temática sexual, livre de amarras de pudor e convenções sociais, e portanto, não feito para todos os gostos. Esse tipo de filme fatalmente terá um de 2 atores (ótimos, por sinal), que para mim, simbolizam exatamente do que falo: Jeremy Irons (Lolita, Madame Butterfly, Gêmeos: Mórbida Semelhança e outros), para mim um ótimo ator, em geral subestimado justamente pelo tipo de filme que faz, e Peter Coyote, que é um dos atores principais deste Lua de Fel (e que também estrelou A Grande Arte, dirigido por Walter Salles - daí dá pra ter uma ideia).

No filme, Hugh Grant e Kristin Scott Thomas (Nigel e Fiona, mais britânicos, impossível) são um casal em lua de mel em um cruzeiro indo para Istambul, que conhecem um escritor americano paralítico, Oscar (Coyote) e sua namorada francesa Mimi (Emmanuelle Seigner, linda). Inicialmente se sentem ofendidos pelo jeito rude e grosseiro do escritor, mas, um pouco por se sentir atraído por sua namorada, o personagem de Hugh aceita sua proposta de conhecer a história de suas vidas, como se conheceram e chegaram ali.


É a partir daí que a história fica mais densa, e o desejo de Nigel por Mimi vai se acentuando conforme as sessões com Oscar vão aprofundando mais em sua história chocante. Não vou entrar aqui nos detalhes da história, que obviamente é bem mais interessante assistida, mas queria falar um pouco sobre o quanto gostamos ou odiamos nos sentir chocados, ou seja, até que ponto nossa moral limita o que queremos ver (não entrando no mérito de o que nos dispomos a realizar, já que esse é um blog de cinema, a arte "voyeur" por definição).

Eu, pessoalmente, vejo uma diferença grande entre o "choque gratuito" e aquele que se insere em um contexto. Ou seja, filmes e pessoas que apresentam algo para gratuitamente chocar ou escandalizar alguém perdem muitos pontos comigo (um exemplo besta é a Lady Gaga aparecendo em uma festa dentro de um ovo gigante - convenhamos, isso é ridículo, e pessoas só fazem isso porque há desocupados que repercutem). Para mim, o exemplo clássico cinematográfico é Almodóvar (pausa para desviar das pedradas): reconheço méritos em seus filmes, inclusive tendo gostado muito de A Pele que Habito, o mais recente, mas acho que ele perde a mão muito facilmente. Exagera mesmo. Suas comédias são bastante honestas, especialmente as do começo da carreira, mas o tipo de drama que ele geralmente faz traz forçadas de barra desnecessárias, estilo novela mexicana mesmo, sem uma contraparte na história, ou seja, ele poderia contar as mesmas histórias de maneira menos sensacionalista. Ou sou eu que tenho, afinal, um baixo limite para me sentir ofendido, como claramente aconteceu em Má Educação.

Voltando ao filme em questão, claro que mentes mais sensíveis podem se escandalizar, mas o diretor Roman Polanski, na minha opinião, insere os momentos mais agressivos da história em um contexto bastante interessante. Claro que o filme não é perfeito, e em alguns momentos ele perde a mão um pouco, mas o filme deixa um saldo positivo.

Acho que, como falei antes, tudo se resume ao gosto pessoal de cada um. Como eu disse, o filme claramente não é para todos, mas aqueles que se dispuserem a abdicar por 2 horas de alguns preconceitos poderão gostar bastante. Além disso, como já disse em vários outros posts, acho que o cinema fica mais interessante quando nos leva, de maneira consistente, a experiências que não tivemos (ou não teremos) em nossas vidas, seja viajando entre galáxias, visitando a Idade Média, ou, como é o caso aqui, entrando na mente, relacionamentos e preferências sexuais de outras pessoas. Em resumo, eu gostei do filme e recomendo. Nem que seja para fazer como Hugh Grant no filme, e se sujeitar a uma história pesada só para ver a garota bonita... :-)

Nota: 6,0

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mamma Mia! (2008)


Mais uma vez falo aqui sobre um musical, e mais uma vez sobre um que tenho impressão que não muita gente gosta. Aqui pelo menos acho que é mais fácil entender: se não gosta de ABBA, dificilmente vai gostar do filme. E, tá bom, eu confesso: eu adoro. O ABBA e o filme. Significa? :-)



Como eu disse no texto sobre Moulin Rouge, gosto muito quando um musical utiliza músicas já famosas, ou pelo menos conhecidas. A idéia aqui vai um pouco adiante: resgatar um pouco do que fizeram, por exemplo, Elvis e os Beatles, montando a história do filme baseado em músicas de um único intérprete, ou banda. Com a diferença que, lá nos anos 50/60, o filme funcionava um pouco como o videoclipe funciona hoje, um recurso visual para promover a música (ou as músicas) de trabalho daquele momento. O que Mamma Mia fez, inicialmente no teatro e depois no cinema (além de Across the Universe, um pouco depois) foi basear a história do filme em toda a discografia da banda em questão, quase como um tributo ou homenagem.



Não que a história seja algo muito elaborado: uma garota que vive com a mãe em uma ilha grega descobre, pouco antes de seu casamento, um diário da mãe que aponta três possíveis candidatos a serem seu pai, que ela nunca conheceu. Escondida da mãe, resolve convidar os três para a cerimônia pensando em finalmente descobrir qual é de fato seu pai.



E nem poderia ser nada mais sofisticado que isso. Primeiro, pela óbvia dificuldade em se encaixar um roteiro às músicas da trilha sonora (embora, justiça seja feita, 90% delas falem sobre corações partidos ou sobre a procura do amor). Além disso, nem é a idéia, ao contrário dos musicais mais "sérios" que a história seja algo profundo demais: o objetivo é divertir quem gosta das músicas, os que vão cantar junto no cinema (isso eu não fiz - não em voz alta, pelo menos).


E, se diversão é o objetivo, ele é plenamente atingido aqui. E não apenas para o público. Pierce Brosnan, que faz o papel de um dos possíveis pais, ao anunciar que faria parte do filme, disse algo como "vou passar uma temporada em uma ilha grega, cantando músicas do ABBA com Meryl Streep. E ainda vão me pagar para isso!". Dá para ver claramente que o elenco está se divertindo. Portanto, claro que não dá para esperar a performance da vida de Meryl Streep, por exemplo, embora ela segure muito bem a responsabilidade, inclusive nas cenas de canto, o que não dá para dizer de todos os atores... Amanda Seyfried (gracinha) segura bem as músicas e o papel principal, mas um destaque tem que ser dado a Christine Baranski, uma atriz muito subestimada que vem do teatro e é extremamente versátil: faz aqui o papel da amiga maluca, mas já foi uma ricaça esnobe em Segundas Intenções, a mãe de Leonard em Big Bang Theory, uma advogada importante em The Good Wife, isso apenas os papéis que me vêm à mente. É o total oposto da escola Nicholas Cage de atuação (o mesmo papel em todos os filmes).



Bom, e a trilha sonora? Preciso falar? Claro que todo mundo conhece (mesmo que não goste de) pelo menos uma meia dúzia das músicas do filme, e atire a primeira pedra quem nunca dançou "Dancing Queen" em alguma festa de casamento. Como eu disse, claro que depende da pessoa gostar do ABBA para curtir o filme, mas não se preocupe, se você não é fã, eu só vou gostar um pouquinho menos de você...



Sei que é ridículo, mas é legal. Live with that. :-)

Nota: 8,0



domingo, 5 de agosto de 2012

[Para quem não viu] Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012)


(este texto foi escrito evitando-se falar sobre a história do filme ou entregar pontos importantes da trama, para poder ser lido por quem ainda não o assistiu. Se você já viu o filme, leia também ESTE texto, que completa a discussão com "spoilers")


Desde o momento em que subiram os créditos de Batman: O Cavaleiro das Trevas, e com o consequente anúncio do terceiro filme desse "renascimento" do Batman, os fãs se perguntavam: como superar um filme tão brilhante? Como encerrar de maneira compatível uma história que finalmente quebrou a barreira entre super-heróis e filmes sérios? E principalmente, como continuar a história sem um personagem marcante como o Coringa, que ao mesmo tempo marcou definitivamente a trilogia, mas criou um problema criativo a partir do momento que seu intérprete, Heath Ledger, faleceu?

Para mim, a principal decisão de Christopher Nolan, acertadíssima, surpreendente, e que ajudou a equacionar esses problemas acima, foi modificar totalmente o arco da história, ancorando este terceiro filme não seguindo diretamente a história de O Cavaleiro das Trevas, mas sim ancorando sua história de forma a ecoar Batman Begins.

A história se passa 8 anos após o segundo filme. Batman assumiu a morte de Harvey Dent e desde então nunca mais apareceu. Baseado nesta mentira, o comissário Gordon consegue aprovar leis mais severas e, com isso, Gotham está em paz, praticamente limpa do crime. Enquanto isso, Bruce Wayne se tornou um recluso, não aparecendo nem em festas beneficentes em sua própria mansão. Até que um grande perigo ameaça Gotham, e a cidade volta a precisar do Batman, a quem culpou por 8 anos pela morte de seu mais adorado cidadão.



Nisso, o primeiro paralelo com Batman Begins: a jornada de auto-conhecimento de Bruce Wayne, saindo do fundo do poço e se "transformando" no personagem que, em sua visão, é o que sua cidade precisa. Claro que, assim como nos primeiros filmes, nada é maniqueísta, o filme se passa muito mais em cinza do que em preto e branco. A própria decisão de Wayne, de voltar à ativa, mesmo tendo ainda sequelas de sua última atuação, não será fácil e muito menos sem consequências.



Como filme, obviamente está um degrau abaixo de Dark Knight, e não tinha como se esperar o contrário. Apesar das quase 3 horas de duração, o filme introduz tantos personagens novos e arcos de história que algumas coisas passam meio corridas. Não que a história seja mal escrita: Christopher Nolan e seus roteiristas mais uma vez fazem um trabalho fantástico de roteiro, mantendo o pé na realidade e dando um clímax interessante à trilogia. As atuações também continuam destacadas. Desde os atores recorrentes, como Christian Bale (amadurecido, no ponto da trilogia em que seu personagem mais exige), Gary Oldman, Michael Caine (meio sumidos no filme, mas com momentos muito emocionantes) e Morgan Freeman, além das novas adições: Joseph Gordon-Levitt, continuando sua evolução como ator e se destacando cada vez mais, Marion Cotillard, com uma personagem um tanto perdida no filme, Anne Hathaway, dando uma roupagem realista para a Mulher-Gato (diga-se de passagem, ela não é propriamente a Mulher-Gato dos quadrinhos, ou dos filmes anteriores) e Tom Hardy, irreconhecível como Bane, mas mostrando muitos recursos para mostrar a índole maligna do personagem com expressão facial limitada.

E ainda assim é mais expressivo que a Kristen Stewart

Mas não acho que o jeito de avaliar esse filme seja individualmente. Ele é parte de uma trilogia, e uma cuja história é muito coesa. Ou seja, é o final de uma história maior, e portanto não é feita para funcionar (ou ser assistido) separado. Isso inclusive significa que, se você levar sua namorada que não viu os outros filmes para o cinema, ela vai reclamar, não só por ser o Batman, mas também por não entender direito o que está se passando... Significa também que, se possível, é uma boa assistir os outros filmes (especialmente Begins) antes de ir ao cinema.

Como final da trilogia, aí sim se vê o valor de O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Resgatando não apenas pontas soltas dos filmes anteriores (especialmente o primeiro), mas também mantendo a filosofia da saga, e tornando tudo mais grandioso. Os três filmes podem ser vistos tranquilamente de uma vez só, e como uma história só (caso você tenha umas 8 horas seguidas disponíveis...). Nesse jeito, inclusive, é possível ver vários paralelos entre o primeiro e o terceiro filmes, já que os dois tratam, de certa maneira, de Bruce Wayne se tornando o Batman, embora sob circunstâncias e em condições diferentes. É o melhor filme da saga? Não. É o final que a história e seus fãs mereciam? Muito. Se você gostou dos filmes anteriores, não demore para assistir esse. Garanto que não vai se arrepender.

Nota: 8,1 (56o. colocado na minha lista de filmes favoritos)






terça-feira, 31 de julho de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008)


Com a abertura das Olimpíadas nessa sexta, pensei em escrever um post comemorativo comentando algum filme relacionado ao evento. Acabei percebendo que nunca vi nenhum. O mais perto que eu tenho de esportes olímpicos é Rocky, Um Lutador. Depois de colocar Carruagens de Fogo e Jamaica Abaixo de Zero na lista de filmes a assistir, pensei então em escrever um post referente à outra coisa que aconteceu nessa sexta-feira: a estreia nos cinemas de O Cavaleiro das Trevas Ressurge, terceiro filme da trilogia de Christopher Nolan que resgatou o personagem (que tinha sofrido com maus filmes, especialmente Batman Eternamente e Batman e Robin, de Joel Schumacher) de maneira brilhante. Ainda não vi o terceiro filme, mas isso deve ser resolvido rapidamente, e pretendo falar dele aqui em breve.

A lógica seria eu falar inicialmente de Batman Begins, mas O Cavaleiro das Trevas é um filme do qual eu gostei tanto que resolvi partir direto para ele. Como já disse antes, é um dos poucos filmes (senão o único) que para mim transcendeu o status de "um excelente filme de super herói" para "um excelente filme". Isso principalmente pela decisão (muito bem executada) de criar um filme hiper-realista. Claro que é complicado imaginar que um cara, para se vingar dos bandidos, inspire-se nos morcegos e gaste uma fortuna, treine a vida inteira, e se torne quase indestrutível no combate ao crime. Mas o filme é montado de tal maneira que isso passa a ser quase crível. A tal "suspensão de descrença", na qual se constrói um universo de tal modo internamente coerente, que você acredita na história, por mais que não seja possível no nosso mundo.

O fato de ser o Batman ajuda muito nesse sentido. Dentre os herois mais famosos, ele é o que tem a história mais "plausível". Claro que não foi isso que vimos, tanto na famosa e mega cafona série de TV dos anos 60 e mesmo nos filmes anteriores, de Tim Burton e especialmente de Joel Schumacher. Na época do Tim Burton, o clima ainda era um pouco mais dark, embora com um pouco de fantasia (e na época do Joel Schumacher, virou palhaçada mesmo). Já com Christopher Nolan, a palavra chave é realismo, desde Batman Begins.

A famosa origem do Batman (milionário que tem os pais mortos quando criança e dedica a vida a combater o crime) é recontada de maneira um pouco mais "pé no chão". A capa, a máscara, a bat-caverna, tudo ganha uma explicação "real", ou pelo menos uma razão para existirem no mundo real. O bat-móvel, por exemplo, é um protótipo de carro de combate, algo sendo desenvolvido nas indústrias de Bruce Wayne para o exército.


Agora, tudo podia ser a coisa mais real do mundo se o filme não fosse bom. E ele é ótimo. Apesar de ser uma continuação, a história é basicamente independente, e funciona muito bem. Livre de contar a origem do personagem, Nolan pode focar na história e nos personagens. Christian Bale já está mais à vontade no papel, e a lista de coadjuvantes do filme é extremamente respeitável: Gary Oldman, Morgan Freeman, Michael Caine, Aaron Eckhart em ótimos papéis. Um roteiro cativante, muito bem estruturado, que explora a reação das pessoas a situações extremas, e a dualidade entre bem e mal. Mas o destaque do filme, obviamente, é o Coringa de Heath Ledger. Em uma encarnação assustadora de um personagem com uma origem bastante doentia nos gibis, mas que nas telas tinha apenas as referências de Jack Nicholson (no filme) e Cesar Romero (na TV). E não é uma questão de sobrevalorizar um ator que faleceu. Seu papel é muito envolvente, bem realizado, e chega a deixar alguma dúvida se não contribuiu para o momento perturbado pelo qual o ator passou em seguida.


Independente de qualquer coisa, seu papel é impressionante, contribuindo demais para a qualidade do filme. Claro que não é apenas isso, mas dentro do clima realista do filme, é outro dos fatores que poderia soar exagerado, mas acaba sendo bastante crível. Claro que é difícil imaginar um maluco todo retalhado e maquiado gerando caos pela cidade, mas a interpretação de Ledger associada a algumas escolhas de roteiro (como por exemplo não tentar explicar sua origem) acertam em cheio em gerar a tal "suspensão da descrença" tão necessária para a credibilidade do filme. E ajuda a tornar o filme muito divertido.

Em resumo, o filme não só quebrou o estigma de filmes de heróis, como também acabou sendo um grande sucesso, sendo indicado e recebendo Oscars e sendo reconhecido como um dos melhores filmes de 2008. Eu, pelo menos, adorei. E talvez o maior defeito do filme (além de ter trocado a Katie Holmes de Batman Begins pela feiosa e sem graça Maggie Gyllenhaal) tenha sido criar uma enorme expectativa para a conclusão da trilogia. Quero só ver se o terceiro filme vai manter o nível dos 2 primeiros. Saberei amanhã...

Nota: 9,35 (8o colocado na minha lista de filmes favoritos)

PS: Claro que eu não poderia deixar de citar o "fan-film" mais famoso do Batman (ou quase isso). Ainda nos tempos pré-internet, um grupo de amigos com um microfone, um vídeocassete e muito tempo livre geraram o primeiro clássico do youtube: Batman na Feira da Fruta. Você já deve ter visto, mas por via das dúvidas, segue. É toscamente engraçado demais: