sábado, 31 de março de 2012

RoboCop (1987)

Mais um da série "anos 80". Depois de muitos anos, assisti esse filme de novo (no Telecine Cult, veja você). Ao contrário de Quanto Mais Idiota Melhor, não fiquei revoltado e nem achei que era um lixo, baseado na Regra dos 15 Anos. O que mais me impressionou, mais uma vez, foi como a estética dos anos 80 era muito marcante e muito diferente da atual, em vários aspectos (e não apenas nos cabelos e roupas, como salta aos olhos no primeiro momento).

Antes disso, a história do filme: um policial é "morto" em ação e utilizado para um projeto piloto, onde parte de seu corpo é fundido com partes robóticas para criar o policial ideal. Porém, aos poucos a consciência dele vai voltando e o projeto vai começando a dar errado.

Um dos pontos que mais me chamou a atenção foi o conceito de "alta tecnologia" da época. Talvez influenciado pela megalomania da "Guerra nas Estrelas" da época da Guerra Fria, nesse filme (e em outros da época) a tecnologia significa robôs, muitas luzes, e grandes sistemas interligados cuja função é controle e opressão. Claro que querer que eles tivessem previsto a internet é demais, mas é curioso entender o pensamento da década quanto à tecnologia e sua função.

Outro ponto interessante é a violência. Esse filme é um exemplo clássico disso... a cena do policial Murphy sendo "morto" tem mão explodindo, sangue pra todo lado, e sadismo extremo do vilão do filme e líder da quadrilha (o mesmo ator que faz o pai do Eric Forman no That 70s Show, por sinal). A cena do RoboCop se vingando da quadrilha então, tem gente derretendo, explodindo, morrendo de tudo que é jeito. Um filme desses hoje seria censura para maiores de 18 anos, fácil, fácil. E na época não só era assistido por menores como ainda tinha uma linha de brinquedos.






E a heroína do filme então? Uma garota até bonitinha, mas normal, meio baixinha e gordinha... Hoje em dia a atriz principal não seria nada menos que uma Charlize Theron, ou Megan Fox, sei lá,e provavelmente cheia de efeitos visuais em cima ainda... É como aquelas cenas antigas dos Trapalhões, em que as mulheres bonitas eram bem diferentes das de hoje...

Hoje ela seria no máximo a vizinha engraçada.

De todo jeito, foi divertido assistir de novo. O filme é longe de ser fantástico, mas é razoavelmente divertido, e ainda serve como estudo sociológico da "década perdida". E passa no Telecine Cult, quem diria...

Nota: 8,0 (minha nota sempre se refere à primeira vez que assisti)

PS: Não tem muito a ver com o filme, mas sempre é divertido lembrar:

quinta-feira, 29 de março de 2012

Moulin Rouge (2001)

Depois de 2 filmes depressivos, alguma polêmica e alguns dias de viagem a trabalho sem novos posts aqui, resolvi falar de um filme mais alegre (mas não menos polêmico), inaugurando também a seção de musicais aqui do blog.

Eu tinha uma bronca de musicais. Não conseguia entender essa história do povo sair cantando no meio da história. E tenho que dizer que esse foi um dos filmes que me fez mudar de opinião. Para mim a jogada de mestre foi inserir músicas contemporâneas, com arranjos diferentes, no contexto do filme, que se passa no século passado. Sem falar do carisma de Ewan McGregor e Nicole Kidman.

A história: escritor inglês na virada do século XX muda-se para Paris e rapidamente se insere no "submundo" da cidade, frequentando o famoso bordel "Moulin Rouge" e apaixonando-se pela cortesã Satine, que se divide entre sua profissão com seu show, e o amor de Christian. Nada de novo, a antiga história de amor impossível. A diferença é o modo de contar.

Musicais são filmes diferentes. Devem ser apreciados em seu conjunto, como obras de arte. E, portanto, cada um tem sua opinião. Esse filme, em especial, para mim é meio que o contrário de Blade Runner, já que no caso de Moulin Rouge, às vezes penso que eu sou a única pessoa que gostou do filme. Curti a história, a trilha sonora, como já disse, além das atuações, e especialmente o visual do filme. A fotografia é linda, e os cenários correspondem ao que se espera de uma casa de shows luxuosa como a do filme.

 

A partir desse filme, passei a olhar os musicais de maneira mais simpática. Adorei filmes como Mamma Mia, Across the Universe, Evita, e principalmente Cantando na Chuva, filmes sobre os quais pretendo ainda falar por aqui. Claro que boa parte é ruim também (não consigo descrever o quanto odiei Chicago, por exemplo). Mas posso dizer que esse é mais um dos preconceitos cinematográficos que acho que superei.

Mas não a ponto de sair cantando por aí, claro.

Nota: 8,4 (40o. na minha lista de filmes favoritos)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000)

Ainda em referência ao post anterior, fui "acusado" no Facebook de não ter gostado do filme por ser "insensível" ou por não ter entendido a emoção do filme. Meu desafio então foi falar de um filme que considero emocionante, mas sem os problemas que vejo em Menina de Ouro.

Escolhi esse que acho um filme primoroso. Triste, depressivo, mas com uma história envolvente e cujo principal mérito é não ser apelativo em momento algum. Você sente que aquela história poderia ser real, e pode estar acontecendo em algum lugar por aí. E é, sim, muito emocionante.


A história: 4 pessoas, Harry Goldfarb (Jared Leto, o Jordan Catalano da Adriana), seu amigo, a namorada e a mãe, de maneiras diferentes, sofrem problemas com drogas (legais ou não). Mesmo sem julgar ou tomar partido, é a maior propaganda anti-drogas que já vi. Mostra sem excessos desnecessários, mas sem atenuantes, os momentos de euforia, depressão, e degradação nas vidas de cada um. Harry e seu amigo cometem pequenos crimes (inclusive em casa, levando a mãe a ter que recomprar sua TV do trambiqueiro local quase todo dia) para sustentar o vício, situação que logo vai levá-los a uma situação mais complicada. A namorada dele (Jennifer Connelly, linda como sempre, absolutamente entregue a um papel dificílimo) começa a perceber que pode usar seu próprio corpo como moeda para sustentar o vício. A mãe, viúva há muitos anos, recebe um convite para participar de seu programa de TV favorito e começa a tomar anfetaminas para poder voltar a vestir seu vestido preferido de quando era jovem, e logo perde o controle.

Como se vê, não é uma história fácil. E o diretor Darren Aronofsky (Pi, A Fonte da Vida, Cisne Negro) não alivia. Com uma fotografia muito bem feita, a câmera se limita a observar essas pessoas e suas vidas. O "espírito" do filme diz muito para mim: "Cada um é livre para fazer o que quiser, inclusive se matar de drogas, desde que arque com as consequências". Não poderia concordar mais.



O filme tem defeitos, claro. O principal deles para mim é a absoluta impossibilidade de assisti-lo de novo. Para mim, um dos jeitos de saber se o filme é bom é se tenho vontade de revê-lo. Isso não se aplica nesse caso. O filme é muito bom, e no entanto eu não conseguiria. É denso, pesado, e mina um pouco do seu otimismo e fé na humanidade, invariavelmente. Lembro que fui com a Chris assistir meio sem saber do que se tratava, e depois iríamos sair para jantar. Não conseguimos, fomos direto do cinema para casa. E ainda assim continuo achando um grande filme, que trata o espectador como adulto, sem condescendência ou soluções fáceis de roteiro. Observa o sofrimento dos personagens, sem ser sádico com eles.

Quase dá vontade de ver de novo, agora.

Nota: 8,0

terça-feira, 20 de março de 2012

Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004)

Apesar de ter ganho alguns Oscars, incluindo melhor filme, diretor e atriz, esse filme não é um que normalmente eu destacaria aqui. Na verdade, o escolhi porque serve de exemplo perfeito para um subgênero do qual quero falar hoje: o cinema de redenção, ou de superação.

Vocês conhecem alguns exemplos: uma pessoa qualquer, geralmente pobre, que tem um sonho e contra todas as chances consegue atingi-lo. Existem as variações de tema, percurso, motivação, etc., mas em linhas gerais o núcleo do filme é o mesmo.

Muita gente gosta, afinal são histórias bonitas, inspiradoras, exemplos do espírito indomável do ser humano e de que qualquer coisa é possível se você realmente quiser. Entendo perfeitamente. Mas tenho que dizer: eu ODEIO esses filmes.

Um pouco por serem forrados de clichês, um pouco por serem repetitivos, mas principalmente porque onde deveria haver "inspiração", eu vejo só "desgraça". Por isso, por exemplo, nunca vão me ver assistindo aquele À Procura da Felicidade, do Will Smith. Já me vejo aguentando duas horas de "tá vendo, seu merda? esse cara dormia em pé no metrô com o filho e virou um banqueiro fodão! e você, tá reclamando do quê? Vai ser alguma coisa na vida!". Entenderam? Pra mim a tal inspiração soa apenas como "cala a boca e não reclama"...

No caso de Menina de Ouro, isso acontece duplamente, porque a garota vence na vida contra todas as chances, e leva outra cacetada na cabeça, tendo que começar tudo de novo. Desgraça pouca é bobagem... parece aqueles filmes que passavam na "Sessão das Dez" do Sílvio Santos (O Segredo de Kate, Seis Semanas e outras choradeiras).

A atuação da protagonista não ajuda muito também. Apesar de ter ganho o Oscar (e vocês sabem, a atriz que ganha o Oscar sempe é a que sofreu a maior mudança ou ficou mais feia para o papel), acho a Hilary Swank muito fraca (ser feia também não ajuda). Aliás, poucas vezes vi um Oscar fazer tão mal à carreira de um artista (com a possível exceção de Cuba Gooding Jr. por Jerry Maguire - "show me the money"), já que depois disso ela simplesmente não fez nada que preste, e na minha opinião, passou vergonha em Dália Negra. Morgan Freeman aparece pouco (afinal, seu objetivo é ser o narrador), e Clint Eastwood, bem, é Clint Eastwood. Esse tem crédito pra fazer o que ele quiser (não apenas por sua carreira pregressa, mas por pérolas como Gran Torino, esse sim sensível e bem escrito, está entre os meus 50 favoritos).

Bom, pra mim de amarga já basta a vida. Claro que existem exceções (a série Rocky, por exemplo), mas em geral acho que esse tipo de filme é chato e agrega muito pouco. Até porque mensagens inspiradoras de outros pra mim não funcionam. Sobra só a comparação, e de gente me cobrando, basta eu mesmo.

Nota: 5,0

domingo, 18 de março de 2012

O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972)





Hoje resolvi falar de um dos maiores épicos do cinema. E um dos filmes favoritos de quase todo mundo.

A história: Sério, se você nunca viu esse filme, pare de ler agora e vá resolver essa lacuna na sua vida. Eu é que não vou contar aqui.

Já faz tempo que queria escrever sobre O Poderoso Chefão, e fiquei pensando um tempo o que afinal faz com que esse filme, entre tantos, ser sempre lembrado como um dos melhores.

Serão as atuações? Poucas vezes se juntou tanta gente boa e inspirada em um filme só. Os "coadjuvantes" por si só já arrebentam: Robert Duvall, James Caan, John Cazale (Fredo), Talia Shire (Connie), e tantos outros, como o ator que faz Luca Brasi, que, sem falar inglês direito e nervoso por contracenar com Marlon Brando, ficou ensaiando suas falas do lado de fora. Coppola viu, registrou e acabou colocando no filme. Genial.

Isso sem falar dos atores "principais". Temos Al Pacino ainda jovem (e antes de entrar na "escola Jack Nicholson"), soberbo no papel do filho que inicialmente rejeita os negócios do pai, mas aos poucos vai se "integrando" mais. E a alma do fime na minha opinião, Marlon Brando, em seu auge. Seu Don Corleone é simplesmente perfeito, em sua caracterização, atuação, diálogos e interações. Uma aula de atuação.



Mas as atuações não são tudo. Um roteiro inspirado, baseado no livro de Mario Puzo, uma fantástica ambientação de época, uma trilha sonora memorável, claro, além de uma mensagem sobre a vida sobre a qual falo adiante.

Quanto à mensagem, curioso como muitos homens, especialmente, consideram esse filme como uma espécie de guia moral, formador de caráter, apesar de ironicamente se tratar da história de uma família de mafiosos. O filme de fato tem lições sobre família ("Nunca diga a ninguém fora da família o que estamos pensando"), amigos ("Mantenha seus amigos perto, e os inimigos mais perto ainda"), negociações ("Farei uma oferta que ele não pode recusar"), guerra ("Isso significa que ele dorme com os peixes"), emoções ("Haja como um homem" - Don Corleone para Johnny Fontane, que começa a chorar e leva um tapa na cara do Don), resolução de problemas (matar todos os seus inimigos durante o batizado de seu sobrinho - que edição de cena, aliás), ou seja, tudo o que um homem precisa saber na vida.



Isso para mim prova que homens, ao contrário de mulheres, são seres muito simples. Tiram sua estrutura moral de um filme de gângsteres, seu planejamento de vida de uma música de Frank Sinatra ("My Way"), e tomam as principais decisões de sua vida à base de álcool. Quer mais simples que isso?

Digressões sobre a natureza dos homens à parte, que filme fantástico. Não sei se consegui concluir o porquê afinal, mas isso não importa muito. Acho que nesse caso não preciso convencer ninguém. Especialmente os homens... :-)

Nota: 9,6 (4o na minha lista de filmes favoritos)

quinta-feira, 15 de março de 2012

O Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2: The Judgement Day, 1991)

Não tinha falado de nenhum filme de ação ainda. Assim o blog fica "cabeça" demais, diversificar é o segredo. Já inicio falando de um dos meus favoritos, afinal ninguém é de ferro (só o Arnold).

Pra quem não conhece (quem não conhece?), é a história de dois robôs que vêm do futuro para os "nossos" dias: um para proteger e outro para assassinar John Connor, futuro líder da resistência humana contra a dominação das máquinas no futuro. Ou seja, mais ou menos a mesma história do primeiro. E com o Arnold, o que é garantia de uma atuação muito ruim, especialmente no início dos anos 90, quando ele mal tinha aprendido a falar inglês. Por que acho o filme bom então? (boa pergunta)

Porque é divertido, oras. Primeiro que eu adoro filmes de viagem no tempo (vocês verão). Além disso, a história é legal, o Arnold como robô é a desculpa perfeita para a má atuação (ele faz até piada com isso), os efeitos especiais eram fantásticos para a época (foi o filme mais caro de todos os tempos por alguns anos), e tinha o Guns n'Roses na trilha sonora... Aliás a cena da perseguição com "You Could Be Mine" é alucinante, especialmente para um recém-adolescente de 14 anos...

O que me leva à análise de hoje: todos queremos conteúdo, histórias inteligentes, sair do cinema com mais cultura do que entramos. Mas uma diversão escapista de vez em quando não mata ninguém... Tem hora que você quer mais que o Irã e seu povo sofrido se danem... Hehehe... Claro que tem muita porcaria no dito "cinema comercial", mas tem coisa que preste também.

Outra coisa que adoro nesse filme, claro, são as frases. Aliás, adoro frases de filmes. Cito Casablanca, O  Poderoso Chefão e até Tropa de Elite o tempo todo. "Hasta la vista, baby", "I'll be back" e outras viraram moda na época. E tudo com a cortesia da atuação "mecânica" do tio Schwarzenegger.

Enfim, assim como preguei o fim do preconceito contra o filme cult em outro post, faço o mesmo aqui: veja filmes porcaria você também. Você pode não se arrepender. E não vai ter que ir ao Espaço Unibanco na Terça às 3 da tarde junto com a galera alternativa...

Nota:8,8 (22o. na minha lista de filmes favoritos)

terça-feira, 13 de março de 2012

Adeus, Lenin! (Good bye Lenin!, 2003)

Acho que não conheço ninguém que não gostou desse filme. Leve (apesar do assunto), simpático, engraçado e com uma mensagem muito legal, o esforço de se agradar a quem se ama. Eu, pelo menos, adoro.

A história se passa na ex-Alemanha Oriental, e se inicia poucos meses antes da unificação alemã, já durante os protestos contra o regime comunista. O protagonista, contra a opinião de sua mãe, comunista fanática, vai a um desses protestos. Quando a mãe o vê, sofre um infarto e entra em coma por alguns meses. Ao acordar, o mundo em sua volta já mudou completamente: a Alemanha é uma só, e o capitalismo avança furiosamente. Orientado pelo médico a não submeter sua mãe a emoções fortes, o filho então "cria" uma Alemanha Oriental falsa, apenas para sua mãe.

O que poderia ser um filme de uma piada só se mostra uma história engraçada sim, mas muito humana, mesclando o esforço do filho de resgatar aquilo que todos os outros estão loucos para se livrar, com os momentos em que ele, sob os protestos da irmã, insiste em criar esse "mundo" para sua mãe. Filme altamente recomendado.

O que me traz a um assunto interessante, que é o cinema refletindo a História. Desde os primórdios, os filmes vêm sendo utilizados para contar (ou até para manipular) a História. Iniciando por filmes como O Nascimento de Uma Nação, com sua visão elitista e racista dos EUA, até as dramatizações do 11 de setembro pelo mundo, muitas vezes o cinema externa uma visão de mundo da época em questão, ajudando seus espectadores a lembrar, conhecer e formar opinião sobre o que vêem.

No caso da Alemanha, essa relação é bastante mais conturbada. Dona de um cinema bastante interessante nas décadas de 20 e 30, reduzido durante a guerra a peças de propaganda como O Triunfo da Verdade (independente de sua qualidade cinematográfica), o cinema alemão, assim como seu povo, ainda guarda uma relação de tabu com seu período mais negro: o domínio nazista, talvez se perguntando como puderam deixar ou ajudar aquilo acontecer.

Por isso, é muito mais fácil vermos o povo alemão rindo da época do comunismo (que, por sinal, é muito mais recente), do que do nazismo. Para mim, a sátira é uma das melhores ferramentas de "desconstrução" da história, e por isso talvez um dos primeiros atos de qualquer governo ditatorial é censurar suas manifestações artísticas, por seu caráter fundamentalmente contestador. E isso Adeus Lenin! faz muito bem, ao mesmo tempo mostrando os absurdos da vida no lado oriental, mas sem tomar partido do capitalismo.



"O povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la", já diz a frase clichê. Por isso são tão importantes as visões artísticas sobre a história de qualquer povo. Adeus Lênin! tem também essa qualidade. A Queda também é fantástico, não apenas como filme, mas como peça histórica. Filmes como O Leitor e outros também ajudam, de certa maneira, o povo alemão a fazer as pazes com seu passado e encará-lo de frente.

Independente de qualquer coisa, é um filme fantástico. Junto com o documento histórico, vem a mensagem universal de cuidar de quem se ama. E isso está na história de todos nós.

Nota: 8,1

segunda-feira, 12 de março de 2012

Pulp Fiction (1994)

Para a "alegria" do amigo Almir, chegou a hora de falar sobre um de meus filmes preferidos, de um de meus diretores preferidos: Pulp Fiction (me recuso a usar o subtítulo em português "Tempo de Violência" - aliás, algum dia quero falar sobre os nomes ridículos em português). Goste ou não, é fato que esse filme (na verdade, Cães de Aluguel, que saiu antes, mas não fez tanto sucesso - na época) "inaugurou" um conceito novo de filmes, misturando comédia, ultraviolência e "cultura" pop em doses cavalares, além de uma certa liberdade na maneira de contar a história (seja ela temporal, como em Pulp Fiction, ou até de gênero, como Um Drink no Inferno).

Em uma época (início dos anos 90) onde a grande novidade do cinema eram os efeitos visuais, associados a um certo "tradicionalismo" na maneira de contar a história - outros concorrentes ao Oscar daquele ano foram  Forrest Gump e, veja você, Um Sonho de Liberdade, outro filme ótimo - Pulp Fiction quebrou as "regras" do cinema, focando novamente em uma história inovadora - quem lê o blog já sabe que esse é meu ponto fraco - e em um jeito ainda mais inovador de contá-la. A sequência de eventos, a trilha sonora, as "homenagens", de faroeste a kung fu, de filmes B a musicais, tudo forma uma experiência única e muito diferente (pelo menos no conjunto) do que assistíamos na época.

Lembro de ir ao cinema com vários amigos assistir a Pulp Fiction. Primeiro ano de faculdade, a gente ia basicamente assistir a qualquer coisa que se dignasse a chegar aos cinemas da metrópole de São José dos Campos. Sem internet, era até meio difícil (e porque não dizer, mais surpreendente) saber o que esperar dos filmes antes de assisti-los. A surpresa foi enorme, e lembro que eu e mais um ou dois gostaram do filme, os demais odiaram. Mas era impossível ficar indiferente.

A trilha sonora vale uma menção à parte. Foi a primeira vez que comprei um CD de trilha sonora na vida (pois é, na época em que se compravam CDs...), e lembro que cansei de ouvir. Ao contrário das trilhas normais, que têm 3 ou 4 músicas batidas e um monte que não toca no filme, só completando o CD, essa era realmente legal. E por serem músicas obscuras, você sempre vai associar aquela música à cena em que toca:


Nem falei do filme em si: dois mafiosos ficam responsáveis por cuidar da mulher do chefe enquanto ele viaja. E aí acontece de tudo. Fora da ordem. :-)

Com o tempo, alguns desses maneirismos foram se repetindo e até cansando, até que o próprio Tarantino se livrou de alguns deles em seus filmes mais recentes (mas não de todos...), especialmente Bastardos Inglórios. Mas o primeiro filme do Tarantino que você assiste, nunca esquece.

Nota: 9,4 (7o. na minha lista de filmes preferidos)

PS: Notando agora, não foi uma homenagem, mas esse post parece um filme do Tarantino: bagunçado, sem muita lógica, até difícil de acompanhar. Espero que esteja comparável em conteúdo também...

PS2: Esqueci de 2 das melhores coisas do filme: John Travolta e Samuel L. Jackson. :-) Só ter ressucitado esses caras já vale o filme...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Persona (1966)

Queria falar aqui um pouquinho sobre o "cinema de roteiro" x "cinema de arte". Escolhi esse filme do Ingmar Bergman porque o assisti antes de ontem (na segunda ou terceira tentativa, confesso. O sono me atacou algumas vezes). Mas poderia (e pretendo) falar sobre Cidade dos Sonhos, 2001, qualquer um do Terence Malick, Pi e A Fonte da Vida, do Darren Aronosfky, ou de muitos outros.

Primeiro, o filme: uma atriz tem um colapso nervoso e para de (ou se recusa a) falar. Uma enfermeira é contratada para cuidar dela e juntas vão passar uma temporada em um local remoto. Aos poucos, a convivência entre as duas (apesar da mudez de uma delas) começa a se intensificar, até que as próprias vidas das duas se confundem.

Já disse algumas vezes nessa curta vida do blog o quanto para mim é importante o roteiro no cinema, e que considero o próprio cinema essencialmente como uma ferramenta para contar histórias. Mas (ainda bem) nem todos pensam como eu. Um dos exemplos são os chamados "filmes de arte", onde a tela é utilizada não com o propósito principal de contar uma história (embora ela esteja lá), mas como uma ferramenta de manifestação artística. Você não espera que um quadro, uma escultura, ou mesmo uma música necessariamente conte uma história, é justo que o cinema tenha essa liberdade também. E assim, criam-se experiências diversas, onde o começo, meio e fim não são os mais importantes, e sim a contemplação e até mesmo o questionamento e a liberdade de cada um entender (ou não entender) o que achar melhor.

No entanto, claramente, o cinema de arte não é para todos. Para mim, três razões são as principais para que os "filmes-cabeça" gerem tanta rejeição:

- Vivemos em uma era mais comercial e "prática", onde as pessoas em geral não querem ter que juntar as peças ou criar juízo de valor por si próprias - isso afeta não apenas o cinema artístico, mas também os roteiros mais elaborados ou mais abertos

- Considera-se (especialmente entre os críticos de cinema "mais consagrados") que mostrar gosto pelos filmes "mais difíceis" denota um maior conhecimento de cinema ou uma maior profundidade do que os filmes "normais" ou 'comerciais". O crítico se sente compelido a dizer que odiou Star Wars e que A Árvore da Vida é o filme mais sublime do mundo (sem juízo de valor aqui sobre se isso é verdade ou não). Isso cria expectativas, soa pedante e causa uma repulsa natural pelos filmes "pedantes"

- Em última análise, ninguém gosta de ser chamado de burro - entrar no cinema, ficar 2 horas e sair sem entender nada não é uma experiência agradável para muitos, vamos ser sinceros

Eu já fui bastante talibã contra os "filmes cult", odiava mesmo. Ainda não consigo adorar a maioria (A Fonte da Vida é uma exceção, O Sétimo Selo outra), mas acho que deixei de achar que não prestam por definição. Acho que tenho a agradecer à Chris (embora ainda não goste dos filmes iranianos), a alguns amigos (Samuel, por exemplo) e também ao curso de História do Cinema que cheguei a fazer em SP uns anos atrás, que me mostrou acima de tudo que limitar suas experiências é também limitar o que se pode conhecer. Assim, já me disponho a  encarar filmes "fora da zona de conforto", assim como esse Persona, do qual já tinha ouvido falar e é de um diretor consagradíssimo.



Odiei. Mas valeu a tentativa. Gostei de uma ou outra mensagem, cena, mas ainda prefiro histórias com pé e cabeça :-P

Mas já considero uma vitória ter visto. E pretendo continuar dando chances aos filmes cult de vez em quando...

Nota: 4,0

segunda-feira, 5 de março de 2012

O Primeiro Mentiroso (The Invention of Lying, 2009)

Uma sociedade idêntica à nossa, com uma exceção: todos dizem sempre a verdade, o tempo todo. Até que uma pessoa aprende a mentir...

Mais um exemplo do tipo de filme que eu adoro, com uma premissa genial e um roteiro inspirado. O filme se passa no nosso mundo, mas com a exceção de que durante a evolução da espécie, ninguém aprendeu a mentir. Mark é um escritor prestes a perder o emprego, sem chance de conquistar a garota de seus sonhos, e vai ao banco retirar seus últimos trocados para pagar o aluguel. O sistema está fora do ar, a caixa pergunta quanto ele quer tirar, e em um reflexo, em vez de dizer 300, ele diz 800. O sistema volta, o caixa vê que ele só tem 300, mas paga os 800, acreditando em sua palavra. E todo um novo mundo se abre para ele.

O filme tem 2 fases fantásticas: a primeira é a caracterização do mundo sem mentiras. Todos são sinceros o tempo todo, incluindo encontros ("Não vou mais sair com você, não quero filhos de nariz achatado"), trabalho ("Chefe, não vim trabalhar porque não estava com vontade") e relacionamentos sociais ("Oi, tudo bem?"/"Não, pretendo me suicidar hoje"). Os filmes são apenas "atores" lendo textos sobre fatos históricos, já que atuar também é uma forma de mentir. Mesma coisa para as propagandas. Impressionante como cada detalhe é pensado.



Jà a segunda fase é o que acontece quando Mark percebe que inventou a mentira (que nem nome tem) e começa inicialmente a entender seu dom, e depois a aproveitá-lo. Primeiro com seus amigos ("Eu sou um astronauta alemão com um braço só"/"Nossa, sua prótese é muito natural"), depois com a sociedade. As cenas dele ficando rico são hilárias.

Então, a parte que mais gosto: ao tentar consolar sua mãe no leito de morte, ele começa a inventar "fatos" sobre a vida após a morte. Enfermeiros e médicos ouvem e, no dia seguinte, uma multidão está na porta de sua casa buscando saber "a verdade". Sem entregar mais que isso (já contei demais...), a transição de "boas intenções" para "ganho pessoal" acontece da maneira mais rápida e engraçada possível. (e, opinião minha, provavelmente reflete um pouco de vida real....)

Falei um pouco mais do filme que o normal, porque não é tão conhecido assim, e porque acho que vale a pena ser assistido. Além disso, por trás de toda a graça e das situações inesperadas, podemos pensar no papel da mentira nas nossas vidas, e o quanto é inevitável e, em muitas horas, desejável. Ricky Gervais (o inglês que criou o The Office original), roteirista, diretor e ator principal neste filme, nos mostra isso de maneira muito original.

Nota: 7,0

PS: Caso queiram assistir, está passando na TV a cabo, peguei ele quase inteiro no Telecine Fun, domingo à noite.

sábado, 3 de março de 2012

Doutor Jivago (Doctor Zhivago, 1965)

Outro clássico: a história de amor entre o médico Dr. Yuri Zhivago e Lara, paixão de sua vida, durante os anos da Revolução Russa. Um épico de quase 3 horas e 20 minutos, contando praticamente toda a vida do médico, intercalando com a revolução e a guerra civil russa, que não apenas fornecem o background histórico como também afetam profundamente a vida dos protagonistas. Soberbo.

Enquanto pensava no filme, outra coisa me ocorreu: onde estão os filmes épicos? Não necessariamente no sentido de "extremamente bons", mas no sentido literal, os filmes que contam grandes histórias, ao longo de grandes espaços de tempo, acompanhando vidas e gerações de personagens? Filmes como E o Vento Levou..., Lawrence da Arábia e tantos outros simplesmente não existem mais. E não é o declínio de um gênero, como aconteceu com os westerns  e musicais, mas sim a derrocada de uma maneira de se contar uma história.

Imediatamente lembrei de um texto do André Barcinski recente, sobre a "infantilização do cinema", e devo concordar que provavelmente essa é a resposta. Não sei se por pressão de tempo, se por falta de paciência ou se porque as pessoas simplesmente não acham mais interessante, o fato é que hoje parecemos crianças no cinema. Não se fazem mais histórias densas, complexas, longas, e quando eu quero adaptar um livro longo, agora temos a solução perfeita: divide-se o filme em dois, além de não estressar por mais de 1:40 o pobre cérebro de quem vai ao cinema, ainda recebo 2 ingressos....

É uma pena. Há histórias que precisam ser saboreadas, degustadas e depois refletidas por muito tempo. Essa é uma delas. Além do roteiro, a fotografia, a trilha sonora (o famoso Tema de Lara), as atuações, tudo contribui para uma experiência única. É um dos filmes preferidos da minha mãe, e, ao contrário de Blade Runner, o fato de ter assistido mais velho só ajudou a saber assisti-lo muito bem.


A sorte é que décadas de cinema nos deixaram muitos e muitos exemplares desse cinema épico para redescobrir. Espero aqui estar fazendo a minha parte... :-)

Nota: 8,0

sexta-feira, 2 de março de 2012

Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich, 1999)

Esse filme é uma das razões pelas quais eu apoio a liberação das drogas. Não entendeu? A lógica é meio tortuosa:

Eu não acho possível que um cérebro em tudo similar ao meu (e aos do resto do mundo), nas mesmas condições do meu (experiência, conhecimento e até sobriedade) seja capaz de gerar um roteiro tão absurdo como esse. Sério. É impossível. A única explicação é o uso de alucinógenos fortes. E se o uso de alucinógenos fortes gera filmes como esse, quem sou eu para querer proibi-los? :-)

Brincadeiras à parte, é meio difícil imaginar como alguém consegue criar uma viagem de roteiro dessas. Não conhece? Lá vai: um puppeteer (como chama isso em português mesmo?), pressionado pela mulher, resolve arrumar um emprego "sério", já que a vida de artista não está rendendo o suficiente. Devido à sua habilidade com as mãos (!), consegue um emprego de arquivista no andar 7 1/2 (!!) de um prédio comercial. No trabalho, deixa cair uma pasta atrás do arquivo, e ao tentar recuperá-la, encontra uma porta minúscula, que leva à mente de John Malkovich (!!!!!). A partir daí, começa a explorar sua descoberta comercialmente, vendendo entradas inclusive para o próprio Malkovich. Sem estragar a experiência, o final então é de uma maluquice sem tamanho.

Sério, tem lógica? E o filme é fantástico. Claro, não apenas pelo roteiro, os atores também mandam muito bem. John Cusack é um baita ator, e aqui não poderia ser diferente. Cameron Diaz (quase irreconhecível), Catherine Keener, ótima, e o próprio John Malkovich estão fantásticos.


Quem já conversou de cinema comigo sabe que, pra mim, roteiro é no mínimo 70% do filme. Pode ter atores fantásticos, efeitos visuais de cair o queixo, produção, trilha sonora, etc. Se a história não for boa, não tem jeito. Afinal, cinema não é mais um jeito de contar histórias?

Me empolgo demais quando um filme traz um roteiro inovador, uma história diferente. Esse é um deles. Um roteiro que de maneira nenhuma eu poderia ter sequer concebido é uma das maiores recompensas de assistir um filme. Com o perdão do trocadilho, é como uma passagem de entrada para a cabeça de alguém.

Nota: 8,4 (37o. na minha lista de filmes favoritos)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Os Saltimbancos Trapalhões (1981)



Outro dia desses, quando minha filhinha Manu chegou da escola cantando "Uma pirueta, duas piruetas, bravo, bravo", bateu um misto de orgulho e surpresa. Surpresa porque nunca achei que ainda ensinassem essa música nas escolas. Xuxa, ok, um Balão Mágico, talvez, mas nunca os Trapalhões. E orgulho porque, afinal, tem tanta porcaria por aí tocando pra crianças que é muito legal ela gostar logo da mesma música que eu adorava quando tinha a idade dela. E, afinal, é do Chico Buarque, tem uma qualidade musical envolvida.



E, claro, também lembrei do filme. E agora achei legal que esse fosse o primeiro filme brasileiro a aparecer aqui no blog.

Regra dos 15 anos à parte, e muitos podem não saber disso (ou não concordar), mas houve de fato uma época quando Os Trapalhões eram engraçados. E eram um sucesso também. Filmes dos Trapalhões são 12 das 20 maiores bilheterias do cinema brasileiro em todos os tempos. Esse filme especificamente é considerado por alguns como um dos melhores (ou o melhor) que eles fizeram. Era o auge do grupo, e ao contrário dos filmes anteriores, esse procurava passar uma mensagem, não apenas de conteúdo mas política também. A história dos empregados pobres do circo, sendo explorados pelo dono, em busca de uma vida melhor era até "subversiva" em pleno regime militar (e provavelmente uma das razões de Chico Buarque ter se envolvido no projeto).

Mas o principal que eu queria falar aqui é sobre como a noção de humor evoluiu em tão pouco tempo. Sem entrar no clichê de "o politicamente correto está matando o humor", é uma diferença brutal entre as 2 épocas. Em um DVD que comprei dos melhores momentos dos Trapalhões, há um quadro em que eles, com fome, roubam uma galinha, são perseguidos e trocam tiros (!) com a polícia. Imagine isso em um programa de humor atual... mas ao mesmo tempo havia uma "inocência" maior, não se tinha uma preocupação com o impacto de tudo, ou com ofensas e "melindrações" de todos os lados. No máximo o Mussum respondia "Negão é seu passadis" e tava tudo certo. Tudo muito mais simples. Se é por isso ou não, não sei, mas hoje é muito difícil achar um humor decente. Talvez as pessoas estejam se preocupando demais.

O fato é que assisti esse filme de novo há pouco tempo, e continuei gostando. A paixão não correspondida do Didi (!) pela Lucinha Lins (!!), as lições de vida de nunca desistir, e de encarar a vida com senso de humor não importa o que aconteça ainda estão lá. E essas coisas sobrevivem ao tempo.

Nota: 6,0 (afinal não é nenhuma obra prima...)

PS: Não é cinema, mas eu precisava colocar aqui um dos melhores momentos dos Trapalhões na minha opinião, "Papai eu quero me casar". Obviamente hoje não iria ao ar, muito menos às 7 da noite de um domingo...