terça-feira, 13 de março de 2012

Adeus, Lenin! (Good bye Lenin!, 2003)

Acho que não conheço ninguém que não gostou desse filme. Leve (apesar do assunto), simpático, engraçado e com uma mensagem muito legal, o esforço de se agradar a quem se ama. Eu, pelo menos, adoro.

A história se passa na ex-Alemanha Oriental, e se inicia poucos meses antes da unificação alemã, já durante os protestos contra o regime comunista. O protagonista, contra a opinião de sua mãe, comunista fanática, vai a um desses protestos. Quando a mãe o vê, sofre um infarto e entra em coma por alguns meses. Ao acordar, o mundo em sua volta já mudou completamente: a Alemanha é uma só, e o capitalismo avança furiosamente. Orientado pelo médico a não submeter sua mãe a emoções fortes, o filho então "cria" uma Alemanha Oriental falsa, apenas para sua mãe.

O que poderia ser um filme de uma piada só se mostra uma história engraçada sim, mas muito humana, mesclando o esforço do filho de resgatar aquilo que todos os outros estão loucos para se livrar, com os momentos em que ele, sob os protestos da irmã, insiste em criar esse "mundo" para sua mãe. Filme altamente recomendado.

O que me traz a um assunto interessante, que é o cinema refletindo a História. Desde os primórdios, os filmes vêm sendo utilizados para contar (ou até para manipular) a História. Iniciando por filmes como O Nascimento de Uma Nação, com sua visão elitista e racista dos EUA, até as dramatizações do 11 de setembro pelo mundo, muitas vezes o cinema externa uma visão de mundo da época em questão, ajudando seus espectadores a lembrar, conhecer e formar opinião sobre o que vêem.

No caso da Alemanha, essa relação é bastante mais conturbada. Dona de um cinema bastante interessante nas décadas de 20 e 30, reduzido durante a guerra a peças de propaganda como O Triunfo da Verdade (independente de sua qualidade cinematográfica), o cinema alemão, assim como seu povo, ainda guarda uma relação de tabu com seu período mais negro: o domínio nazista, talvez se perguntando como puderam deixar ou ajudar aquilo acontecer.

Por isso, é muito mais fácil vermos o povo alemão rindo da época do comunismo (que, por sinal, é muito mais recente), do que do nazismo. Para mim, a sátira é uma das melhores ferramentas de "desconstrução" da história, e por isso talvez um dos primeiros atos de qualquer governo ditatorial é censurar suas manifestações artísticas, por seu caráter fundamentalmente contestador. E isso Adeus Lenin! faz muito bem, ao mesmo tempo mostrando os absurdos da vida no lado oriental, mas sem tomar partido do capitalismo.



"O povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la", já diz a frase clichê. Por isso são tão importantes as visões artísticas sobre a história de qualquer povo. Adeus Lênin! tem também essa qualidade. A Queda também é fantástico, não apenas como filme, mas como peça histórica. Filmes como O Leitor e outros também ajudam, de certa maneira, o povo alemão a fazer as pazes com seu passado e encará-lo de frente.

Independente de qualquer coisa, é um filme fantástico. Junto com o documento histórico, vem a mensagem universal de cuidar de quem se ama. E isso está na história de todos nós.

Nota: 8,1

2 comentários:

  1. Putz, quando estava lendo os seus últimos posts pensei: será que um dia ele vai colocar aqui "Adues Lênin!"? Pimba! Esse é sem dúvida um dos meus preferidos. A problemática inicial é bem legal e mais interessante ainda é como ela vai sendo tratada ao longo do filme. Sem efeitos especiais, sem dramalhão, sem apelar, a história flui perfeitamente. A cena da faixa da Coca-Cola sendo estendida e a mãe vendo assistindo pela janela é sensacional! Próximo fim de semana terei que alugar novamente para conferir! Ficam aqui meus primeiros parabéns formais (muitos foram dados, caladamente, ao final de cada post) nesse excelente projeto paralelo. No aguardo para o próximo...

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  2. Valeu pelos comentários! Eu ia falar sobre a cena da Coca-cola e acabei esquecendo, é fantástica. E o ator está muito bem, quase não dá pra acreditar quando ele faz papel de escroto em Bastardos Inglórios... vou ver se assisto de novo tb.

    abs!

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