segunda-feira, 2 de julho de 2012

Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, 2007)


Outro sub-gênero do qual ainda não tinha falado aqui no blog é o de Cinebiografias. Pra ser sincero, tendo a não gostar muito de biografias, seja em livros ou no cinema. Pensei um pouco e cheguei a 2 motivos principais. Um é "filosófico": acho que prefiro histórias originais, onde os autores não se prendem a acontecimentos reais, do que uma recontagem de coisas que aconteceram. Talvez por isso também não seja o maior fã de documentários. O outro motivo é a "chapa branca": com poucas exceções, biografias (especialmente no cinema) tendem a idealizar e romantizar a vida do retratado, minimizando defeitos ou decisões erradas, e principalmente dando um ar de triunfo e unidade à vida, como se tudo que acontecesse tivesse uma razão ou propósito, o que dificilmente retrata a realidade.

No entanto, a biografia se suporta principalmente no nosso desejo de ver que todos têm seus altos e baixos, sofrimentos, e conhecer detalhes de suas vidas que às vezes não sabemos. O caso de Piaf é exatamente esse. Sua vida era um filme esperando para ser feito: nascida em uma família muito pobre da Normandia, ela foi abandonada pela mãe, e deixada pelo pai para ser criada pela avó, dona de um bordel, que contou com as prostitutas para dar conta da tarefa. Ficou cega dos 3 aos 7 anos devido a uma doença desconhecida na época, teve uma filha que morreu aos 2 anos, tudo antes de ser descoberta cantando na rua com uma amiga. Seis meses depois, seu descobridor foi assassinado e ela acusada de sua morte. Apesar de ter morrido aos 47 anos, é ainda considerada uma das maiores (senão a maior) intérprete francesa, e tem centenas de músicas gravadas.

E como isso foi transformado em filme, afinal? Dada a profundidade de acontecimentos a serem mostrados, minha opinião é que ficou muito confuso. Normalmente gosto de decisões inovadoras de roteiro, mas a estrutura não-cronológica para mim não ajudou muito. Acho que ficou uma dificuldade de entender o que se passava quando, e ligar as reações dela aos acontecimentos passados. (Claro que o fato de ter assistido em 2 vezes, tendo que parar no meio, também não ajudou muito nesse sentido)

No entanto, esse filme tem um fator que muda tudo: Marion Cotillard. A então desconhecida (e linda) atriz francesa entra no papel de um jeito que poucas vezes vi (dizem que acontece o mesmo com Jamie Foxx em Ray, mas nunca assisti). Imagino como deve ter sido para os franceses, que conhecem a cantora muito melhor que eu, verem um de seus ídolos retratado com tamanha paixão. Além do Oscar que ela recebeu, merecidamente (embora seja lei que o Oscar de Melhor Atriz seja sempre dado para a atriz que sofreu a maior transformação física, preferencialmente ficando mais feia - Gwyneth Paltrow em Sheakespeare Apaixonado, Charlize Theron em  Monster, Nicole Kidman em As Horas são alguns exemplos que me vêm à cabeça), esse filme a tornou conhecida, abrindo portas para ótimas atuações em filmes como A Origem e Meia-Noite em Paris. É impressionante, você praticamente não enxerga a atriz por trás do papel (especialmente nas cenas com Piaf mais velha), é como se ela incorporasse a personagem nestas cenas. E é muito legal ver atuações nesse nível.


Assim, apesar de não gostar tanto assim de biografias, e de ter visto alguns defeitos neste filme em especial, não posso deixar de recomendá-lo. Pelo menos 50% da nota dele vem da atuação de Cotillard, e "não, não me arrependo" de tê-lo visto :-)

Nota: 7,0

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