quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Perfume de Mulher (Scent of a Woman, 1992)


Voltando aos anos 90, um dos filmes aos quais ouço mais elogios. É a história de um garoto (Chris O´Donnell), que apesar de estudar em um colégio abastado (com bolsa), passa por dificuldades financeiras e é contratado para cuidar de um militar cego e aposentado (Al Pacino), tentando ganhar algum dinheiro, enquanto é pressionado pela direção da escola a entregar alguns colegas que aplicaram um trote. Considerado uma pessoa difícil até pela família, que viaja para o feriado de Thanksgiving e o deixa aos cuidados de alguém, o Ten-Cel. Slade se recusa a ficar em casa conforme previsto, e faz com que Charlie (o garoto) o leve para Manhattan. No processo, o que iniciou como um relacionamento forçado e distante vai se tornando uma amizade, com Slade atuando como um improvável mentor junto a Charlie.

Eu gosto do filme. Mas provavelmente não tanto quanto a média. Não há como negar a estupenda atuação de Al Pacino (uma das suas últimas realmente boas, antes de bombas como S1m0ne), pela qual inclusive recebeu o Oscar de Melhor Ator. Sua interpretação do militar cego é impressionante e soa extremamente realista. Dá para ver o quanto ele se entrega ao papel. No entanto, em uma análise fria, o filme vai muito pouco além disso. Claro que já falei aqui sobre filmes que se apóiam em uma única cena (Letra e Música) ou mesmo em uma grande atuação (Piaf), mas para mim há uma diferença. Me permitam tentar explicá-la usando uma metáfora futebolística (se o ex-presidente pode, eu também posso).

Até o Al Pacino gosta de futebol.

Imagine um time com um grande craque e 10 jogadores medianos, comuns. Esse time possivelmente vai ganhar alguns (ou muitos) jogos. Mas, em geral, duas coisas podem acontecer: o craque carrega o time nas costas sozinho, ou então seu jogo faz com que os demais jogadores acabem se superando e jogando mais do que sabiam. Acho que já está claro onde quero chegar... Só para ficar em Al Pacino, em O Advogado do Diabo, outra fantástica atuação sua, ele puxa a qualidade geral do filme para cima. E olha que estamos falando de Keanu Reeves e toda a sua expressividade. A história, as atuações, o clima do filme se beneficiam de sua presença.

Para mim, não é o que acontece em Perfume de Mulher. Continuando um pouco mais com o futebol, é como se o time todo jogasse em função só do craque. Soa como se o filme fosse apenas uma ferramenta para mostrar a genialidade de Pacino. E, não me levem a mal, funciona muito bem, e o resultado geral é bom. Em muitos momentos seu brilho torna fantástico o que estamos assistindo. Mas, para que fosse um filme ótimo, acho que falta um pouco mais de unidade entre suas partes (convenhamos, Chris O´Donnell tem como "destaque" em sua carreira, além desse filme, 2 participações como Robin em filmes do Joel Schumacher. É bem pouco). E, embora o time de um só craque ganhe jogos e tenha seus brilhos, pode sentir dificuldade quando comparado a um que tenha como força o conjunto, sem nenhum destaque individual (tá aí a semifinal da Libertadores entre Santos x Corinthians que não me deixa mentir).

Tá bom, tá bom, chega de futebol.

Com tudo isso, como eu disse, eu gosto do filme, embora o ache meio Sociedade dos Poetas Mortos demais, se apoiando sobre uma grande atuação e um senso meio pretensioso de profundidade filosófica para parecer mais do que é. No entanto, se assistido como um grande monólogo de um grande ator, é uma experiência pra lá de prazerosa.


Nota: 7,0

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (Lord of the Rings: Fellowship of the Ring, 2001)


Fiquei na dúvida se falava sobre O Senhor dos Anéis como uma coisa só, ou dividia, com um post sobre cada um dos filmes. Acabei decidindo pela segunda opção, por achar que tenho assunto suficiente para 3 posts, e além disso ganho tempo para rever todos (tarefa não trivial, já que, nas versões estendidas, que quero assistir, a soma dos 3 filmes é de mais de 12 horas...). Claro que por conta disso, os 3 posts obviamente não serão consecutivos (nem sei se minha escassa audiência aguenta 3 posts seguidos sobre a mesma série de filmes....).

Durante muitos anos, O Senhor dos Anéis foi considerada uma série de livros impossível de ser adaptada para o cinema, por sua complexidade, grandiosidade de cenários, número de personagens, e principalmente, pela já conhecida dificuldade de se transportar histórias entre mídias diferentes, no caso dos livros para o cinema. O Senhor dos Anéis, o livro, envolvia raças diferentes, com línguas diferentes, e uma história que remonta a diversas eras, com um nível de detalhes trazido por Tolkien que o tornava virtualmente "inadaptável".

A Sociedade do Anel, o primeiro filme da série, começa a mostrar, se não o melhor, mas um dos melhores caminhos para conseguir transportar uma história de tal dificuldade para o cinema. A calma para desenvolver a história é impressionante. Um dos principais problemas de se adaptar um livro é a como montar o roteiro de maneira a condensar a história porém a mantendo compreensível, evitando filmes que só são entendidos por quem leu o livro, fenômeno tão comum. Uma introdução bem feita, apresentação de personagens competente e a evolução da história em um ritmo compreensível ajudam muito. E daí que o filme fica com mais de 3 horas? O público de filmes de fantasia, em geral, quer ver o máximo possível de suas histórias favoritas, e essa noção mais recente de que a audiência não tem paciência para filmes longos é risível (e deu origem a aberrações como a divisão de filmes visando mais lucro, como em Harry Potter, Crepúsculo e, infelizmente, O Hobbit).



Destaquei essa calma em desenvolver a história como um dos pontos principais que tornam A Sociedade do Anel um ótimo filme, e uma ótima adaptação, porque não vejo muita gente falando sobre isso, mas obviamente não é só isso que garante o sucesso do filme. As atuações são muito seguras (apenas acho Christopher Lee como Saruman um pouco caricato demais, mas Ian McKellen, por exemplo, é espetacular), a fotografia é absolutamente fantástica (especialmente em HD), e os efeitos visuais são absolutamente orgânicos, contribuindo com a história e não soando forçados. Ainda não há aqui as cenas grandiosas de batalha que veremos nos 2 filmes seguintes, mas algumas cenas (como a de Gandalf lutando contra o Balrog) são extremamente bem feitas. Da história não há nem o que falar, se baseando em um livro fantástico e sendo muito bem adaptada, como disse acima.

É um filme para todos? Obviamente não (minha mulher, que saiu no meio do cinema, que o diga), até porque é um gênero que atinge um público bem específico, mas tem alguns méritos inegáveis: trouxe o livro para todo um novo público (eu mesmo, que ouvi meu irmão falar dele por toda minha adolescência, só parei para lê-lo às vésperas do lançamento do primeiro filme), estabeleceu um padrão de qualidade difícil de ser batido para adaptações, e ainda criou uma saga belíssima, que deve figurar durante décadas com destaque nas listas de filmes mais importantes do cinema. Mais sobre a saga, nos futuros (e ainda sem data) posts sobre As Duas Torres e O Retorno do Rei.

Nota: 8,0

PS: Não podia deixar de citar aqui algo extremamente improvável, mas divertidíssimo. Não sou fã de funk, embora ache criativo, mas o vídeo abaixo é impagável. Afinal, não é todo dia que se vê um funk baseado em um filme como O Senhor dos Anéis. A letra é muito inteligente e pode ser lida aqui. Vale gastar uns 3 minutos e ver:




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Grande Dragão Branco (Bloodsport, 1988)


Existiu uma época muito distante na qual toda uma geração de crianças tinha uma gama de opções infinitamente menor do que hoje para se distrair em casa. Não havia internet, poucos tinham videogame ou videocassete, e especialmente aqueles que moravam em apartamento e não eram muito de sair para brincar na rua (como eu) contavam com exatos 7 canais de TV para escolher quando sentavam à tarde, após a aula, na frente de seu televisor. Dentre essas opções, programas voltados à senhora dona de casa, Chaves (sim, já existia), outros programas em geral desinteressantes (desenho animado, só de manhã), e, por fim, aquela que era responsável por dar alguma variedade a essa rotina das tardes após a lição de casa: a Sessão da Tarde.

Lendas dizem que ela ainda existe, mas claro que sem um pingo da relevância que já teve. Para essa geração de crianças, a Sessão da Tarde era o principal contato com a gama de filmes que o cinema nos apresentava a cada ano (em geral, uns 3 ou 4 anos depois, mas isso não vem ao caso). Verdadeiros clássicos da sétima arte dublada, como Curtindo a Vida Adoidado, Bingo - Esperto pra Cachorro, Remo - Desarmado e Perigoso, Loucademia de Polícia e tantos outros viraram verdadeiros ícones dessa geração sendo repetidos exaustivamente nas tardes da TV, logo após o Vale a Pena Ver de Novo (sim, algumas coisas nunca mudam).

O Grande Dragão Branco (que tradução, hein?) era outro desses ícones da TV do final dos anos 80. Com um Jean-Claude Van Damme recém alçado ao "estrelato" por Retroceder Nunca, Render-se Jamais (que por sua vez, passava nas noites da Bandeirantes), o filme conta a história "baseada em fatos reais" de Frank Dux, militar americano treinado em artes marciais desde sua infância (por um daqueles velhinhos japoneses mais clichês impossível), que resolve disputar (e vencer) o "Kumite", campeonato ilegal de artes marciais variadas disputado no oriente (não existia ainda o MMA), conhecido por não ter regras e por sua violência exagerada, tendo causado inclusive algumas mortes em sua história.

(aqui cabe um parêntese para falar sobre duas das maiores instituições dos filmes na TV dos anos 80. A primeira era o "baseado em fatos reais", o que no caso desse filme significa provavelmente que existiu um Frank Dux, que era um militar americano e..., bem, tinha dois olhos e uma boca. Esse era um expediente muito utilizado naqueles dramalhões do Supercine, por exemplo, para dar alguma "credibilidade" à choradeira que você via em cena. A segunda, o "pela primeira vez na televisão", utilizado especialmente pelo SBT para aqueles filmes que você já tinha cansado de ver. Silvão Santos chegou ao cúmulo de mudar o nome de um filme só para poder continuar dizendo que era inédito)



Era o "auge" dos filmes de artes marciais. Depois da morte de Bruce Lee nos anos 70, os filmes de luta acabaram migrando para o modelo do "super-soldado" que acaba sozinho com todo um exército inimigo (filmes do Stallone, Schwarzennegger, Chuck Norris e outros). Com o relativo esgotamento desse modelo, e com o surgimento de um tipo diferente de "atores", como Van Damme, e mais tarde Steven Seagal, o foco dos filmes voltou a ser a luta corporal (chegando ao extremo com Karate Kid...), e filmes de "torneios de artes marciais" surgiram às toneladas (seguido de jogos, como Street Fighter e Mortal Kombat, que por sua vez acabaram também virando filmes...).

Não vou ousar dizer que o filme é ótimo. Não, não é. Mas é divertido, especialmente se você entra no clima. Van Damme está canastrão ao extremo. As situações são bizarras. Mesmo as cenas de luta são inverossímeis. O vilão é extramente caricato (mas muito divertido, suas expressões são ótimas). Aliás, uma das cenas mais emblemáticas do filme é quando, para provar que é mesmo discípulo de seu mestre, Frank Dux desfere um (impossível) golpe que quebra (ou melhor, explode) apenas o tijolo de baixo de uma pilha de uns cinco. Todos ficam impressionados, menos o vilão (claro), que solta a frase que virou clássico: "Tudo bem, mas...

...TIJOLO NÃO REVIDA!!!!"

E depois, a tradicional quase morte do grande amigo do herói nas mãos do vilão, seguida de ameaças, trapaças e da também obrigatória vitória redentora do herói ao final. Tudo regado a várias repetições do movimento registrado de Van Damme: a abertura de pernas (espacate), até na cozinha pra não encostar no chão, que está eletrificado (ou pode ser que isso seja em outro filme e eu me confundi. São todos iguais...)

Nada como um alongamento leve a 300m de altura

Não sei se tenho muito mais o que dizer. Se você tem mais de 30 anos, provavelmente assistiu. Se não tem, talvez nem se interesse agora. Mas o fato é que era muito divertido, especialmente inserido na cultura da época. Por vezes fico pensando o que será dessa geração que tem centenas de canais, além de TV on demand, youtube, etc.... Precisamos também das coisas ruins para formar nosso caráter, oras!

Nota: 5,0

PS: Se você ficou curioso de ver ou rever o filme, mas não tem mais tempo de assistir Sessão da Tarde, seus problemas acabaram! O filme está disponível na íntegra no youtube, e (YEAH!) com a dublagem tosca original. Pegue sua pipoca, sente em frente ao seu computador e aproveite:




terça-feira, 14 de agosto de 2012

Lua de Fel (Bitter Moon, 1992)


Há atores que se transformam quase em "gêneros cinematográficos". São aqueles cuja presença em um filme em geral já diz tudo o que você precisava saber sobre o filme: o tipo, gênero, história, tom, e algumas vezes até o final da história podem muitas vezes ser inferidos apenas olhando quem participa dele. Hugh Grant é um exemplo (até já falei sobre isso aqui), Meg Ryan é outro (e por isso achei Em Carne Viva tão surpreendente), além, é claro, de brucutus como Stallone e Schwarzenegger (tirando desvios como Um Tira no Jardim de Infância).

Mas não é Hugh Grant o caso em discussão aqui (ele está nesse filme, mas apesar de seu papel ser meio que o de sempre, a história é bem diferente das quais estamos acostumados a vê-lo). Lua de Fel se encaixa em um tipo de filme geralmente tenso, abusado, chocante, com temática sexual, livre de amarras de pudor e convenções sociais, e portanto, não feito para todos os gostos. Esse tipo de filme fatalmente terá um de 2 atores (ótimos, por sinal), que para mim, simbolizam exatamente do que falo: Jeremy Irons (Lolita, Madame Butterfly, Gêmeos: Mórbida Semelhança e outros), para mim um ótimo ator, em geral subestimado justamente pelo tipo de filme que faz, e Peter Coyote, que é um dos atores principais deste Lua de Fel (e que também estrelou A Grande Arte, dirigido por Walter Salles - daí dá pra ter uma ideia).

No filme, Hugh Grant e Kristin Scott Thomas (Nigel e Fiona, mais britânicos, impossível) são um casal em lua de mel em um cruzeiro indo para Istambul, que conhecem um escritor americano paralítico, Oscar (Coyote) e sua namorada francesa Mimi (Emmanuelle Seigner, linda). Inicialmente se sentem ofendidos pelo jeito rude e grosseiro do escritor, mas, um pouco por se sentir atraído por sua namorada, o personagem de Hugh aceita sua proposta de conhecer a história de suas vidas, como se conheceram e chegaram ali.


É a partir daí que a história fica mais densa, e o desejo de Nigel por Mimi vai se acentuando conforme as sessões com Oscar vão aprofundando mais em sua história chocante. Não vou entrar aqui nos detalhes da história, que obviamente é bem mais interessante assistida, mas queria falar um pouco sobre o quanto gostamos ou odiamos nos sentir chocados, ou seja, até que ponto nossa moral limita o que queremos ver (não entrando no mérito de o que nos dispomos a realizar, já que esse é um blog de cinema, a arte "voyeur" por definição).

Eu, pessoalmente, vejo uma diferença grande entre o "choque gratuito" e aquele que se insere em um contexto. Ou seja, filmes e pessoas que apresentam algo para gratuitamente chocar ou escandalizar alguém perdem muitos pontos comigo (um exemplo besta é a Lady Gaga aparecendo em uma festa dentro de um ovo gigante - convenhamos, isso é ridículo, e pessoas só fazem isso porque há desocupados que repercutem). Para mim, o exemplo clássico cinematográfico é Almodóvar (pausa para desviar das pedradas): reconheço méritos em seus filmes, inclusive tendo gostado muito de A Pele que Habito, o mais recente, mas acho que ele perde a mão muito facilmente. Exagera mesmo. Suas comédias são bastante honestas, especialmente as do começo da carreira, mas o tipo de drama que ele geralmente faz traz forçadas de barra desnecessárias, estilo novela mexicana mesmo, sem uma contraparte na história, ou seja, ele poderia contar as mesmas histórias de maneira menos sensacionalista. Ou sou eu que tenho, afinal, um baixo limite para me sentir ofendido, como claramente aconteceu em Má Educação.

Voltando ao filme em questão, claro que mentes mais sensíveis podem se escandalizar, mas o diretor Roman Polanski, na minha opinião, insere os momentos mais agressivos da história em um contexto bastante interessante. Claro que o filme não é perfeito, e em alguns momentos ele perde a mão um pouco, mas o filme deixa um saldo positivo.

Acho que, como falei antes, tudo se resume ao gosto pessoal de cada um. Como eu disse, o filme claramente não é para todos, mas aqueles que se dispuserem a abdicar por 2 horas de alguns preconceitos poderão gostar bastante. Além disso, como já disse em vários outros posts, acho que o cinema fica mais interessante quando nos leva, de maneira consistente, a experiências que não tivemos (ou não teremos) em nossas vidas, seja viajando entre galáxias, visitando a Idade Média, ou, como é o caso aqui, entrando na mente, relacionamentos e preferências sexuais de outras pessoas. Em resumo, eu gostei do filme e recomendo. Nem que seja para fazer como Hugh Grant no filme, e se sujeitar a uma história pesada só para ver a garota bonita... :-)

Nota: 6,0

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mamma Mia! (2008)


Mais uma vez falo aqui sobre um musical, e mais uma vez sobre um que tenho impressão que não muita gente gosta. Aqui pelo menos acho que é mais fácil entender: se não gosta de ABBA, dificilmente vai gostar do filme. E, tá bom, eu confesso: eu adoro. O ABBA e o filme. Significa? :-)



Como eu disse no texto sobre Moulin Rouge, gosto muito quando um musical utiliza músicas já famosas, ou pelo menos conhecidas. A idéia aqui vai um pouco adiante: resgatar um pouco do que fizeram, por exemplo, Elvis e os Beatles, montando a história do filme baseado em músicas de um único intérprete, ou banda. Com a diferença que, lá nos anos 50/60, o filme funcionava um pouco como o videoclipe funciona hoje, um recurso visual para promover a música (ou as músicas) de trabalho daquele momento. O que Mamma Mia fez, inicialmente no teatro e depois no cinema (além de Across the Universe, um pouco depois) foi basear a história do filme em toda a discografia da banda em questão, quase como um tributo ou homenagem.



Não que a história seja algo muito elaborado: uma garota que vive com a mãe em uma ilha grega descobre, pouco antes de seu casamento, um diário da mãe que aponta três possíveis candidatos a serem seu pai, que ela nunca conheceu. Escondida da mãe, resolve convidar os três para a cerimônia pensando em finalmente descobrir qual é de fato seu pai.



E nem poderia ser nada mais sofisticado que isso. Primeiro, pela óbvia dificuldade em se encaixar um roteiro às músicas da trilha sonora (embora, justiça seja feita, 90% delas falem sobre corações partidos ou sobre a procura do amor). Além disso, nem é a idéia, ao contrário dos musicais mais "sérios" que a história seja algo profundo demais: o objetivo é divertir quem gosta das músicas, os que vão cantar junto no cinema (isso eu não fiz - não em voz alta, pelo menos).


E, se diversão é o objetivo, ele é plenamente atingido aqui. E não apenas para o público. Pierce Brosnan, que faz o papel de um dos possíveis pais, ao anunciar que faria parte do filme, disse algo como "vou passar uma temporada em uma ilha grega, cantando músicas do ABBA com Meryl Streep. E ainda vão me pagar para isso!". Dá para ver claramente que o elenco está se divertindo. Portanto, claro que não dá para esperar a performance da vida de Meryl Streep, por exemplo, embora ela segure muito bem a responsabilidade, inclusive nas cenas de canto, o que não dá para dizer de todos os atores... Amanda Seyfried (gracinha) segura bem as músicas e o papel principal, mas um destaque tem que ser dado a Christine Baranski, uma atriz muito subestimada que vem do teatro e é extremamente versátil: faz aqui o papel da amiga maluca, mas já foi uma ricaça esnobe em Segundas Intenções, a mãe de Leonard em Big Bang Theory, uma advogada importante em The Good Wife, isso apenas os papéis que me vêm à mente. É o total oposto da escola Nicholas Cage de atuação (o mesmo papel em todos os filmes).



Bom, e a trilha sonora? Preciso falar? Claro que todo mundo conhece (mesmo que não goste de) pelo menos uma meia dúzia das músicas do filme, e atire a primeira pedra quem nunca dançou "Dancing Queen" em alguma festa de casamento. Como eu disse, claro que depende da pessoa gostar do ABBA para curtir o filme, mas não se preocupe, se você não é fã, eu só vou gostar um pouquinho menos de você...



Sei que é ridículo, mas é legal. Live with that. :-)

Nota: 8,0



domingo, 5 de agosto de 2012

[Para quem não viu] Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012)


(este texto foi escrito evitando-se falar sobre a história do filme ou entregar pontos importantes da trama, para poder ser lido por quem ainda não o assistiu. Se você já viu o filme, leia também ESTE texto, que completa a discussão com "spoilers")


Desde o momento em que subiram os créditos de Batman: O Cavaleiro das Trevas, e com o consequente anúncio do terceiro filme desse "renascimento" do Batman, os fãs se perguntavam: como superar um filme tão brilhante? Como encerrar de maneira compatível uma história que finalmente quebrou a barreira entre super-heróis e filmes sérios? E principalmente, como continuar a história sem um personagem marcante como o Coringa, que ao mesmo tempo marcou definitivamente a trilogia, mas criou um problema criativo a partir do momento que seu intérprete, Heath Ledger, faleceu?

Para mim, a principal decisão de Christopher Nolan, acertadíssima, surpreendente, e que ajudou a equacionar esses problemas acima, foi modificar totalmente o arco da história, ancorando este terceiro filme não seguindo diretamente a história de O Cavaleiro das Trevas, mas sim ancorando sua história de forma a ecoar Batman Begins.

A história se passa 8 anos após o segundo filme. Batman assumiu a morte de Harvey Dent e desde então nunca mais apareceu. Baseado nesta mentira, o comissário Gordon consegue aprovar leis mais severas e, com isso, Gotham está em paz, praticamente limpa do crime. Enquanto isso, Bruce Wayne se tornou um recluso, não aparecendo nem em festas beneficentes em sua própria mansão. Até que um grande perigo ameaça Gotham, e a cidade volta a precisar do Batman, a quem culpou por 8 anos pela morte de seu mais adorado cidadão.



Nisso, o primeiro paralelo com Batman Begins: a jornada de auto-conhecimento de Bruce Wayne, saindo do fundo do poço e se "transformando" no personagem que, em sua visão, é o que sua cidade precisa. Claro que, assim como nos primeiros filmes, nada é maniqueísta, o filme se passa muito mais em cinza do que em preto e branco. A própria decisão de Wayne, de voltar à ativa, mesmo tendo ainda sequelas de sua última atuação, não será fácil e muito menos sem consequências.



Como filme, obviamente está um degrau abaixo de Dark Knight, e não tinha como se esperar o contrário. Apesar das quase 3 horas de duração, o filme introduz tantos personagens novos e arcos de história que algumas coisas passam meio corridas. Não que a história seja mal escrita: Christopher Nolan e seus roteiristas mais uma vez fazem um trabalho fantástico de roteiro, mantendo o pé na realidade e dando um clímax interessante à trilogia. As atuações também continuam destacadas. Desde os atores recorrentes, como Christian Bale (amadurecido, no ponto da trilogia em que seu personagem mais exige), Gary Oldman, Michael Caine (meio sumidos no filme, mas com momentos muito emocionantes) e Morgan Freeman, além das novas adições: Joseph Gordon-Levitt, continuando sua evolução como ator e se destacando cada vez mais, Marion Cotillard, com uma personagem um tanto perdida no filme, Anne Hathaway, dando uma roupagem realista para a Mulher-Gato (diga-se de passagem, ela não é propriamente a Mulher-Gato dos quadrinhos, ou dos filmes anteriores) e Tom Hardy, irreconhecível como Bane, mas mostrando muitos recursos para mostrar a índole maligna do personagem com expressão facial limitada.

E ainda assim é mais expressivo que a Kristen Stewart

Mas não acho que o jeito de avaliar esse filme seja individualmente. Ele é parte de uma trilogia, e uma cuja história é muito coesa. Ou seja, é o final de uma história maior, e portanto não é feita para funcionar (ou ser assistido) separado. Isso inclusive significa que, se você levar sua namorada que não viu os outros filmes para o cinema, ela vai reclamar, não só por ser o Batman, mas também por não entender direito o que está se passando... Significa também que, se possível, é uma boa assistir os outros filmes (especialmente Begins) antes de ir ao cinema.

Como final da trilogia, aí sim se vê o valor de O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Resgatando não apenas pontas soltas dos filmes anteriores (especialmente o primeiro), mas também mantendo a filosofia da saga, e tornando tudo mais grandioso. Os três filmes podem ser vistos tranquilamente de uma vez só, e como uma história só (caso você tenha umas 8 horas seguidas disponíveis...). Nesse jeito, inclusive, é possível ver vários paralelos entre o primeiro e o terceiro filmes, já que os dois tratam, de certa maneira, de Bruce Wayne se tornando o Batman, embora sob circunstâncias e em condições diferentes. É o melhor filme da saga? Não. É o final que a história e seus fãs mereciam? Muito. Se você gostou dos filmes anteriores, não demore para assistir esse. Garanto que não vai se arrepender.

Nota: 8,1 (56o. colocado na minha lista de filmes favoritos)