quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Highlander (1986)


Um grupo de imortais, que foram nascendo ao longo dos séculos, destinados a um confronto final em uma terra distante. Um escocês nascido na Idade Média, que percebe que é um deles, e ao mesmo tempo prepara-se para este confronto e vive sua vida, sabendo que, enquanto todos à sua volta nascem, envelhecem e morrem, ele passará os séculos inalterado.

Esse é outro dos clássicos da Globo dos anos 80. Não fez grande sucesso quando lançado, mas foi virando cult ao longo dos anos (e das reprises), e é mais um daqueles filmes que acabou ficando na memória coletiva dessa geração. Conta a história de Connor MacLeod (Christopher Lambert), que descobre ser um imortal, quando é atacado por um ferimento mortal e... bem, não morre.  Banido de sua vila, ele para de envelhecer e percebe que não é uma pessoa normal. Aos poucos ele vai descobrindo que, como ele, há alguns outros imortais, que só podem ser mortos tendo suas cabeças cortadas por um outro imortal, e que, em um ponto no futuro, os poucos que sobrarem se encontrarão para duelarem até que sobre apenas um, que receberá um grande prêmio e a imortalidade definitiva ("There can be only one!!!).

(um dado importante: ao contrário do que pensam algumas mães de jogadores de futebol, Highlander não apenas não é o nome dele - e sim uma referência às Highlands, região montanhosa da Escócia de onde ele se origina -, mas também não se escreve "Railander"... hehehe)

Além da premissa, a maneira de contar a história também é bem interessante, alternando épocas antigas (como a Idade Média), onde aos poucos vai entendendo o que se passa, e aprende a lutar com um mentor também imortal (Sean Connery), com os dias atuais, onde aguarda o confronto final enquanto relembra sua longa vida, na qual vive o conflito de não envelhecer junto aos que ama, enquanto assume de vez em quando uma nova identidade para não ser descoberto.

Claro que há pontos ruins no filme também. Tirando o mito Sean Connery, os atores não são grande coisa (Christoper Lambert surgia como uma promessa nessa época, que nunca se concretizou propriamente - era apenas seu segundo filme em inglês, língua que havia aprendido há pouco tempo), os efeitos especiais também não são fantásticos. Nada que tire a graça e o interesse sobre o filme.

Mas ainda falta falar do que, na minha opinião, é a principal razão do filme ser o que é:





Sua trilha sonora. Um dos poucos casos que conheço de que a trilha inteira do filme é feita pela mesma banda (excluindo, claro, compositores de "scores" instrumentais como Ennio Morricone ou Alan Silvestri), e ainda com o detalhe de que eles compuseram a trilha com o filme já quase pronto, e portanto puderam se inspirar na história e nas imagens para a composição. Diz-se que eles tinham sido contratados apenas para uma música, mas quando viram o filme, cada um deles passou a trabalhar inspirados nas cenas que mais gostaram. Brian May compôs "Who Wants to Live Forever" no táxi voltando para o hotel, e Roger Taylor usou a frase "It´s a Kind of Magic" como base para a tão famosa música, que toca nos créditos finais. E tudo isso com a genialidade de Freedie Mercury nas interpretações. Não tinha como dar errado. Assim como já falei sobre Mamma Mia, com essa trilha o filme nem precisava ser muito bom para ser memorável. E ele é muito bom.

Nota: 7,0

PS: Apenas não esqueça de uma coisa: nunca, mas NUNCA, sequer considere as continuações. Assista apenas ao primeiro. Sério.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de tus Ojos, 2009)


Já que parte da culpa de eu ter sumido por tanto tempo do blog foi o fato de ter viajado para a Argentina, achei justo que o texto de retorno fosse sobre um filme argentino, até porque nunca falei sobre nenhum aqui. Não vi muitos; assim, escolhi o mais recente (e, na minha opinião, o melhor) dentre os que vi: O Segredo dos Seus Olhos (era esse ou Evita...).

Ricardo Darín (o Wagner Moura deles, porém mais onipresente, se é que isso é possível) faz o papel de um investigador veterano, aposentado, que resolve escrever um livro sobre um dos primeiros casos em que se envolveu, e que permanece não resolvido. Ao revisitar as pessoas envolvidas na investigação da época, pode acabar encontrando novos fatos relativos ao caso, e ter que enfrentar fantasmas de seu próprio passado que haviam sido deixados de lado.

O filme é excelente, algo passional (afinal, é um filme latino), mas sem os exageros do cinema espanhol. Mistura bem os dias de hoje com as passagens em flashback, e a investigação do caso com a própria vida pessoal do protagonista, que ao mesmo tempo que investiga o assassinato, envolve-se com sua chefe casada (Soledad Villamil). Mas o que impressiona mais é a maturidade do roteiro, além do balanço perfeito entre uma história um tanto universal com aspectos da vida na Argentina.



Aqui cabe uma comparação: por serem vizinhos, e por terem passado um pouco pelas mesmas situações ao longo de sua história (e até pela rivalidade, por que não?), Brasil e Argentina tendem a ser comparados em quase tudo, incluindo futebol, política, desenvolvimento... pois bem, quando confrontados em termos de produção cinematográfica, ao menos nos últimos anos, não é novidade para ninguém que estamos muito atrás. Ultimamente, no Brasil, existem basicamente 3 tipos de filmes: aqueles estilo "Globo" (Se Eu Fosse Você, Muita Calma Nessa Hora), que são basicamente versões mais longas de programas ruins; os ultra-mega-alternativos-cabeça (Paraísos Artificiais, Apenas o Fim), cheios de maneirismos de escola de cinema e com pouca "substância"; e os clássicos favela-movies, que até vieram de bons exemplares (Central do Brasil, Cidade de Deus) mas que hoje mais parecem uma competição de quem mostra mais pobreza, como se o cinema tivesse uma dívida a pagar com o povo brasileiro, mostrando seus sofrimentos.

Voltando ao assunto, essa para mim é a grande vantagem do cinema argentino frente ao brasileiro. Seus filmes, como eu disse antes, são mais universais (só brasileiros - e nem todos - entendem as piadas de Cilada.com, por exemplo), mas sem esquecer o toque local. Além disso, tratam de temas mais variados, como Nove Rainhas (comédia sobre uma quadrilha de ladrões), O Filho da Noiva (drama sobre o envelhecimento), e tantos outros. Ou seja, foge do "veja os problemas de nosso país, precisamos fazer alguma coisa" que tanto vemos por aqui.

Faltou dizer que o filme é ótimo, bem desenvolvido, com uma história que prende a atenção (e um "plot-twist" no final daqueles de deixar a boca aberta), e que dosa bem o crime investigado, os dramas pessoais, e a situação no país durante a ditadura, sem se tornar monotemático ou desinteressante. As atuações são ótimas, assim como o roteiro e a fotografia. Um de vários filmes argentinos que vale a pena ver.


Nota: 8,4 (39o na minha lista de filmes favoritos)

domingo, 2 de setembro de 2012

Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune, 1902)


O post de hoje é mais uma homenagem que uma crítica. Li na internet que hoje faz "apenas" 110 anos que esse filme foi lançado. É considerada a primeira ficção científica da história do cinema, criada pelo escritor visionário francês Georges Meliès.

É impressionante que um filme desse tenha sido criado apenas 7 anos depois da data considerada como a invenção do cinema. Em 1895, aconteceu o que foi considerada a primeira sessão de cinema do mundo, com a apresentação do filme Chegada do Trem à Estação no "cinematógrafo" dos irmãos Lumière. Até então, as únicas tentativas bem-sucedidas de apresentação de imagens em movimento eram praticamente individuais, e apenas com o cinematógrafo foi possível mostrar um filme a uma audiência maior (cerca de 30 pessoas na primeira sessão).

Os primeiros filmes eram essencialmente "documentários", ou seja, filmagens de cenas cotidianas. Meliès foi um dos primeiros a de fato criar roteiros, utilizando recursos como trucagem, sobreposição de imagens e efeitos visuais. Viagem à Lua é um de seus primeiros filmes. Com apenas 15 minutos (o conceito de "longa-metragem" ainda não era o mesmo de hoje - inclusive, por se tratar de um filme mudo, a duração pode variar de acordo com a velocidade de projeção), o filme mostra um grupo de "cientistas" (que parecem mais bruxos) viajando para a Lua em um foguete disparado por um canhão. Chegando lá (na cena mais conhecida do filme, onde o foguete aterrissa no "olho" da Lua), os cientistas encontram uma civilização que lá vive (os selenitas), são aprisionados, fogem e voltam à Terra, onde são recebidos com festa.


A mistura de ficção e fantasia é fascinante. Ainda "descobrindo" a nova arte, Meliès se livra das amarras da realidade, mostrando os corpos celestes humanizados, habitantes da Lua, além das cenas do lançamento serem muito inventivas. É curioso imaginar como os pioneiros do cinema imaginavam e criavam, sem os "padrões" estarem estabelecidos. Muitos anos antes do cinema colorido ter sido inventado, esse filme foi mostrado colorido, sendo que cada um dos mais de 13 mil fotogramas foi pintado à mão (por sinal, essa versão colorida foi dada como perdida até 1993, quando uma cópia em estado quase de decomposição foi achada na Espanha. Foi restaurada e mostrada no Festival de Cannes de 2011).



O filme completo pode ser visto abaixo. É um documento de uma época, do nascimento de uma arte, e merece muito ser visto:


Como eu disse, essa não é uma crítica e sim uma homenagem. Portanto, não faz sentido falar em minha nota para esse filme, já que ele nem pode ser comparado aos filmes que normalmente avalio aqui. O que vale mesmo é esse registro, e acho muito notável o quão rápida é a evolução do cinema, que pode nos dar uma jóia dessas em apenas 7 anos, e ter chegado onde chegou em apenas 110. E esse blog (especialmente esse post) é um reconhecimento a essa grandeza.