quinta-feira, 29 de novembro de 2012

De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1985)


É responsabilidade demais falar sobre esse, que é um dos meus filmes preferidos, provavelmente o que assisti mais vezes na vida, e que foi mais importante na minha formação como criança/adolescente nerd do que a série Star Wars. Deve ser por isso que demorei tanto para falar dele. Mas, tudo alguma hora chega, então vamos lá.

Esse filme saiu quando eu tinha 8 anos, e como os outros todos que estão em sua frente no meu ranking são filmes que vi depois, durante um tempo foi meu filme favorito (só desbancado em 1989 - adivinhem - por De Volta para o Futuro Parte 2). Para mim, era (é?) o filme perfeito: comédia, ação, viagem no tempo, tiradas interessantes, momentos emocionantes, suspense.... tudo sem exagero, equilibrado, e conspirando para um filme empolgante.



Mas o que exatamente o faz tão interessante? Para mim, a história. Um garoto adolescente normal, como tantos outros (e com quem tantos podem se identificar, portanto), que tem uma namorada, uma banda (que não parece que vai fazer sucesso), e é amigo do cientista maluco local, em uma cidadezinha chamada Hill Valley. Um dia, no entanto, esse cientista o chama para ajudar a testar a invenção do século: uma máquina do tempo instalada em um carro. Algumas coisas saem errado e, quando vê, Marty está no ano de 1955, conhece seus pais quando adolescentes e acaba interferindo no início do namoro dos dois. Agora tem que desfazer o que fez para não ameaçar sua própria existência.

E é aqui que está a grande diferença do filme: a viagem no tempo (que eu adoro) é um meio e não um fim. O principal se passa em 1955, onde o choque cultural entre Marty e a geração anterior, aliado à sua incredulidade em aceitar que seus pais, tão conservadores, tinham sido adolescentes como ele (a cena em que ele, assustado, vê sua mãe com decote, bebendo e ainda é beijado por ela é fantástica - mas foi o que fez a Disney recusar o filme, pois uma mãe beijando seu filho seria algo inimaginável em seus filmes) traz situações muito interessantes, e uma vontade real de saber o que vai acontecer (como ele resolve o problema dos pais, e se consegue voltar para seu próprio tempo). Como qualquer filme que envolve viagem no tempo, tem alguns (poucos) furos de roteiro e paradoxos, mas nada que comprometa a qualidade geral.


As piadinhas e paralelos entre as duas épocas no filme também são sensacionais. O jeito que o valentão da cidade trata o pai de Marty no passado e no presente, o tio presidiário  que "adora ficar no cercadinho" no passado, e, claro, ele se empolgando ao tocar Johnny B. Goode na década de 50, e o guitarrista da banda ao telefone: "Chuck, aqui é seu primo Marvin Berry. Lembra aquele som que você estava procurando? que tal isso?". Absolutamente genial.


Aliás, a trilha sonora também merece destaque. Além da já citada Johnny B. Goode, o tema do filme (que, se toca no carro, me faz acelerar automaticamente para chegar a 88 milhas por hora), e as demais músicas de Huey Lewis compõem uma ótima trilha. Os atores também estão ótimos, Michael J. Fox praticamente "virou" Marty McFly por boa parte de sua carreira (e, por estar filmando a série Caras e Caretas na época, só podia fazer suas cenas à noite), e Christopher Lloyd também é um Doc Brown memorável.

Provavelmente não consegui transparecer aqui toda a minha empolgação com esse filme. Mas, como acredito que quase todo mundo já viu, acho que não preciso convencer ninguém a assisti-lo. É outro daqueles filmes que você pode até não gostar, mas nesse caso eu é que vou gostar um pouco menos de você :-)

Nota: 9,3 (9o. colocado na minha lista de filmes favoritos)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Queda (Der Untergang, 2004)


Como eu já disse antes, o nazismo e a II Guerra Mundial estão entre os assuntos mais retratados pelo cinema. Não à toa, já que foi uma das épocas que definiram o século XX. Um pouco mais raro é o cinema alemão (e os alemães em geral) abordar o assunto, já que, apesar dos quase 70 anos que se passaram, o assunto ainda é de certo modo tabu na sociedade alemã. Muitos ainda se perguntam como foi possível que a sociedade inteira de seus antepassados pudesse fazer parte (ou pelo menos compactuar) de um dos maiores genocídios da história.

Só por isso esse A Queda já seria algo a se destacar. Com uma visão crua e direta focada nos últimos dias de vida de Hitler, já cercado em seu bunker de Berlim, e aceitando a realidade de uma guerra perdida, o filme traz justamente essas questões: "O que fez com que as pessoas acreditassem tão cegamente nesse homem e nessa causa? Até que ponto tinham ou não opção de se opor?"

Mas o filme, claro, tem outras qualidades. Baseado em um livro escrito por Traudl Junge, sua secretária particular, o filme se passa em menos de uma semana, entre o aniversário de 56 anos do "Führer" e o final da guerra na Alemanha, com seu suicídio e a rendição do país. E a caracterização desse período é assustadora de tão boa. O clima claustrofóbico, a tensão da derrota e da invasão dos russos, o dilema entre o medo de morrer e a devoção a Hitler, tudo contribui muito para um filme extremamente realista e muito bom. Mas talvez o principal fator de sucesso do filme seja a atuação de Bruno Ganz como Hitler. É assustador o quanto ele incorpora o papel, tendo estudado discursos e conversas privadas do líder alemão, além de comportamento de pacientes de Parkinson, e juntado isso tudo de maneira extremamente competente. A principal cena do filme, mostrando a reação dele ao descobrir que não tem como evitar a tomada de Berlim, colocando a culpa em seus generais, ficou tão famosa que já foi "legendada" com todos os assuntos possíveis, de mudança de time de jogador de futebol americano a discussões sobre Harry Potter. Um primor:


Mas um ponto que me agrada demais no filme é a "humanização" da figura de Hitler. A mente das pessoas trabalha melhor com conceitos extremos: uma pessoa é bonita ou feia, honesta ou corrupta, boa ou má (e até por isso, por exemplo, novelas são tão calcadas nessa dicotomia). Para nós, é de certo modo reconfortante achar que podemos identificar o mal absoluto, ou seja, que alguém capaz de fazer as maldades que Hitler fez  não seja considerado humano, assim como nós. Enxergá-lo como uma pessoa "comum", com amores, temores, emoções, virtudes (por que não?) e falhas quebra esse "conforto", mostrando que heróis e vilões também são como nós, são feitos do mesmo material, e mostram que nós também temos nossas virtudes e defeitos. E isso é fascinante.

Nota: 8,2 (48o. na minha lista de filmes favoritos)



PS: Fazia tempo que eu queria falar desse filme, por ser um filmaço. No entanto, os acontecimentos de ontem acabaram me incentivando a antecipar essa resenha. Fica aqui a "homenagem" ao time do Palmeiras, não apenas pelo nome do filme (A Queda), como também na cena seguinte (o pessoal é rápido...)


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Juno (2007)


Recentemente, é difícil um ano em que um filme considerado "independente" não faça um sucesso considerável. Filmes como Pequena Miss Sunshine, Juno, Guerra ao Terror e O Artista foram bem sucedidos comercialmente, e mostram que nem sempre a estrutura dos estúdios é totalmente necessária para que um filme fique conhecido (embora mesmo filmes independentes acabem contando com estruturas de divulgação dos estúdios), gerando filmes diferentes, com histórias que não ficam amarradas à aprovação de produtores profissionais, garantindo em tese uma maior liberdade de temas e abordagens.

Juno foi um dos primeiros a marcar essa tendência, contando a história de uma adolescente que fica grávida do melhor amigo de maneira inesperada, e tenta seguir sua vida, muitas vezes sendo a mais madura entre todos que a cercam. É um filme simpático, com uma personagem principal cativante (a ótima Ellen Page, que descobriu uma reserva de mercado de papeis de adolescente precoce em filmes onde a atriz precisa ser maior de idade), e muito pontuado justamente por esse estilo "indie", no tema, na abordagem, e até na trilha sonora.

Mas, na minha opinião, não é um filme tão bom. A impressão que dá é que diretor/roteirista se preocuparam tanto em serem descolados em cada cena, cada diálogo, cada música, que perderam a mão na dose. Não é dizer que filme de gravidez na adolescência precisa necessariamente ser um dramalhão, onde a garota sente que perdeu sua vida e é castigada pela imprudência, coisas do tipo. Mas também fica irreal se ela não está nem aí (ainda mais porque a personagem não é construída como alguém que "não está nem aí"), e está mais preocupada em novas bandas independentes ou em dar respostas espertinhas o suficiente para parecer uma personagem de Gilmore Girls.


O filme parece se passar em uma versão fofinha, otimista e descolada do universo real. Mesmo as cenas de conflitos, problemas e dificuldades parecem passar sem grandes traumas, como se aquilo de fato não tivesse acontecido, ou como se não fizessem diferença na história que o filme quer contar. Primeiro ela não quer ter o filho, depois quer, aí acha um casal adotivo, gosta deles, se envolve com o futuro pai adotivo sem nem perceber, indiretamente causa a separação do casal, entra em crise porque quer uma família para o filho, depois sai da crise, fica feliz, conversa com a amiga no ultra-hypado telefone de hamburger, dispensa o amigo, gosta do amigo, canta com o amigo... e nada disso parece fazer muito efeito na história nem na personagem, que meio que termina o filme como começou. Ah, mas as 18 citações ultra-indies por minuto estão lá, e é isso que importa. Para que se preocupar com o futuro se podemos falar de bandas semi-desconhecidas?



Outra coisa que não ajuda é a atuação de Michael Cera, que faz o papel do amigo de Juno. Com ele, a nova geração de atores que só fazem o papel de si mesmos continua bem representada (para orgulho dos patronos Nicholas Cage e Jack Nicholson). Apesar de ter melhorado um pouco em Scott Pilgrim Contra o Mundo (pelo menos a ponto de não estragar o filme), e sabendo que o papel exigia um pouco isso dele, o ator está muito apático, muito abaixo da interpretação de Ellen Page, ela sim uma ótima atriz, não apenas aqui como em filmes como MeninaMá.com e A Origem. Mas não apenas Michael Cera como todo o elenco de apoio parecem estar meio no automático, sem muita paixão nos papeis. E isso, para mim, tirou qualquer envolvimento que eu pudesse ter com a história.

Mas que profundidade dramática tem esse rapaz!

A iniciativa de filmes independentes para fugir das restrições dos grandes investidores para mim é ótima. Mas nem todo filme "mainstream" é necessariamente ruim, e nem todo "indie" é necessariamente ótimo. E nem todo mundo que fala de filmes é necessariamente coerente e inteligente :-)

Ainda bem. E viva a diversidade.

Nota: 6,0

sábado, 10 de novembro de 2012

A Onda (Die Welle, 2008)



Os alemães têm, como era de se esperar, uma relação conturbada com seu passado. Já falei sobre isso, inclusive, no texto sobre Adeus Lênin. Ao mesmo tempo em que têm certo medo do que eventuais manifestações de nacionalismo podem vir a causar, não gostam de se sentir responsáveis por algo que seus antepassados fizeram há mais de 70 anos. O início desse filme retrata bem isso: em uma semana de "projetos especiais" em uma escola alemã de ensino médio, Rainer, um professor novato e meio revolucionário (um dos clichês de filmes mais repetidos, por sinal), apesar de querer dar aula sobre anarquia, acaba sendo designado como professor de autocracia/ditadura. Por gostarem do professor, vários alunos se inscrevem no curso, mas logo se vê o desânimo quando um aluno diz algo como "vamos falar de nazismo de novo? não acredito que ainda achem que, depois de tudo o que aconteceu e de tanto que nos falam isso, essa geração ainda tem alguma chance de repetir a história", e todos meio que concordam.

A partir do ponto de vista dos alunos, Rainer propõe então algo diferente: que ele e seus alunos formem uma sociedade fechada, que define suas próprias regras, que todos devem seguir, e iniciando-se como uma democracia, já que os próprios alunos elegem seu líder no primeiro momento (o próprio Rainer). Aos poucos, o sentimento de unidade vai se formando entre eles, que decidem utilizar uniformes, ter um nome especial (A Onda), e criam logos, saudações e todo tipo de ferramenta de unidade (que, obviamente, acabam virando ferramentas de segregação). Inicialmente, alguns alunos que sempre se sentiram excluídos ficam mais felizes por finalmente se sentir parte de algo, embora poucos outros comecem a perceber os perigos dessa união. Claro, não é preciso ser adivinho para saber que o experimento dá errado.


Alguns pontos estranhos no roteiro acabam tornando o filme algo mais alegórico do que documental. Não fica muito claro qual era a verdadeira intenção de Rainer ao propor o experimento (eu não consigo ver um desfecho "pacífico" para ele), nem porque ele demora tanto para encerrá-lo com as evidências de que algo está errado. Parece que algumas coisas acontecem só para que a história chegue onde precisa chegar. Não chega a ser um defeito que incomode, já que o principal é a mensagem por trás: as pessoas são naturalmente atraídas por fazerem parte de um grupo, e tendem a hostilizar e, se possível, controlar os que não são parte dele. Não importa o quanto saibam que não deveriam, ou as consequências disso.

A alegoria acaba sendo o ponto forte do filme. Por mais que algumas situações soem forçadas, dá pra acreditar sinceramente que, em situações similares, pessoas (e até você mesmo, por que não?) teriam essas reações. Já disse em algum momento que gosto muito de filmes que examinam as pessoas e suas reações, como se fossem estudos antropológicos. Neste filme, por mais construídas que sejam as situações, esse aspecto de estudo da mente coletiva é muito interessante, especialmente quando se chega a extremos. E, claro, o filme mostra que, por mais que tenham estudado a vida toda os efeitos de um regime autoritário, os alunos "caem na armadilha" sem pensar muito.

Concorde ou não com a mensagem, sempre é interessante ver filmes que fazem pensar, especialmente quando analisam e propõem discussões de como somos enquanto pessoas. Mesmo que a conclusão não seja a melhor possível...

Nota: 7,5