quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, 2012)


Após um sucesso estrondoso (e merecido) da trilogia O Senhor dos Anéis no cinema, foi apenas uma questão de tempo até que se acertasse a filmagem de O Hobbit, que na série de livros se passa bem antes dos eventos de O Senhor dos Anéis. Na verdade, foi o livro que deu origem a tudo, uma história infantil de J.R.R.Tolkien, da qual puxou o momento em que Bilbo "ganha" o anel de Gollum para ser o ponto de partida para sua trilogia mais famosa (e que demorou 17 anos para ser escrita).

Já no cinema, como sabemos, o caminho foi o inverso. O livro que precede a trilogia começou a chegar aos cinemas apenas em 2012, quase dez anos depois de O Retorno do Rei. E esse, para mim, é um dos seus problemas. Enquanto o livro tem uma inocência quase infantil (embora o conceito de livro infantil tenha mudado bastante nessas décadas), o fato do filme vir depois de uma trilogia de tanto sucesso o carrega de uma responsabilidade que antes não tinha. Não basta uma história leve de alguns anões e um hobbit em busca de um tesouro. Tudo tem que ser maior, mais longo, mais grandioso... e talvez tenha havido um exagero aí.


Me refiro, inicialmente, à decisão de filmar O Hobbit também como uma trilogia de filmes. Veja bem, a minha edição de O Hobbit tem menos de 300 páginas, enquanto O Senhor dos Anéis (livro único) chega a 1100. O resultado é que esse primeiro filme (inicialmente seriam 2, agora 3) é muito arrastado. As cenas claramente duram demais, parece que eles ficam 70% do tempo andando... e até o vilão é "adaptado", uma vez que o personagem Azog não participa do livro, tendo sido retirado dos apêndices escritos por Tolkien, onde é descrito como um grande matador de anões.



Claro que visualmente o filme é maravilhoso, as cenas de batalha e os cenários são muito bem criados, e que o material original de Tolkien dá um toque de roteiro excelente à história. Outro detalhe positivo é a famosa cena "Adivinhas no Escuro" ("Riddles in the Dark"), que acontece neste filme, e mostra como foi afinal que Bilbo colocou as mãos no famoso anel que, tempos depois, geraria uma "guerra mundial". A cena é bem feita, o Gollum parece cada vez mais realista e Martin Freeman é um bom ator, que capta muito bem o personagem, suas hesitações e sua evolução ao longo do filme.

Falando nisso, as atuações são boas, embora não cheguem ao nível da trilogia original. Além de Freeman e Andy Serkis como Gollum, os principais personagens não comprometem, embora em vários momentos seja difícil distinguir os anões entre si. Ian McKellen (que acho um ótimo ator) aparentemente entrou em um piloto automático com Gandalf, o que não é ruim, mas não necessariamente bom.

O que me preocupa mesmo é a divisão em 3 filmes, e a famosa "síndrome do filme do meio" principalmente. O primeiro filme apresenta os personagens e estabelece seus objetivos, enquanto o último tem a (geralmente grandiosa) batalha final e a vitória redentora. Mas o que teremos no segundo filme? Mais anões andando e sendo atacados por "bandidos aleatórios"? Ou, como eu disse quando vi o filme, se as águias deixassem os anões um pouco mais pra frente, economizava um filme inteiro....


Mas aparentemente, eu fui um dos poucos que não gostou tanto assim do filme, já que ele bateu vários recordes de arrecadação em apenas 3 semanas de exibição. E, pensando bem, mesmo com tudo que falei, o filme é bom, nos leva de volta a um universo fantástico, e claro que estarei na fila na estréia do próximo...

Nota: 7,0

PS: Enquanto escrevia esse texto, descobri na internet que hoje (3 de janeiro) é aniversário do nascimento de Tolkien (que nasceu em 1892). Fiquei duplamente honrado: primeiro por ter feito essa "homenagem" involuntária com o post, e segundo por também ter nascido em 3 de janeiro, dividindo pelo menos esse detalhe biográfico com o mestre.