terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012)


(este texto se refere ao filme. Para ler sobre o livro, clique aqui)

Indicado a oito Oscars, o filme O Lado Bom da Vida é uma comédia romântica de certo modo diferente, fugindo um pouco do modelo batido de casal que luta contra tudo para ficarem juntos. Conta a história de Pat (Bradley Cooper), que, após pegar sua esposa com outro homem, quase o mata, tem diagnosticado um distúrbio bipolar, e acaba passando oito meses em um hospital psiquiátrico. Ao sair, seu principal objetivo é reconquistar sua esposa, até que conhece Tiffany (Jennifer Lawrence) uma garota estranha que também teve seus problemas psiquiátricos ao ficar viúva, e que pode (ou não) ajudá-lo a atingir seu objetivo.

E o que a fez ser uma "comédia romântica diferente"? Bom, o filme "presta mais atenção" aos personagens, especialmente Pat. Fica claro desde o início que a tal "ameaça a Pat e Tiffany ficarem juntos" não é a ex-esposa dele, que por sinal está mais presente em sua cabeça do que na sua vida. São eles que têm que evoluir e se acertar, lutando contra seus problemas para voltarem a viver em paz. Além disso, o relacionamento entre os dois nunca é o foco principal, e apesar de torcer por eles, o espectador não vê idas e vindas de um casal sendo mostradas como o que realmente importa no filme. Isso é legal.


O filme lida com as "dificuldades psiquiátricas" dos protagonistas de uma maneira leve, mas não leviana. É justamente a jornada de Pat para superar seus problemas (com o apoio de sua família, seu terapeuta, e, em última análise, de Tiffany) que diferencia o filme, especialmente quando ele percebe que ajudar Tiffany pode ser o caminho não apenas para tentar se reconciliar com sua esposa, mas também algo que deve ser feito. O filme não segue o caminho dos conflitos reais, tudo acaba se resolvendo muito facilmente, mas ainda assim você consegue sentir a evolução de Pat e Tiffany como personagens.

Os atores estão muito bem. Bradley Cooper abandona um pouco a imagem de galã vazio (construída especialmente nos filmes da série Se Beber Não Case) e entrega uma atuação honesta, enquanto Jennifer Lawrence começa a se estabelecer como atriz, embora achei que podia dar um pouco mais de profundidade no papel da "louquinha adorável". Além deles Robert de Niro, que não precisa provar mais nada, está bem como o pai, que também tem seus distúrbios, e se divide entre a vontade de ter seu filho próximo, e seu vício em apostas. Chris Tucker está irreconhecível como o amigo que Pat faz no hospital (ele era o apresentador bizarro de O Quinto Elemento, e é seu primeiro filme desde 1997 que não é da série A Hora do Rush).


Agora, o que não gostei do filme: li o livro semana passada e me decepcionei um pouco. Claro que o livro é sempre mais complexo, aprofundado e portanto, mais rico como história que o filme, em praticamente todos os casos, mas nesse caso o foco da história é diferente. Por exemplo, o livro não é uma comédia romântica, e a própria evolução dos personagens acontece de maneira muito diferente. Sem entrar em detalhes aqui (tem um post sobre o livro no meu outro blog, link no topo), o que aconteceu foi que demorou para que eu percebesse que, basicamente, estava vendo outra história, só que com os mesmos personagens e a mesma linha mestra de acontecimentos. É impossível dizer o que eu teria achado se só visse o filme, mas é possível sim admirar ambos, cada um em sua esfera.

Sugiro também que leiam o livro, mesmo que já tenham visto o filme. Não se preocupem com perder o interesse por já saberem o fim da história: os finais são muito diferentes. Até a cena de dança estilo Pequena Miss Sunshine do final, apesar de acontecer também no livro, tem um contexto e um desfecho muito diversos.

Em resumo, não é o melhor filme do mundo, não deve ganhar Oscar, mas é uma comédia romântica acima da média. Vale a pena.

Nota: 6,0


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Apocalypse Now (1979)


"Ah, o horror, o horror!". Considerado um dos melhores filmes de guerra já realizados (para mim, o melhor), Apocalypse Now carrega no realismo ao retratar a Guerra do Vietnã, sua violência, condições sub-humanas, e a insanidade de seus quase 20 anos de duração. Conta a história do Capitão Willard (Martin Sheen), que parte em uma missão secreta para localizar e assassinar o Coronel Kurtz (Marlon Brando), que supostamente enlouqueceu e se transformou no chefe de um grupo de extermínio dentro do próprio Vietnã.

O (longo) filme se passa durante essa jornada de Willard rumo ao coração do Vietnã, em busca de Kurtz, mostrando diferentes aspectos da guerra: as missões suicidas e sem razão aparente, a extrema crueldade dos americanos contra os vietnamitas, e, em especial, a sensação de que ninguém sabe direito o que está fazendo ali.


Ao mesmo tempo acompanhamos também a lenta "queda na real" de Willard. Já no início do filme ele está perdido, sem perspectivas, sem ver sentido na vida nem no Vietnã nem em suas voltas para casa: "Quando eu estava aqui, queria estar lá; quando voltei para lá, tudo que eu podia pensar era em voltar para a selva". Durante sua missão, várias das facetas da guerra vão se mostrando, e sua opinião sobre toda a insanidade que vai presenciando também evolui ao longo do filme.

Tecnicamente, o filme é quase perfeito: a filmagem nas Filipinas empresta um ar de autenticidade às locações, a trilha sonora é impressionante (misturando The Doors, Beach Boys e Rolling Stones com a Cavalgada das Valquírias, de Wagner, em uma épica cena de bombardeio), e o roteiro tem o exato grau de confusão suficiente para envolver o espectador na história sem entregar o que vai acontecer em seguida. Minha única ressalva nesse ponto é a versão do diretor ("Redux"), com 49 minutos a mais, que foi a que assisti, e em vários momentos "quebra" o ritmo da história com "sub-plots" inteiros meio desnecessários, o que mostra que a edição original tinha o ponto exato de roteiro ideal.

O interessante é que tão famoso quanto o filme acabou sendo o período de filmagens, tão atribulado que o filme quase não saiu: Martin Sheen estava bêbado e se feriu durante a filmagens das cenas iniciais no hotel, e depois teve um ataque cardíaco, que foi encoberto por Coppola como se fosse estafa, para que o filme não fosse interrompido; Marlon Brando se apresentou 40kg mais gordo e sem ter lido nada do roteiro, querendo improvisar todas suas cenas; a filmagem, em vez de 5 meses, durou 16, e mais 2 anos foram necessários para editar o filme.


As atuações, claro, são um capítulo à parte. O elenco que Coppola teve à disposição para esse filme não apenas é estrelado como estava inspiradíssimo, apesar (ou por causa) das péssimas condições de filmagem. Lawrence Fishburne (o Morpheus de Matrix) mentiu a idade durante a audição e foi escalado para o filme com 14 anos; Harrison Ford faz uma pequena, mas marcante aparição como o militar que passa a missão a Willard; Robert Duvall (talvez um dos atores mais subestimados de sua geração), também em uma participação pequena, onde diz a famosa frase "Eu amo o cheiro de napalm pela manhã" e bombardeia uma praia apenas para que os soldados possam surfar; Dennis Hopper e seu jeito "hippie", vivendo um repórter-investigativo que é cooptado pelo "culto" a Kurtz; e, claro, Sheen e Brando, antagonistas com opiniões parecidas, e adversários do mesmo lado da guerra, mais uma das insanidades de um conflito já visto na época como sem propósito.


Tudo isso monta um dos filmes mais importantes da história do cinema, e um dos cartões de visita de uma geração de diretores (Coppola, Spielberg, Lucas, Scorsese) que, a partir dos anos 70, transformou o cinema, para o bem ou para o mal, e que, no caso de Coppola, teve a coragem de meter o dedo na ferida de uma guerra que havia acabado de terminar, e que ainda tinha implicações na Guerra Fria por mais de 10 anos. Caso ainda não tenha visto, e se estiver lendo esse texto assim que eu o publiquei (ou seja, está na internet em um sábado de carnaval), aproveite o tempo livre e dê um jeito de ver. É uma experiência edificante.

E ainda querem me convencer que Guerra ao Terror (que ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2011) é um excelente filme de guerra. Please....

Nota: 8,5 (30o. na minha lista de filmes favoritos)


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Madagascar (2005)


Não sei porque, mas não costumo falar muito sobre animações e/ou filmes infantis aqui, então acho que está na hora de mais um, que por sinal, minha filha de 4 anos adorou (assistiu a trilogia inteira em uma sentada só, o que para uma criança dessa idade é um milagre): Madagascar. A história fala sobre 4 animais do Zoológico do Central Park que, em uma tentativa de voltarem a seu "habitat", acabam criando uma confusão na cidade e são enviados por engano para a ilha de Madagascar, juntamente com um grupo de pinguins que mais parecem um grupo de mafiosos. Chegando lá, têm seu primeiro contato com a "vida selvagem", sendo recepcionados por um grupo de lêmures e passando pelo choque da adaptação.

O filme segue a tendência das animações mais recentes, principalmente desde Toy Story em 1995, de "abrir" seu público-alvo, com uma história voltada para crianças, mas com detalhes ou algumas piadas que só os adultos entendem. Imagino que isso tenha a ver com a mudança no poder de criar trazido por Toy Story (que foi a primeira animação computadorizada de longa metragem lançada no grande cinema), já que possibilitou aos estúdios e produtores se livrar um pouco das amarras de até então, que resultavam em filmes basicamente limitados a histórias infantis clássicas ou transposição de super-heróis. Ajudou nesse processo também o sucesso da Pixar, cujos filmes de animação transformaram o segmento em algo muito diferente.



Aliado a isso, percebeu-se que o público adulto ajuda muito nas receitas de ingressos, merchandising e no próprio "recall" dos filmes. Acho que nunca vi uma criança elogiando Wall-E, mas sim vários adultos. Mesmo Shrek e Madagascar, que são da Dreamworks e não da Pixar, seguem o mesmo caminho.

Madagascar não é uma das obras-primas da animação recente, mas é bem divertido. Tanto para adultos quanto para crianças. Minha filha adorou os personagens, a história, o visual e as aventuras. Veio me pedir pra mostrar no mapa onde ficam Nova York e Madagascar. Eu gostei de algumas piadas, referências de outros filmes e também da história como um todo.

Outra coisa que eu gostei, e gostaria de destacar aqui foi a dublagem. Em geral, não gosto de filmes dublados, acho que perde muito da qualidade e da expressão original dos atores. Não questiono, em geral, a qualidade da dublagem brasileira, mas sim o "clamor" popular pela dublagem que vem acontecendo recentemente (outro dia fui ao cinema e a garota do caixa avisou "olha, é legendado, viu?", como se pedisse desculpas). Agora, em filmes para crianças, por motivos óbvios, é necessário. E, nesse caso, essa necessidade se transformou em algo bastante divertido, especialmente pela "atuação" de Guilherme Briggs (que fazia a voz do Freakazoid, por exemplo) como o Rei Julien, personagem muito engraçado que os animais do filme encontram em Madagascar.



A personalidade do personagem é passada de maneira brilhante por essa atuação (que supera muito a dublagem original, de Sasha Baron Cohen, o Borat). Inclusive é dele o principal momento do filme: o clip musical "Eu me Remexo Muito", parte importante do "Hit Parade" de músicas aqui de casa. Ou seja, a Manu adora. E eu também:


Em resumo, um filme muito legal, daqueles que não me importo de ver mais vezes (e quem tem filho pequeno sabe da taxa de repetição do que os pequenos mais gostam), e, principalmente, bem feito e sem a síndrome recente de tratar as crianças como burros ou de ter a necessidade de passar mensagens educativas a cada frame (uma criança de 4 anos não precisa ter palestra sobre trabalho em equipe no desenho que assiste em casa, né?). Ou seja, uma ótima animação, para adultos e crianças.

Nota: 7,5