terça-feira, 4 de março de 2014

Gravidade (Gravity, 2013)



"Espaço, a fronteira final". Já na década de 60, com Star Trek, e mesmo antes disso, em Viagem à Lua, o espaço sempre fascinou o cinema, como morada do desconhecido, fonte de ideias novas, e como destino para a eterna busca do homem por novas fronteiras, povos, e até de entedimento sobre si mesmo. Talvez o maior exemplo disso seja 2001: Uma Odisséia no Espaço, onde a exploração do infinito pelo homem o leva a descobertas que o fazem entender e questionar a própria existência.




Com o tempo, e com a "corrida espacial" se tornando mais comum e trazendo cada vez menos novidades na vida real, o espaço em si foi aos poucos deixando de se tornar o protagonista das histórias, passando a um papel secundário, por exemplo, em filmes sobre extraterrestres, com poucas exceções, como o excelente "Contato". O homem cada vez menos olhava para cima em busca do desconhecido.

Esse é, para mim, um dos primeiros méritos de "Gravidade": o espaço talvez seja seu principal personagem. Mas não da maneira usual, como fonte de descoberta, conhecimento ou até destruição, mas sim como o "vilão" do filme. É de fato um paradoxo, o infinito como uma prisão, o local onde a existência humana é mais frágil.

Sarah (Sandra Bullock) não é uma habitante usual desse ambiente. Ela, que não é astronauta, está como técnica em um módulo espacial, fazendo alguns consertos, quando um acidente com um satélite russo lança destroços que acabam destruindo o módulo, deixando como sobreviventes apenas ela e o comandante da missão, o veterano Matt (George Clooney), que estavam do lado de fora. A partir daí, o filme conta a história desses dois personagens e sua luta para sobreviver com pouco oxigênio e chegar a uma estação de onde possam voltar à Terra, enquanto se protegem das ameaças inesperadas que encontram na jornada.





A história em si não tem grandes inovações, além do ambiente em que se passa. É a tradicional história de superação de alguém fora de seu ambiente, que luta contra ele para garantir sua sobrevivência. A tal jornada do herói sem tirar nem pôr. Mesmo as atuações não emocionam: George Clooney está em uma de suas atuações burocráticas (felizmente ainda não são todas assim), e Sandra Bullock, apesar de vitórias e indicações no Oscar, não tem essa qualidade toda para segurar o filme sozinha em termos de atuação. 

Mas de fato o grande destaque nesse filme é a parte "técnica": trilha sonora (jogando com o vácuo x música, na brincadeira do personagem do George Clooney de colocar som nos auto-falantes), som (e ausência dele), e principalmente na fotografia. A imensidão do espaço é extremamente bem representada, mas não só isso. Os takes com o ponto de vista dos personagens são muito interessantes - a primeira cena do acidente, onde a câmera acompanha Sarah girando passa uma sensação de agonia ao imaginarmos que ela não vai conseguir parar (lembre-se da inércia ao flutuar no espaço). Além disso, algumas tomadas bastante longas, especialmente na fuga de Sarah na estação chinesa, tornam o filme muito interessante tecnicamente, e, assim como Avatar, dá um passo adiante em termos de recursos para contar uma história no cinema.





Quem me acompanha (deve ter uns 2 ou 3...), sabe o quanto eu valorizo um bom roteiro, o quanto para mim fotografia, trilha, atores, tudo isso são ferramentas para se contar uma boa história. E que, sem um bom roteiro, o resto é desnecessário. Não acho que Gravidade chegue a esse ponto. É uma boa história, interessante, e tornada muito mais interessante com uma nova abordagem cinematográfica. E, resgatando o que eu disse lá em cima, transforma a imensidão na maior prisão, e isso também é agoniante. Pena que já saiu do cinema, especialmente do IMAX. É um dos poucos filmes que justifica o "exagero". E são poucos filmes que trazem algo novo, algo que te instiga a pensar no que pode ser feito a partir daí.

Nota: 8,1 (60o. na minha lista de filmes favoritos)

[abaixo, só para quem já viu o filme]


PS: Há teorias na internet que dão conta que Sarah morre no momento que desliga o oxigênio do módulo chinês, e que a visão que ela tem de Matt não é suficiente para que ela se salve, sendo apenas efeito da hipoxia (ausência de oxigênio). Acho um pouco forçado, mas só o fato de permitir esse tipo de leitura alternativa mostra que o filme tem também seus méritos de roteiro, não apenas de esmero técnico. 


Um comentário:

  1. Achei o roteiro muito piegas. Era possível contar a mesma história sem apelar pros clichês da superação. Nota 6,5
    Darw

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