quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Os Pássaros (The Birds, 1963)



Os poucos que me lêem por aqui sabem que não tenho preconceito com clássicos (pelo contrário, gosto de muitos), não faço questão (na verdade, nem gosto muito de) histórias fáceis, e gosto de filmes do Hitchcock (Um Corpo Que Cai e Janela Indiscreta são excelentes filmes). Então peço sua ajuda, caro leitor: onde é que estou errado em achar Os Pássaros um filme péssimo?

Não costumo escrever muito aqui sobre os filmes que não gostei. Em alguns casos, escrevo só pra descer a lenha no filme mesmo (como Menina de Ouro), mas em outros, como Blade Runner, tento entender o porquê de não ter gostado do filme, já que é tão famoso e tanta gente parece gostar. Esse é o caso aqui: tentarei listar as razões pelas quais eu odiei o filme e peço que me ajudem a entender nos comentários. Obviamente, falarei bastante da história, então segue o aviso: se você não viu e ainda quer ver o filme, não leia o texto. Contém spoilers.

O filme conta a história de uma região litorânea perto de San Francisco, onde, sem razão aparente, todos os tipos de pássaros começam a atacar as pessoas. Sem entender bem o que acontece, os moradores tentam se proteger e fugir da ameaça.



Situações inverossímeis e mal desenvolvidas: a moça conhece o rapaz em uma loja de pássaros, depois manda um "stalking" agressivo, descobre onde ele passa o fim de semana e vai atrás com a desculpinha de "presentear a irmã dele com periquitos" (?). Após uma tentativa patética de se esconder, é descoberta e... nada acontece. O rapaz leva isso numa boa, e o fato tem quase nenhuma importância para o filme. A moça conhece a professora local, descobre que ela é um ex-caso do rapaz, e... nada. A professora conta para ela que a mãe do rapaz é perigosa e foi a responsável pela separação deles, a mãe faz umas caras sinistras para a câmera, e... nada. Eu poderia dar outros exemplos, mas a impressão que dá é que Hitchcock foi abrindo situações para o filme e depois as descartou sem cerimônia. Ou tirou seus desdobramentos do filme na edição.

Sem falar que, em boa parte dos momentos, as pessoas não reagem como alguém real reagiria. As pessoas, sabendo da ameaça dos pássaros, se colocam em situações de risco. A moça stalker inventa uma historinha muito da vagabunda quando o rapaz a "descobre" "escondida" em um bote no meio do lago. Ele acredita. Toda a cena do bar, quando a moça tenta convencer as pessoas que os pássaros atacaram a escola é simplesmente inacreditável. Em vez de buscar saber o que aconteceu, as pessoas dão uma de malucos: uma mulher fica recitando nomes científicos de pássaros, outro passagens da Bíblia, e uma mãe tampa as orelhas dos filhos para que eles não fiquem com medo de ir à escola. Parte do bar acusa a protagonista de causar os ataques (moralismo, Hitchcock, jura?). Poderia simbolizar o surrealismo da situação (como assim, pássaros atacando pessoas?), onde ninguém sabe como reagir, mas para mim soou apenas como uma cena irritante e sem propósito.



Atuações constrangedoras: para quem já teve James Stewart, Kim Novak, e Anthony Perkins, o casal formado por Rod Taylor e Tippi Hedren (quem?) é quase uma vergonha. Ambos têm carisma negativo, e pouco ajudam em dar alguma vida aos diálogos e situações ruins do filme.

As mulheres: tudo bem que o filme é dos anos 60, mas o próprio Hitchcock, em filmes anteriores, já havia criado personagens femininas mais bem desenvolvidas. Aqui, mesmo a moça stalker, que dá uma de independente, quanto a professora que largou tudo por um amor, são personagens fracas, rasas, que passam o filme todo querendo ser "salvas" por um mocinho que não diz a que veio. Já a mãe do protagonista, pintada como a "megera" que destruiu o relacionamento dele com a professora, passa o filme todo caindo pelos cantos, e no momento em que começa a criar (ou parecer que cria) um vínculo com a protagonista (e você acha que pode ser algum tipo de manipulação), adivinhe!, nada acontece.

O final: Nada contra finais abertos, de maneira alguma. Um dos meus filmes favoritos, Feitiço do Tempo, não explica absolutamente nada e é genial. A cena do confinamento dentro da casa, que supostamente deveria ser o ápice do horror, é chata e previsível (e o que a moça foi fazer no telhado, afinal?). Tudo bem, é um filme de 50 anos atrás, podemos dar um desconto. Aí a cena de suspense apoteótica, com ele saindo para buscar o carro, aquela tensão toda, e...nada. Você ainda tem uma esperança quando a garota pede para levar a gaiola dos periquitos, mas (adivinhe de novo) nada. Os últimos 20-30 minutos de filme se tornam apenas um estorvo inútil. Vamos lá, você é o Hitchcock, pode fazer melhor, vai!


"Mas o filme não tem nada de bom?", você que resistiu até aqui pode me perguntar. Olha, a menos que o pessoal nos comentários mostre que estou errado (o que eu realmente quero que aconteça), para mim, muito pouco. A premissa principal é bem bolada, e o trabalho de produção e filmagem, com o tanto de pássaros que foram necessários, impressiona. Mas só isso. E o pior é que eu esperava muito, por se tratar do considerado "Mestre do Suspense", de quem já vi filmes ótimos. Mas, novamente, posso ter visto o filme em um dia ruim, ou simplesmente ter sido burro para entender as referências. Por isso peço: me malhem nos comentários ou no twitter. Quem sabe eu mudo de opinião. Torço para isso.

Nota: 2,0 (entra na lista dos 10 piores filmes que já vi)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen, 2013)


Faz tempo que esse post está no rascunho, mas demorei a escrever porque não sei de fato o que falar de novo sobre esse filme. Em especial, não consigo entender muito bem porque, com animações da Disney sendo produzidas industrialmente, logo esse fez tanto sucesso, especialmente entre as meninas. Pensando nisso, tentei entrevistar a especialista em filmes de animação infantis aqui de casa, a Manu, 6 anos, que já viu o filme mais de uma dezena de vezes, no mínimo.

A história, como você provavelmente já sabe: Em um reino nórdico, duas princesas irmãs (Elsa e Anna), após perderem seus pais, se preparam para a coroação de Elsa, que tem o poder oculto de transformar as coisas à sua volta em gelo. Tudo dá errado, ela congela todo o reino e foge. A partir daí, Anna enfrenta o inverno inesperado para resgatar sua irmã e devolver o reino a seu estado natural.


Manu não soube me explicar muito bem do que gostou ("Ah, papai, tudo é legal"), mas suspeito que um primeiro ponto, ainda que ela não saiba, seja justamente esse: duas personagens principais são mulheres, e muito do filme se passa entre elas, sem que se defina "herói" e "vilão" e sem necessariamente uma presença masculina forte e inabalável, tão comum nas fábulas infantis. Em um dado momento, os próprios personagens tripudiam de uma delas que decidiu se casar muito rápido. Acho que isso tem um certo apelo a uma geração que cresceu sem o conto de fadas dentro de casa.

Outro fator importante é algo mais imponderável: o carisma dos personagens. Não há exatamente um personagem fraco ou sem graça. As irmãs são personagens amáveis, bem desenvolvidas, e, claro, lindas. Olaf, o tradicional alívio cômico, acerta em cheio no carisma, e, pasmem, na dublagem de Fábio Porchat. Os demais seguram bem a onda e não comprometem.



Outro ponto importante: a trilha sonora. As músicas são interessantes e bem colocadas, no tradicional modeo Disney de colocar uma música no momento mais importante para explicar o que o personagem está sentindo. Até Shrek já satirizou isso. Porém, acho que aqui está o maior trunfo do filme: Let It Go.


É impressionante a atração que essa música tem sobre as crianças (e o chiclete que vira na cabeça dos pais, claro). Não sou músico, então nem vou tentar explicar a razão, mas é incrível como a canção (vencedora do Oscar) é redondinha e agradável. O DVD do filme traz clipes dela em várias línguas e (como a Manu já viu todos, claro) posso dizer que é igualmente magnética até em malaio.

No mais, visualmente o filme é muito bonito, já que a paleta de cores do inverno é bastante favorável. A animação é bem avançada, muito bem feita, e o 3D funciona bem com os cenários de neve e gelo. Algo que não me agradou é o "plot twist" do filme, que não vou comentar aqui, mas achei tardio e inexplicável. Talvez um efeito colateral dos personagens mais "cinza", e portanto sem uma definição clara de "bem" e "mal" tão presente nos filmes infantis. Me soou muito forçado, e por mais vezes que eu veja (e, acreditem, já vi muitas), não consigo uma explicação decente para o que acontece, e porque não acontece antes.



No entanto, o saldo é positivo. A mensagem de amor do filme é bonita e contradiz o modelo tradicional de "princesa aguarda príncipe que salva tudo e se apaixona por ela". Só isso já mostra uma enorme evolução. Mesmo que a Manu não saiba explicar porque gostou tanto do filme, não vou achar ruim que ela goste nem que assista centenas de vezes. :-)

Nota: 6,0