segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars VIII: The Last Jedi, 2017)


AVISO #1: Esse texto contém spoilers. Muitos spoilers. Não vou conseguir falar desse filme sem falar das cenas, das situações, dos caminhos para o próximo filme. Se você não viu e não quer saber o que acontece, não leia antes de ver!

AVISO #2: Eu não sou crítico de cinema e nem pretendo ser, esse blog é a minha opinião sobre as coisas. No caso de Star Wars, meu lado "fanboy" também se manifesta, obviamente, como vcs podem ter lido nos textos anteriores. Mas tentarei não ser o chato do "ai, que absurdo mudar a cor da sola do sapato do Almirante Ackbar, odiei" (a menos que estritamente necessário) ☺




sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Blade Runner 2049 (2017)


Há alguns anos, eu escrevi aqui no blog ESSE texto sobre Blade Runner, o original. Nele eu elencava várias razões pelas quais eu não tinha gostado do filme quando vi naquela época. Recentemente, assisti à versão original dele, com narração e final feliz, e relacionando as duas versões, consegui entender e gostar mais do filme. Mas o que de fato me fez gostar mesmo dele, finalmente, foi Blade Runner 2049.

O filme segue a história do original, 30 anos depois: os replicantes foram proibidos de serem fabricados em 2022, após executarem um atentado terrorista que criou um grande blecaute que durou dias e apagou praticamente todos os dados armazenados no planeta. Apenas alguns anos depois, o empresário Niander Wallace (Jared Leto), depois de desenvolver tecnologias de bioengenharia para acabar com uma grande fome, ficou bilionário, adquiriu a Tyrell Corporation (que fabricava os replicantes originais) e conseguiu autorização para voltar a fabricá-los. No entanto, os antigos replicantes, com poucas ferramentas de controle, continuam sendo perseguidos pelos famosos Blade Runners.


O filme é maravilhoso. Ele completa, engrandece e continua a história do primeiro, sendo ao mesmo tempo respeitoso e inovador. Leva os acontecimentos do primeiro por caminhos novos, mas que se entrelaçam com o passado. Mostra a mesma Los Angeles vazia e escura do primeiro filme, mas sob outro olhar. Mostra com calma, quase contemplação, a jornada de K (Ryan Gosling), um Blade Runner que descobre um segredo que pode causar uma guerra entre humanos e replicantes. Essa jornada visita novos e antigos lugares, e mostra como os destinos daqueles e de outros personagens voltam a colidir tantas décadas depois.

Boa parte do mérito vai para o diretor Dennis Villeneuve, de filmes como A Chegada e O Homem Duplicado. Assim como em seus filmes anteriores, ele consegue criar uma história intrincada, porém de forma ao mesmo tempo calma mas não didática demais. As 2 horas e 43 minutos de filme não apenas passam suaves, como você se pega torcendo para que o filme não acabe. Ele não está apenas contando uma história, está relembrando, criando e mostrando aquele universo para quem ficou 35 anos sem ter notícias dele. O cuidado com as referências e a evolução do ambiente é visível, e você se sente na Los Angeles daquele universo, mas 30 anos depois. Um exemplo são as cenas entre K e Joi (Ana de Armas), especialmente a linda cena de amor entre os dois.



Mas claro, a jornada também tem que valer a pena. E Villeneuve faz isso com muita competência. A história também se desfralda sem pressa, se explicando aos poucos, com paciência mas sem floreios. Tudo eventualmente acaba se encaixando e fazendo sentido, e se algo parece estranho em um momento, vai acabar sendo explicado depois. A motivação inicial se encaixa perfeitamente no primeiro filme, é surpreendente, e, na minha opinião, muito bem pensada. E se desenvolve muito bem, em camadas e desdobramentos que não deixam o ritmo do filme perder fôlego. Obviamente, não é um filme de ação, mas te deixa tenso praticamente o tempo todo, mesmo assim.

Outra coisa que vem muito forte do primeiro filme, embora sob outra ótica, é o questionamento do que é ser humano. Qual a diferença entre o humano "nascido" e o "construído"? Por que os últimos têm que se sujeitar às ordens e aos trabalhos rejeitados pelos primeiros? Por mais que agora seja mais fácil identificar um replicante (embora haja uma "releitura" do teste de Voight-Kampff), o conflito entre os humanos e os "sem-alma", mas muitas vezes mais humanos, replicantes sob o ponto de vista existencial continua guiando o filme, de formas diversas (e diferentes do primeiro filme).


As atuações eram um ponto que me preocupava um pouco. Não sou o mais fã de Ryan Gosling, peguei uma bronca razoável de Jared Leto, e tenho certo medo quando Harrison Ford entra no automático. Pois esse medo aqui é plenamente injustificado: os três estão em papéis completamente aderentes a essas características (Gosling é o Blade Runner que pouco demonstra emoções, Leto é o bilionário que se acha Deus, e Ford, bem, Ford é Deckard). Mas o destaque mesmo é o elenco de apoio, quase totalmente de mulheres: Robin Wright (a policial chefe de K), Ana de Armas, Sylvia Hoeks (impressionante como Luv, a assistente replicante de Wallace), Mackenzie Davis (uma prostituta que cresce na história, e tem talvez a cena mais bonita do filme) e Carla Juri (uma designer de lembranças para os replicantes) roubam a cena em papéis maiores ou menores, porém todas com extrema importância para a história e o universo. Até Edward James Olmos (Gaff) e Sean Young (Rachael) têm suas participações, aumentando mais ainda a sensação de continuidade com relação ao filme original.


O visual é um dos principais trunfos do filme. A fotografia busca inspiração no visual caótico, noturno e chuvoso do primeiro filme, porém cria novos cenários, expandindo aquele mundo para outros ambientes, outras pessoas, outros mundos ali dentro. E tudo se justifica. Não há o mundo ensolarado e bucólico do final do filme original, porém finalmente vemos que as ruas apertadas e visualmente poluídas não são os únicos lugares disponíveis. Assisti ao filme no IMAX, e recomendo bastante, pois traz uma amplitude e imersão que ajudam bastante a "entrar" no filme. O 3D é discreto mas não incomoda. A trilha sonora está à altura: Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch ajudam a criar a atmosfera, e trazem inclusive alguns toques do original de Vangelis, especialmente nos momentos mais conectados com o filme anterior. Confesso que senti um pouco de falta daqueles temas, mas o trabalho deles é impecável. E ainda tem Elvis, Sinatra, Righteous Brothers em momentos-chave.

Difícil apontar pontos negativos no filme. Alguns detalhes da história soam um pouco forçados, embora boa parte deles se explique mais adiante. Fora isso, fazia tempo que eu não saía do cinema tão maravilhado. Definiria Blade Runner 2049 como uma verdadeira experiência cinematográfica. Não é algo que se tem todo dia, mas é daqueles momentos que ficam na mente por muito tempo. Não se esvaem como lágrimas na chuva.

Nota: 9,4 (8o lugar na minha lista de melhores filmes)


sábado, 10 de junho de 2017

Mais Estranho Que a Ficção (Stranger Than Fiction, 2006)





Não é muita novidade eu dizer aqui que adoro filmes com situações inusitadas, formas criativas de contar a história. Por isso, na época que esse filme foi lançado, imediatamente me interessou, por contar a história de Harold Crick, um auditor da receita com uma vida extremamente desinteressante e monótona, que um dia começa a ouvir uma narração em off de sua vida. Pior: a narração diz que ele vai morrer em breve.

Não é uma história criativa e com potencial? Eu me interessei imediatamente. Porém, acabei não vendo na época, e só assisti mais de 10 anos depois, essencialmente por causa de um problema:

                                    

Will Ferrell.

Eu me considero uma pessoa que gosta de comédias, sejam as mais inteligentes (Como Feitiço do Tempo, por exemplo), satíricas (Dr. Fantástico), escrachadas (Corra Que a Polícia Vem Aí), idiotas (Um Morto Muito Louco). Admiro muito bons atores de comédia, até porque, como já disse em outro post, o ator de comédia tem que ser muito mais versátil, já que os dramas clássicos têm a mesma estrutura desde milhares de anos atrás, enquanto a comédia que mais agrada muda completamente em questão de anos, ou de uma geração para outra.

E eu acho Will Ferrell um comediante tão ruim que isso me afastou do filme. Não consigo suportar os papéis dele em O Âncora, Ricky Bobby, e outras comédias em que ele faz sempre o tipo do bobo que se leva a sério. Acho que não tem graça, timing, nada. Nem no clássico "What is Love" do Saturday Night Live ele consegue se destacar minimamente:




No entanto, nesse filme, em um papel mais "contido", ele está muito bem. Assim como Jim Carrey, que na minha opinião é muito melhor ator dramático do que de comédia, Ferrell não compromete, e convence no papel de alguém que sempre teve tudo sob controle e de repente descobre algo tão extraordinário que começa a mudar. A química entre ele e Maggie Gyllenhall é ok, suficiente para que acreditemos em um romance pouco ortodoxo que aos poucos surge no filme.

E a história vai muito bem também, ao contrário de alguns filmes que pegam uma ideia criativa mas não sabem desenvolvê-la. Emma Thompson (no papel da autora que mata todos os "herois" de seus livros e quer matar Harold mesmo sabendo que ele é real) e Dustin Hoffman (como um professor de literatura que ajuda Harold) roubam todas as cenas em que aparecem, e você fica não apenas querendo saber o que vai acontecer com Harold como imaginando como seria a narração da sua vida e como você reagiria a ela.



Curioso como a gente pega bronca de um ator ou atriz e torce o nariz pra um filme só de saber que a pessoa está nele (estou falando com você, Nicolas Cage). Nesse caso, foram 10 anos que perdi de ter visto um filme tão interessante. E se tem algo que eu já devia ter aprendido sobre cinema, é que o único que se dá mal quando eu tenho algum preconceito sou eu mesmo.

Nota: 7,0

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013)


Outro dia, quando falei de Lucy, prometi que voltaria ao tema ficção, mas dessa vez para falar de bons filmes. Claro, já falei de alguns, como De Volta para o Futuro, Gravidade e O Império Contra-Ataca, mas sempre é bom destacar filmes inteligentes, especialmente aqueles que não ficaram tão conhecidos quado saíram.

Já esse Expresso do Amanhã (que nominho em português, hein?) nem é bem uma ficção científica. Está mais para um sub-gênero que eu adoro, o "futuro pós-apocalíptico". Baseado em uma HQ francesa, o filme se passa em 2031, em um mundo onde a humanidade, buscando acabar com o aquecimento global, acidentalmente congelou tudo. Os únicos sobreviventes estavam por acaso em um trem, auto-suficiente, que dá uma volta ao mundo por ano, e onde se criou um "micro-universo", com ricos, pobres, colheitas, prisões, desigualdades.


Curtis (Chris Evans, excelente) é o jovem líder dos moradores do fundo do trem, marginalizados e explorados pela elite dos vagões da frente. Periodicamente, crianças são sequestradas e levadas, e um desses sequestros desencadeia uma revolução, que busca tomar o poder no trem. Obviamente, nem tudo é o que parece, e nesse processo, Curtis conhecerá e aprenderá coisas que não imaginava. No elenco, também aparecem John Hurt, como o antigo líder e mentor de Curtis; Tilda Swinton, em atuação fantástica, é uma das líderes da elite; além de Ed Harris, Viola Davis, Alison Pill também em bons papéis.

Pessoalmente, eu sou fã tanto de histórias pós-apocalípticas (como o ótimo Filhos da Esperança), como de "micro-universos", onde alguma restrição faz com que o mundo, restrito a um espaço confinado, se desenvolva com suas próprias regras. Os 12 Macacos, Metro 2033 são excelentes exemplos. Este Expresso da Amanhã é outro que vale muito a pena.


Além da premissa inteligente, a história se desenvolve de maneira muito interessante. Aqui sim, o conceito de suspensão de descrença funciona bem. Se você acredita que um trem é o último bastião de sobrevivência se movendo pelo mundo sem parar há 19 anos, e que, como foi construído para ser autossustentável, consegue manter a vida de quem está dentro dele, você está pronto para gostar do filme. Porque é um excelente estudo de sociedade, além de uma experiência visual e narrativa surpreendente. Sem pressa, o diretor Joon-Ho Bong vai mostrando os detalhes do funcionamento tanto do trem como da sociedade, e deixando claras as escolhas e sacrifícios que são feitos por cada um. O filme, uma produção americana e européia com um diretor sul-coreano, aproveita muito bem todas essas heranças: a ação e visual dos filmes americanos, o choque social dos filmes europeus, e a estranheza e finais inesperados dos filmes coreanos.

Portanto, se você passou pelo filme na lista do Netflix, se interessou e colocou na lista, ou mesmo o deixou perdido no meio daquela imensidão, pense novamente: atrás de uma cara de ficção genérica com o carinha do Capitão América pode estar uma grata surpresa.

Nota: 8,5 (42o. colocado na minha lista de filmes favoritos)