sábado, 10 de junho de 2017

Mais Estranho Que a Ficção (Stranger Than Fiction, 2006)





Não é muita novidade eu dizer aqui que adoro filmes com situações inusitadas, formas criativas de contar a história. Por isso, na época que esse filme foi lançado, imediatamente me interessou, por contar a história de Harold Crick, um auditor da receita com uma vida extremamente desinteressante e monótona, que um dia começa a ouvir uma narração em off de sua vida. Pior: a narração diz que ele vai morrer em breve.

Não é uma história criativa e com potencial? Eu me interessei imediatamente. Porém, acabei não vendo na época, e só assisti mais de 10 anos depois, essencialmente por causa de um problema:

                                    

Will Ferrell.

Eu me considero uma pessoa que gosta de comédias, sejam as mais inteligentes (Como Feitiço do Tempo, por exemplo), satíricas (Dr. Fantástico), escrachadas (Corra Que a Polícia Vem Aí), idiotas (Um Morto Muito Louco). Admiro muito bons atores de comédia, até porque, como já disse em outro post, o ator de comédia tem que ser muito mais versátil, já que os dramas clássicos têm a mesma estrutura desde milhares de anos atrás, enquanto a comédia que mais agrada muda completamente em questão de anos, ou de uma geração para outra.

E eu acho Will Ferrell um comediante tão ruim que isso me afastou do filme. Não consigo suportar os papéis dele em O Âncora, Ricky Bobby, e outras comédias em que ele faz sempre o tipo do bobo que se leva a sério. Acho que não tem graça, timing, nada. Nem no clássico "What is Love" do Saturday Night Live ele consegue se destacar minimamente:




No entanto, nesse filme, em um papel mais "contido", ele está muito bem. Assim como Jim Carrey, que na minha opinião é muito melhor ator dramático do que de comédia, Ferrell não compromete, e convence no papel de alguém que sempre teve tudo sob controle e de repente descobre algo tão extraordinário que começa a mudar. A química entre ele e Maggie Gyllenhall é ok, suficiente para que acreditemos em um romance pouco ortodoxo que aos poucos surge no filme.

E a história vai muito bem também, ao contrário de alguns filmes que pegam uma ideia criativa mas não sabem desenvolvê-la. Emma Thompson (no papel da autora que mata todos os "herois" de seus livros e quer matar Harold mesmo sabendo que ele é real) e Dustin Hoffman (como um professor de literatura que ajuda Harold) roubam todas as cenas em que aparecem, e você fica não apenas querendo saber o que vai acontecer com Harold como imaginando como seria a narração da sua vida e como você reagiria a ela.



Curioso como a gente pega bronca de um ator ou atriz e torce o nariz pra um filme só de saber que a pessoa está nele (estou falando com você, Nicolas Cage). Nesse caso, foram 10 anos que perdi de ter visto um filme tão interessante. E se tem algo que eu já devia ter aprendido sobre cinema, é que o único que se dá mal quando eu tenho algum preconceito sou eu mesmo.

Nota: 7,0

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013)


Outro dia, quando falei de Lucy, prometi que voltaria ao tema ficção, mas dessa vez para falar de bons filmes. Claro, já falei de alguns, como De Volta para o Futuro, Gravidade e O Império Contra-Ataca, mas sempre é bom destacar filmes inteligentes, especialmente aqueles que não ficaram tão conhecidos quado saíram.

Já esse Expresso do Amanhã (que nominho em português, hein?) nem é bem uma ficção científica. Está mais para um sub-gênero que eu adoro, o "futuro pós-apocalíptico". Baseado em uma HQ francesa, o filme se passa em 2031, em um mundo onde a humanidade, buscando acabar com o aquecimento global, acidentalmente congelou tudo. Os únicos sobreviventes estavam por acaso em um trem, auto-suficiente, que dá uma volta ao mundo por ano, e onde se criou um "micro-universo", com ricos, pobres, colheitas, prisões, desigualdades.


Curtis (Chris Evans, excelente) é o jovem líder dos moradores do fundo do trem, marginalizados e explorados pela elite dos vagões da frente. Periodicamente, crianças são sequestradas e levadas, e um desses sequestros desencadeia uma revolução, que busca tomar o poder no trem. Obviamente, nem tudo é o que parece, e nesse processo, Curtis conhecerá e aprenderá coisas que não imaginava. No elenco, também aparecem John Hurt, como o antigo líder e mentor de Curtis; Tilda Swinton, em atuação fantástica, é uma das líderes da elite; além de Ed Harris, Viola Davis, Alison Pill também em bons papéis.

Pessoalmente, eu sou fã tanto de histórias pós-apocalípticas (como o ótimo Filhos da Esperança), como de "micro-universos", onde alguma restrição faz com que o mundo, restrito a um espaço confinado, se desenvolva com suas próprias regras. Os 12 Macacos, Metro 2033 são excelentes exemplos. Este Expresso da Amanhã é outro que vale muito a pena.


Além da premissa inteligente, a história se desenvolve de maneira muito interessante. Aqui sim, o conceito de suspensão de descrença funciona bem. Se você acredita que um trem é o último bastião de sobrevivência se movendo pelo mundo sem parar há 19 anos, e que, como foi construído para ser autossustentável, consegue manter a vida de quem está dentro dele, você está pronto para gostar do filme. Porque é um excelente estudo de sociedade, além de uma experiência visual e narrativa surpreendente. Sem pressa, o diretor Joon-Ho Bong vai mostrando os detalhes do funcionamento tanto do trem como da sociedade, e deixando claras as escolhas e sacrifícios que são feitos por cada um. O filme, uma produção americana e européia com um diretor sul-coreano, aproveita muito bem todas essas heranças: a ação e visual dos filmes americanos, o choque social dos filmes europeus, e a estranheza e finais inesperados dos filmes coreanos.

Portanto, se você passou pelo filme na lista do Netflix, se interessou e colocou na lista, ou mesmo o deixou perdido no meio daquela imensidão, pense novamente: atrás de uma cara de ficção genérica com o carinha do Capitão América pode estar uma grata surpresa.

Nota: 8,5 (42o. colocado na minha lista de filmes favoritos)